Jovens colonos são encontrados mortos e Israel deve elevar agressão

Além da tensão elevada pela operação militar lançada por Israel na Cisjordânia, sob o pretexto do sequestro de três colonos, a situação na Faixa de Gaza deteriora. No domingo (29), a Força Aérea de Israel fez mais ataques no que a mídia nacional classificou de “resposta” a foguetes palestinos. Na segunda-feira (30), o premiê Benjamin Netanyahu fez ameaças que remetem a um passado recente fatal, e os três jovens colonos foram encontrados mortos.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

Israel - AFP

Não são raras as análises da cobertura midiática no contexto da escalada das tensões e da violência de Israel contra os palestinos. Tudo se resume à manipulação do direito internacional e dos seus princípios para justificar operações altamente letais contra um povo há anos já ocupado, já sitiado. A resposta defensiva dos palestinos a estas condições são deslegitimadas pelo discurso oficial israelense, frequentemente reproduzido pela mídia nacional e pela internacional, salvo insuficientes exceções.

As tensões aumentam a partir da notícia, divulgada na tarde desta segunda, de que os corpos dos três colonos israelenses – Eyal Yifrah, de 19 anos de idade, Gilad Shaar e Naftali Fraenkel, ambos de 16 – que estavam desaparecidos há 18 dias foram encontrados ao norte de Hebron, próximos à colônia judia de Karmei Tzur e da cidade palestina Halhul, de acordo com o jornal israelense Haaretz.

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A operação militar "Guardião Fraternal" (relativa à expressão bíblica "Eu sou o guardião do meu irmão", sobre Caim e Abel) foi lançada por Israel contra a Cisjordânia há mais de duas semanas e já matou cerca de 10 pessoas – inclusive Mohammed Dudin, de 15 anos de idade, e outros jovens – e deteve mais de 560 palestinos de forma arbitrária, inclusive mulheres e crianças, além de parlamentares. Nada de novo, não fosse a escala massiva dos eventos e a intensificação do cerco aos palestinos, enfrentando até toques de recolher.

Os resultados, como era de se esperar, inflamaram também os palestinos da Faixa de Gaza, bloqueada há anos e cuja população enfrenta diariamente a chamada “punição coletiva”, por ser governada por um partido que Israel e seus aliados ocidentais insistem em classificar de “organização terrorista”, o Hamas. A reintegração do partido islâmico, que também conta com um ramo armado pela resistência, ao governo palestino – após a reconciliação que pretende encerrar sete anos de ruptura política – foi a gota d’água para o que o direito internacional denomina “potência ocupante”, Israel.

O governo agressor israelense, chefiado por Netanyahu, não só fez ameaças reiteradas à Autoridade Nacional Palestina – órgão de autogoverno nos territórios palestinos ocupados, dependente de ajuda financeira internacional e criado no início da década de 1990 – como também apelou aos seus aliados, sem sucesso, contra o novo governo de unidade do Hamas e da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), da qual a ANP funcionaria como o Executivo transitório, segundo os Acordos de Oslo mediados, sobretudo, pelos EUA.

A mídia israelense, em geral, ativa seu “modo de guerra de reportagem” e “esclarece”, sempre, que os ataques e a opressão de Israel contra os palestinos são “respostas” às “ameaças securitárias” e aos ataques “terroristas”. Todas as vítimas palestinas, para este efeito, tornam-se também inerentemente ligadas aos “terroristas”, de qualquer maneira. Já as israelenses são residentes de “comunidades”, são “civis” e são “inocentes”.

Foi como se deu a matéria de sábado (28) do jornal líder em audiência Yedioth Ahronoth sobre o ataque aéreo a Gaza, que matou “seletivamente” duas pessoas. Para o jornal, não eram pessoas, mas “terroristas”, e os danos à infraestrutura civil, inclusive a residências, com grande frequência, são colaterais e justificáveis.

A trágica notícia sobre a morte dos três jovens israelenses, de “comunidades” integrantes de um bloco de 22 colônias, Gush Etzion, com cerca de 70 mil habitantes, é mais um alerta – assim como já deviam ter sido as inúmeras mortes palestinas – sobre a agressividade da e a insustentabilidade ocupação, embora ainda não tenham sido encontrados os responsáveis. Assim como não se responsabilizaram os soldados responsáveis pelas mortes palestinas e pelos abusos que eles cometem diariamente, com torturas e humilhação como práticas cotidianas. 

O presidente Shimon Peres, que foi recentemente ao Vaticano a convite do Papa Francisco para "rezar pela paz", disse que resposta israelense será "dura", enquanto a extrema-direita pediu – durante uma reunião de emergência do gabinete de governo – a destruição do Hamas e os "assassinatos seletivos". Apesar dos apelos internacionais por diplomacia e das evidências sobre a insustentabilidade da ocupação, a resposta de Israel será, novamente, mais agressão e mais crimes contra os palestinos.