Putin na Normandia: depois das reuniões permanece a incógnita

Começaram na Normandia as comemorações por ocasião dos 70 anos do desembarque das tropas aliadas, mas apesar de toda a importância do evento, a mídia internacional desta vez está menos interessada nas comemorações. Sua atenção está voltada para os encontros dos líderes ocidentais com Vladimir Putin.

Vladimir Putin em visita à França - RIA Novosti/Alexei Nikolsky

Os últimos acontecimentos da Europa Central tiveram reflexos na composição dos participantes das cerimônias solenes que decorrem na Normandia. A organização considerou necessário convidar o presidente eleito da Ucrânia. Aliás, já se sabia desde o início: a crise ucraniana será o tema principal de todos os encontros informais à margem das cerimônias.

O frenesim à volta da chegada de Putin a França é compreensível: este é o primeiro encontro do presidente russo com os parceiros ocidentais depois da reunificação da Crimeia com a Rússia. Segundo referem os analistas, uma oportunidade destas demorará muito tempo até surgir novamente. Na atual situação ninguém quer organizar visitas oficiais e não se prevêem outras datas comemorativas que proporcionem encontros de bastidores. Assim, os líderes decidiram aproveitar esta oportunidade.

Putin se encontrou, logo após a chegada a Paris na quinta-feira, com o premiê britânico David Cameron. Um pouco mais tarde, já no Palácio do Eliseu, o líder russo trocou impressões com o seu homólogo francês François Hollande. Os próprios líderes não comentaram os resultados das reuniões. Já a declaração sobre ambos os encontros proferida pelo secretário de imprensa do presidente russo Dmitri Peskov foi lacônica.

Segundo informou Peskov, os líderes discutiram as perspectivas das relações bilaterais e as possibilidades de regularização da crise na Ucrânia. Os jornalistas esperavam que haveria mais revelações depois da agradável conversa entre dois velhos amigos – Vladimir Putin e a chanceler alemã Angela Merkel. Esta reunião decorreu na estância turística de Deauville. Para desapontamento dos representantes da mídia, também este encontro decorreu à porta fechada. Os serviços de imprensa informaram que os líderes procuraram “soluções e compromissos” para a resolução do problema ucraniano.

Não há nada de estranho no “secretismo” dessas negociações. Na opinião dos analistas, o objetivo dessas conversas não foi a busca de quaisquer soluções radicais, mas antes uma tentativa de definir o status quo. Ninguém está interessado na continuação da escalada desse conflito. A Rússia não quer dar novos pretextos para debates sobre mais sanções. Já a Europa tenta travar por todos os meios esse processo, considerando que as sanções afetam negativamente seus próprios interesses.

Contudo, segundo referem alguns peritos, Angela Merkel pode vir a desempenhar o papel de intermediária nas negociações entre a Rússia e os EUA. Não foram planejadas reuniões oficiais entre Putin e Obama. Os líderes da Rússia e dos EUA irão, porém, estar presentes no almoço solene e os peritos não excluem a possibilidade de mais um encontro de bastidores. Tanto mais que, pela primeira vez depois do início da crise ucraniana, Obama reconheceu o direito da Rússia a defender seus interesses numa relação com os acontecimentos no leste da Ucrânia.

Um outro fator intrigante é a possibilidade de um encontro do líder russo com o recém-eleito presidente da Ucrânia Piotr Poroshenko. Os observadores referiam que mesmo que eles troquem duas frases, isso será visto como um sinal por parte de Putin que Moscou está disposta a dialogar com Kiev. E eis que eles realmente trocaram várias frases, antes do almoço oficial oferecido pelo presidente francês.

Se bem que o presidente russo tenha ainda na véspera declarado na sua entrevista à televisão TF1 e à rádio Europe 1 que a Rússia iria cooperar com as novas autoridades ucranianas, porque respeita a escolha do povo ucraniano. Putin sublinhou que durante a visita à Normandia não tencionava fugir de ninguém e que iria falar com todos. Moscou espera que as recordações comuns sobre os acontecimentos de há 70 anos sejam mais um motivo para evitar novos conflitos no continente europeu e para encontrar caminhos para o restabelecimento da paz na Ucrânia.

Fonte: Voz da Rússia