"Relógio do Sul" tem sentido anti-horário e indica mudança na Bolívia

Os ponteiros do relógio da fachada do Legislativo boliviano, em La Paz, estão girando em sentido anti-horário desde a terça-feira (23). Os números também foram invertidos e confundiram alguns desavisados que passavam pela Plaza Murillo. A mudança é proposital e trata-se de uma ação do governo do país, que passou a considerar o medidor de tempo como um símbolo de mudança política.

Relógio do Sul Bolívia - AP Photo/Juan Karita

O ministro das Relações Exteriores, David Choquehuanca, e o presidente do Senado, Eugenio Rojas, ambos indígenas aimarás (mesma etnia do presidente Evo Morales), falaram sobre a iniciativa, batizada de "Relógio do Sul".

Segundo eles, o objetivo é conscientizar a população de que a Bolívia é uma nação do sul e não do norte, por isso a forma de registrar o tempo nos relógios deve ser diferente, como acontece com o solstício e o equinócio.

"Não temos que complicar, simplesmente nos conscientizar que vivemos no sul. Não estamos no norte", disse Choquehuanca, que insistiu que a iniciativa, longe de pretender "causar algo a alguém", pretende revalorizar a cultura nacional.

"Quem disse que o relógio tem que girar desse lado sempre? Por que sempre temos que obedecer, por que não podemos ser criativos?", questionou o ministro boliviano. O relógio do edifício do Legislativo foi alterado quando começou o inverno no hemisfério sul, explicou Rojas.
Segundo esta nova configuração, os ponteiros giram à esquerda para contar as horas.

Choquehuanca revelou que na recente celebração da Cúpula dos países do G77 e a China, na Bolívia, quase todas as delegações receberam um relógio de mesa com estas características, em forma de mapa boliviano e que incluía o território litorâneo que o país perdeu em uma guerra contra o Chile em 1879.

O chanceler boliviano admitiu que a ideia não é absolutamente original, mas ressaltou que essa foi uma criação vinculada à identidade do sul. As autoridades bolivianas devem trabalhar para aumentar essa consciência, mas não impor nenhuma mudança para as pessoas, porque o relógio anti-horário representa "uma sacudida no cérebro".

Segundo o ministro, a iniciativa está no contexto de outros avanços do reconhecimento da cultura andina, como o uso da bandeira indígena whipala (quadriculada e colorida, utilizada também pelos movimentos camponeses), hoje um símbolo nacional reconhecido na Constituição.

Choquehuanca também citou a folha de coca, protegida pela Carta Magna, as campanhas a favor da Madre Tierra, ou Pachamama, e a revalorização da quinoa.

O chanceler boliviano ressaltou a necessidade de uma mudança de mentalidade para entender essas propostas e de estimular o funcionamento dos dois hemisférios do cérebro para entender "os relógios do sul".

No relógio do Congresso, os números arábicos foram pintados sobre os romanos, que ainda podem ser vistos.

Da redação do Portal Vermelho,
Com informações de agências de notícias