Presidente eleito da Ucrânia é senhor da guerra e dos mercenários

O governo de Kiev, com o acordo implícito do presidente eleito Pietro Poroshenko, decidiu pagar um salário 17 vezes superior ao salário médio do país aos membros dos contingentes armados que pretendem derrotar “os bandidos” no Leste da Ucrânia, qualificação usada contra todos os que se opõem ao regime resultante do golpe de Estado.

Por Castro Gomez, de Donetsk para o Jornalistas sem Fronteiras

Ucrânia - Sergey Dolzhenko/EPA

A decisão foi tomada “para aumentar a motivação” dos que combatem no Leste e Sudeste da Ucrânia para tomar o controle da região e fazer aplicar o regime implantado em Kiev. A justificação foi dada pelo ministro da Defesa, Mikhail Koval, um dos membros proeminentes da corrente fascista que controla o aparelho militar e de segurança do novo regime.

“Foi dado um golpe nas poucas esperanças que pudessem restar quanto à possibilidade de o novo presidente assumir uma posição que o diferenciasse do comportamento do regime assumido até agora”, diz Anatoly Komorov, um analista político de Donetsk que ainda acreditava na possibilidade de um diálogo capaz de construir uma solução pacífica.

“Vendo bem”, acrescentou, “eram falsas esperanças. E o que agora foi anunciado não é mais do que estender às forças armadas regulares recrutadas no Ocidente do país o espírito mercenário que as gangues fascistas instalaram em Kiev, exemplificado pela forma como criaram a Guarda Nacional, onde integraram os grupos de assalto bandeiristas, e entregaram a gestão da segurança de algumas regiões do país a empresas privadas estrangeiras”. Portanto, deduziu Anatoly Komorov, “Poroshenko é apenas mais um senhor da guerra”.

Os membros dos grupos armados que combatem no Leste contra as milícias antifascistas vão passar a receber 20000 hrivnyi, que correspondem a cerca de 1250 euros [R$ 3.860] mensais, num país onde o salário médio é inferior a 75 euros.

“Este salário pago aos que têm como missão espalhar a morte e a destruição entre pessoas que pensam e falam de maneira diferente é uma fortuna, um insulto e um crime num país mergulhado na miséria,” segundo Svetlana Vlukovna, professora universitária na área da Sociologia.

“É fácil concluir”, acrescentou, “que se a Ucrânia vive grandes dificuldades financeiras este dinheiro está sendo retirado da chamada ‘ajuda’ que o Fundo Monetário Internacional e países da União Europeia começaram a enviar para Kiev depois do golpe. Pagar uma operação de genocídio e de limpeza étnica não incomoda, pelos vistos, muitos dos dirigentes que se dizem autoridades em direitos humanos”.

*Título original: "Poroshenko: Senho da guerra e dos mercenários"

Fonte: Jornalistas sem Fronteiras