AL: Modelo de mineração deve atender a interesses ambientais

O modelo de mineração que se sobrepõe na América Latina predispõe conflitos entre o empresariado e a sociedade civil organizada, onde os Estados, por não compreenderem a profundidade do problema, cedem a uma posição maniqueísta de inclinarem a balança somente para um dos setores. A conclusão é da Fundação Avina, que publicou um informe avaliando o atual contexto dessa indústria de extração de recursos naturais no continente.

Por Marcela Belchior, na Adital

mineiração - Reprodução

Segundo a organização, atualmente, deixa-se de abordar a mineração como uma atividade que ocasiona danos sociais e ecológicos para recriá-la como indústria de risco. Diante disso, a Avina defende que sejam promovidos planos de manejo do território onde uma inteligência adaptativa permita garantir convivências sustentáveis.

Para a Fundação, tanto os bens públicos naturais quanto os bens públicos institucionais são indispensáveis para o bem estar. "No entanto, a geração de riqueza produzida pelas atividades mineradoras, em muitos casos, atenta contra a sobrevivência dos bens públicos naturais e das comunidades e os ecossistemas que os rodeiam. É fácil, portanto, demonizar as indústrias extrativistas (e seus defensores) como um elemento de ruptura do balanceamento ambiental, cujo objetivo é o lucro sem importar as consequências”, defende.

A partir dessa hipótese, a Avina afirma que não pode haver outra solução que não a confrontação direta entre os setores. "Isso é exatamente o que sucede em muitos casos. A mineração de metais na condilheira andina limita o acesso à água potável por parte das comunidades adjacentes. A exploração de petróleo da selva amazônica afeta a biodiversidade das zonas onde se produz o desmonte para construir a infraestrutura que permite a extração”, aponta.

Dentre esses riscos causados pela mineração e demais indústrias extrativas, ainda que comportem grande potencial de desenvolvimento econômico para as áreas onde atua, estão: os conflitos sociais; deterioração da biodiversidade; manejo inadequado dos recursos hídricos; implementação desigual de modelos de transação econômicos e sociais, que, em seu conjunto, podem deixar vulneráveis os direitos humanos; e a dignidade humana.

Ainda assim, ressalva a Fundação, nem toda a indústria extrativa atua de maneira irresponsável. Da mesma forma, nem toda ação ambientalista ajuda a criar melhores condições ambientais. "É, portanto, necessário encontrar um modelo econômico de extração de recursos naturais que contemple o bem estar e a dignidade humana, que supere a limitada caricatura maniqueísta dos 'bons contra os maus' e que gere novos ecossistemas, onde todos os atores por igual se beneficiem da presença e da atuação dos demais”, recomenda.

Revisar a lógica de compreensão

Para evitar casos de desequilíbrio, a organização entende ser necessário revisar a lógica com que se aborda a indústria mineradora, deixando de compreendê-la como fonte de danos irreversíveis para encará-la como fonte de riscos gerenciáveis técnica, social e politicamente. "O impacto da atividade extrativa não necessariamente deve comprometer outras atividades econômicas presentes ou futuras, a integridade do ecossistema que o rodeia ou o bem estar das comunidades adjacentes”, explica a Fundação.