Vladimiro Vale: Em Portugal, devemos lutar todos os dias

O Partido Comunista Português tem vindo a denunciar que a política de direita e de abdicação nacional, ao serviço dos grandes grupos econômicos, conduziu o país à mais grave situação econômica e social do Portugal democrático.

Por Vladimiro Vale*, no Avante!

Portugal - EFE

O Governo recorre à mentira e adulteração de dados econômicos para passar a ideia de que existe uma recuperação econômica, de que "valeram a pena os sacrifícios" e de que "quem põe em causa a ideia da recuperação econômica está desvalorizando o esforço dos portugueses."

Todas estas mistificações procuram esconder a real situação do país e as suas políticas antipopulares e antissociais. O governo PSD/CDS chega à desfaçatez de anunciar, no mês em que corta os salários da administração pública, a sua reposição para o próximo ano.

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O processo do Banco Espírito Santo (BES) confirma denúncias do Partido Comunista Português no que diz respeito a práticas de gestão obscuras, a manipulação de contas, fuga e evasão fiscal. Nomeações de quadros próximos do Governo e do Presidente da República para a administração confirmam também denúncia do Partido sobre as ligações tentaculares de domínio nos planos econômico e político.

Partidos da política de direita, governo, presidente da República e grupos econômicos têm um plano mais vasto que visa apresentar a política de direita como inevitável e apresentar como imprescindível o consenso entre PS e PSD, com ou sem CDS, com o objetivo de garantir a continuidade da política de direita. O último Conselho de Estado confirma comprometimento e coresponsabilização do presidente Cavaco Silva no sustentar o governo e uma política de direita.

Enquanto isto vão-se potenciando ilusões, preparando o quadro de alternância e esconder ampla convergência com a política de direita do PS, PSD e CDS. Para isso recorrem à montagem de uma farsa em torno da ideia de eleições para primeiro-ministro, que em última análise quer dar mais força à política de direita.

O governo aprofunda medidas que visam a municipalização da Educação, passando competências de contratação e até formação de professores para as autarquias. Aprofunda ainda o ataque à saúde, aos serviços públicos e aos seus profissionais que tem degradado a qualidade de prestação de serviços. Processos que vão significar, a curto prazo, a privatização de muitas áreas dos serviços públicos.

Construir a alternativa

Tal como o Partido tem vindo a afirmar: é necessário e possível construir uma alternativa. Reforçando o Partido, intensificando e desenvolvendo a luta de massas, alargando a frente social de luta como forma de construir uma correlação de forças favorável à ruptura contra este Governo e esta política.

Por mais que tentem desvalorizar a luta e a resistência dos trabalhadores e das populações, ela está presente todos os dias. No último dia 10 de julho a grandiosa manifestação da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional (CGTP-IN) reuniu milhares de pessoas, apesar da ocultação na comunicação social, confirmando a importância da luta organizada no combate à política de direita.

A luta tem conseguido importantes vitórias, tem sido um fator decisivo no isolamento do Governo e no retirar de condições para a implementação de muitas medidas gravosas para os trabalhadores e populações. A resistência dos trabalhadores na luta pelas 35 horas de horário semanal tem impedido o aumento do horário de trabalho na maioria das autarquias. (No distrito de Coimbra, apenas quatro dos 17 concelhos aplicaram as 40 horas).

A luta e resistência dos trabalhadores contra a caducidade da contratação coletiva também tem tido vitórias, como no setor dos seguros, a expressiva greve dos médicos nos passados dias 8 e 9 de Julho, a greve na Controlinvest dia 11 de julho, a luta dos agricultores em torno dos problemas do Douro, a luta das populações em defesa dos serviços públicos, para falar apenas de algumas lutas com incidência nos últimos dias, têm tido uma expressão e importância decisiva.

Como afirmámos na resolução política do 19º Congresso: "A luta pelo socialismo e o comunismo, pela democracia avançada, projetando, consolidando e desenvolvendo os valores de Abril no futuro de Portugal, não se adia, faz-se todos os dias, na ação quotidiana integrando o conjunto de objetivos de luta e presente em cada um desses objetivos".

*Vladimiro Vale é membro da Comissão Política do Comitê Central do Partido Comunista Português.

**Título original: "Lutar todos os dias"

Fonte: Avante!