Diplomatas ocidentais deixam a Líbia em meio a confrontos crescentes

Neste fim de semana, confrontos em Bengazi, segunda maior cidade da Líbia, deixaram ao menos 59 mortos. Países ocidentais instaram seus cidadãos a abandonar a região o mais rápido possível. No domingo (27), um comboio blindado que transportava diplomatas britânicos à vizinha Tunísia foi atacado por milícias que têm combatido contra as forças oficiais na região. A fuga é controversa, uma vez que França e Reino Unido lideraram os bombardeios e a derrubada do governo de Muammar Kadaffi em 2011.

Líbia - AP Photo

A embaixada da China na Líbia emitiu um alerta, nesta segunda-feira (28), pedindo aos cidadãos chineses que deixem o país o mais rápido possível, através da Tunísia ou por avião. O aeroporto militar Martique de Trípoli está aberto à disposição dos cidadãos estrangeiros, e disponibiliza três ou quatro voos para os países vizinhos. França e Itália também já estão evacuando seus cidadãos.

EUA, Alemanha, Holanda e Áustria decidiram encerrar temporariamente as embaixadas no país norte-africano. A data concreta para o fechamento será determinada depois da retirada dos cidadãos desses países do território líbio. Além disso, todos os funcionários da Missão de Apoio da ONU e do Comitê Internacional da Cruz Vermelha já deixaram o país.

Nas últimas duas semanas, diferentes grupos armados na Líbia lutam pelo controle do aeroporto internacional de Trípoli. Ao mesmo tempo, os confrontos entre o exército líbio e opositores armados também foram frequentes. Em Banghazi, os confrontos envolvendo armas pesadas deixaram 38 mortos e mais de 50 pessoas feridas, no sábado (26). Segundo os dados publicados pelo governo líbio, mais de 150 pessoas, na sua maioria civis, morreram durante confrontos tanto em Bengasi como em Trípoli, nos últimos dias.

A evacuação é especialmente controversa para o Reino Unido e a França, que lideraram os bombardeios realizados pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em 2011 e a derrubada do governo de Muammar Kadaffi, alegando levar a democracia à Líbia. De acordo com o jornal britânico The Guardian, no domingo (27), enquanto esperava por um vôo da Força Aérea italiana, um oficial estrangeiro disse que "não é hora para atribuir culpas por tudo ter dado errado", já que "hoje a prioridade é a evacuação".

"Aqueles que estão evacuando deixam para trás uma cidade em turbulência," escreve o repórter Chris Stephen para o Guardian, de Trípoli. "Por duas semanas, Trípoli tem ecoado as batidas da artilharia, disparos de tanques e foguetes enquanto milícias rivais trocam tiros, muitos deles atingindo civis inocentes. Um ataque com foguete contra uma casa matou 23 trabalhadores egípcios no domingo e mais milhares estão fugindo de suas casas."

Destruição e confrontos

O jornalista escreve que cenas similares estão ocorrendo em Bengazi, onde jatos da força aérea têm combatido as milícias classificadas de "islamistas" em batalhas que já deixaram 36 mortos. O cenário é decorrente de uma luta mais abrangente entre os islamistas e seus oponentes provocada pelas eleições, no final de junho, e por um novo parlamento que excluiu grande parte dos representantes islamistas.

Os partidos, inclusive o Justiça e Construção, ligado à Irmandade Muçulmana, certamente perderão o controle da legislatura, pontua Stephen, "e suas milícias temem ser dissolvidas". Em Trípoli, "uma aliança das milícias islamista e Misratan foca em dominar a cidade e ejetar outra milícia de Zintan, aliada ao ex-general Khalifa Hiftar.

Hiftar, antigo aliado e depois opositor de Kadaffi, lançou em maio a grande "Operação Dignidade" a partir de Bengazi, espalhando depois para outras partes do país. O ex-general descreve a campanha como "uma correção do caminho da revolução líbia" e uma "guerra contra o terrorismo", com o alvo inicial definido como as fortes milícias islamistas, embora muitos – inclusive o então premiê interino Ali Zeidan – tenham alegado que a operação era uma tentativa de golpe de Estado. O grupo islamista Ansar al-Sharia chegou a alegar ainda que o intuito de Haftar é uma "guerra contra o Islã" respaldada pelo Ocidente. A operação foi logo depois endossada pelo parlamento.

Outro grupo, os Zintanis, tomaram o controle de um aeroporto e de áras no sul e no oeste, que agora são cenários da violência direta, com mísseis e outra artilharia pesada. A Internet foi cortada, o combustível é escasso e depósitos de medicamentos foram invadidos, de acordo com Stephen.

"No meio tempo, o governo colapsou. Na quinta à noite (24), o primeiro-ministro Abdullah al-Thani foi impedido de embarcar em seu próprio avião para deixar a cidade em direção ao leste, pela milícia que controla Mitiga, o segundo aeroporto de Trípoli. O principal aeroporto internacional está arruinado.

Da Redação do Vermelho,
Com informações das agências e do Guardian