Ataques de Israel matam mais palestinos e líderes apelam por justiça

Outra série de ataques aéreos israelenses contra a Faixa de Gaza, neste domingo (6), matou nove palestinos. Ainda, dois trabalhadores foram mortos em Haifa, Israel, atropelados por um israelense com um caminhão, de acordo com a polícia local. Nas últimas semanas, porém, a escalada da violência contra os palestinos não pode ser confundida com uma novidade: a ocupação e a agressão israelenses são cotidianas, embora pontualmente intensificadas.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

Faixa de Gaza ataques de Israel - Middle East Monitor

O assassinato dos dois trabalhadores palestinos em Haifa – território assignado a Israel quando o Estado foi criado em mais de 70% da Palestina histórica, em 1948 – é uma sequência na disseminação dos discursos de ódio por líderes e grupos israelenses, após o desaparecimento e a morte de três colonos adolescentes, na Cisjordânia, há três semanas. O que se seguiu foi mais uma demonstração da punição coletiva dos palestinos – violação grave do direito internacional – por um crime que ainda não foi solucionado.

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Outras vítimas incluem Mohammed Abu Khdeir, de 15 anos de idade, que foi queimado vivo. Seu corpo foi encontrado na semana passada, provavelmente assassinado por extremistas judeus, segundo fontes oficiais, que citam a "vingança" ou "razões nacionalistas" como motivação. Além disso, numa batida pelo bairro de Mohammed, Shoufat, na Jerusalém Oriental palestina, ocupada e anexada ilegalmente por Israel, as tropas da ocupação também prenderam várias pessoas, com vídeos que mostram a brutalidade das ações. Quase 700 palestinos foram detidos nas últimas semanas, inclusive crianças, mulheres e parlamentares.

No fim de semana, a detenção de Tarek Abu Khdeir, um palestino de cidadania estadunidense, de 15 anos de idade, pareceu atrair a atenção de parlamentares norte-americanos, o que pode fazer com que o aliado de Israel faça mais do que emitir declarações tendenciosas. Logo após a descoberta das mortes dos três colonos, o governo dos Estados Unidos afirmou o seu “repúdio” contra as “ações terroristas” e à violência “contra jovens inocentes”.

Tarek é primo de Mohammed, que foi velado na sexta-feira (4), em meio aos crescentes protestos dos palestinos contra a abusiva operação militar israelense, lançada em 12 de junho, quando os três colonos foram dados como desaparecidos. Antes de ser detido, Tarek foi espancado por dois soldados, quando já estava algemado. O vídeo, que contém imagens fortes, foi divulgado pela mídia palestina, reproduzido por portais israelenses e anexado a uma matéria recente do Portal Vermelho.

Testemunhas citadas pelo portal Modoweiss afirmam que o adolescente não recebeu tratamento pelos graves ferimentos na cabeça e no rosto até que, cinco horas depois de ser detido, foi transferido a um hospital e, depois, enviado ao Centro de Detenção do Complexo Russo, conhecido por interrogatórios brutais, onde outro adolescente, Rasmi Al-Rashq, de 14 anos de idade, afirmou ter sido torturado, em fevereiro.

Entre os mortos em Gaza estão dois palestinos atingidos em um ataque aéreo contra o campo de refugiados de Al-Bureij: Mazen al-Jarba, de 30 anos de idade, e Marwan Salim, de 23. Seis outras pessoas morreram quando um túnel subterrâneo da passagem de Rafah, ao sul, foi atingido. Ibrahim Al-Bal'awi, Abderrahman el-Zamly, Mustafa Abu-Mur, Khaled Abu-Mur, Sarif Ghneem e Gumaa Abu-Shallouf tinham entre 22 e 24 anos de idade, de acordo com o jornalista Majed Abusalama, que reside em Gaza, em contato com o Vermelho.

Responsabilizar Israel pelos crimes contra os palestinos

Em resposta à morte de Mohammed, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) – cuja Assembleia Geral já recebeu, nos últimos 14 anos, cerca de 500 cartas das autoridades palestinas a respeito da violência da ocupação israelense – emitiu uma declaração em que manifesta seu “profundo pesar” pela vítima de um “ato hediondo” e sublinha a “necessidade de levar os responsáveis por este ato deplorável à justiça”, além de pedir a “calma imediata”. Trata-se do mesmo Conselho que, impedido pelos Estados Unidos, enquanto membro permanente, tem negligenciado sistematicamente os graves crimes cometidos cotidianamente pela ocupação israelense contra os palestinos.

No final de junho, a representação palestina na ONU enviou mais uma carta à Assembleia Geral sobre a crise contínua. As 500 cartas, datadas de 19 de setembro de 2000 a 20 de junho de 2014 “constituem um histórico básico dos crimes cometidos por Israel, a potência ocupante, contra o povo palestino,” afirma o último documento, divulgado na página da Missão Permanente de Observação do Estado da Palestina na ONU. “Por todos esses crimes de guerra, atos de terrorismo de Estado e violações sistemáticas dos direitos humanos cometidos contra o povo palestino, Israel, a potência ocupante, precisa ser responsabilizado e os perpetradores devem ser levados à justiça.”

Entretanto, mais de duas semanas depois, a situação continua agravada, com o número de mortes entre os palestinos já em cerca de 20 pessoas, tanto devido aos ataques aéreos contra a Faixa de Gaza – em que Israel diz “responder às ações terroristas” do Hamas, partido à frente do governo no território litorâneo bloqueado há anos e que tem lançado foguetes contra o sul israelense – quanto à operação militar Guardião Fraterno (uma referência bíblica aos personagens Caim e Abel) lançada em 12 de junho por Israel na Cisjordânia.

De acordo com a agência palestina de notícias Wafa, o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP) Mahmoud Abbas pediu ao secretário-geral das Nações Unidas Ban Ki-moon, neste domingo (6), a investigação da recente escalada da violência israelense, com a formação de um comitê internacional que averigue os acontecimentos, enquanto instou a comunidade internacional a proteger o povo palestino diante das últimas demonstrações de brutalidade.

O governo brasileiro também se pronunciou sobre a morte dos três colonos adolescentes e a do jovem palestino. Na última, emitida através do portal do Itamaraty, o governo "manifesta forte repúdio ao sequestro e assassinato do jovem palestino vitimado em Jerusalém Oriental ocupada e expressa sua solidariedade à família da vítima. Ao externar profunda preocupação com a possibilidade de o assassinato do jovem palestino ter caráter retaliatório aos assassinatos dos três jovens israelenses, o governo brasileiro sublinha a necessidade de que os responsáveis sejam trazidos prontamente à justiça."

Além disso, diz a nota, "o governo brasileiro reitera que a solução de dois Estados, Israel e Palestina, convivendo em paz e segurança, requer a pronta retomada do processo de paz na região, que ponha fim ao ciclo de violência."