Ao Escrete, com carinho

Por Railídia Carvalho

Camisa da Seleção Brasileira
Hoje eu quero abraçar o escrete canarinho.
 
E agradecer.
Certamente muitos estão destilando um ódio de classes contra
o nosso selecionado e treinador.
 
“Prepotente!”, grasnam. E complementam com o bom e velho
sentimento de colonizados e baixa autoestima: “Jogadores sem brio, pulhas, decadentes”.
 
Mal se encerrou o jogo. Aquele editor correu à redação.
Queria ser o primeiro a estampar “Vergonha Nacional”. “Vexame”. “Humilhação”.
 
Considero que, entre as nações sul-americanas, seríamos a única a mandar o selecionado subir no cadafalso.
“Árbitro prejudica

Argentina. Antidoping revelará métodos alemães”, diria O Clarín.

“Após goleada, Uruguaios são recebidos por multidão em Montevidéo”, crava o El País.
Pois eu digo, amigos, o escrete precisa de carinho.
Provou em “terras estrangeiras” (porque jogar no Brasil é como estar no exílio – sempre Nelson Rodrigues,) que os nossos caboclos são o melhor do Brasil. Nossa qualidade só está no futebol porque está no homem brasileiro, herdeiro de tradições seculares e que nesta terra tropical produziram um povo de lutas, amável, festeiro e talentoso. 
 
Não é aquele que esteve nos estádios e gritou olé contra o selecionado. Esse, sim, um tipo forjado na desigualdade social brasileira e que se alimenta da injustiça social.
 
O nosso homem negro, branco, índio, sarará está nos recantos do Brasil, hoje, querendo pegar o escrete no colo. Com ternura, como os índios tratam suas crianças.
 
O selecionado foi valente durante todo o tempo. Em cada bote no adversário ou drible colocaram a alma, a paixão. Jogaram com as entranhas. As lágrimas dos nossos homens, de alegria e de tristeza, valem mais que todos os castelos europeus.
 
(*) Railídia Carvalho, é jornalista e cantora. Dirigente municipal do PCdoB de São Paulo é torcedora do Paysandu, de Belém do Pará, e apaixonada pela seleção canarinho.