Hezbolá saúda resistência palestina e expõe exército de Israel

Said Hassan Nasrallah, o secretário-geral do partido libanês na resistência, Hezbolá, proferiu um discurso por ocasião do Dia Mundial de Jerusalém (Al-Quds), na sexta-feira (25), em que denunciava a “guerra terrorista” de Israel, atualmente contra a Faixa de Gaza. O objetivo do governo israelense, diz o líder, é “esmagar e humilhar”, “convencer-nos de que não há alternativa à rendição”, mas os resultados são outros, garante Nasrallah. Leia trechos do seu discurso a seguir.

Meshaal e Nasrallah - Ikhwan Web

O dirigente parte da resistência libanesa contra o sionismo israelense e o imperialismo lembrou os episódios em que o seu país foi palco de outra “guerra terrorista” de Israel, em 2006, e a ofensiva sangrenta contra Gaza em 2008.

“Hoje mais uma vez, nós no Líbano e na atmosfera e na lembrança da guerra de julho (de 2006), podemos compreender, assumir, sentir na pele e dar-nos conta completamente do que está acontecendo em Gaza e ao nosso povo em Gaza, mais uma vez em julho de 2014,” disse Nasrallah, que fez referências aos pretextos estabelecidos por Israel para a nova ofensiva contra os palestinos: neste ano, foi o sequestro de três jovens colonos; em 2006, o de dois soldados israelenses.

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“E seria essa a verdadeira razão para a guerra? É Israel que sempre se aproveita de qualquer ocasião! Israel pensou e decidiu que a Faixa de Gaza, sob o seu bloqueio há anos, sob as atuais condições regionais e atuais, (…) decidiu que esta seria a oportunidade de ouro, histórica, para destruir Gaza, submetê-la, quebrá-la, pôr fim a tudo.” Nasrallah mencionou o projeto estadunidense de “um Novo Oriente Médio”, conforme declarado pela ex-secretária de Estado Condoleezza Rice.

“Hoje, os EUA cobrem essa guerra desde os primeiros momentos e a mantêm financeiramente, militarmente, pelos jornais e televisões e por sua tomada de posição política; o [resto do] Ocidente não faz diferente; o Conselho de Segurança da ONU não faz diferente. Vê-se até a colaboração de alguns regimes árabes; e há também o silêncio e a omissão de alguns deles,” afirmou o líder do Hezbolá.

A resistência libanesa chegou a ser responsabilizada pelo sofrimento dos palestinos em Gaza, lembrou Nasrallah, “ao mesmo tempo em que se inocenta o nosso inimigo e verdadeiro autor desses crimes e desses massacres,” ressalvou, referindo-se às acusações de negligência, do lado palestino, e a de conivência com a resistência armada palestina, por outro lado, o dos israelenses. “Mas contra isso há essa extraordinária resistência do povo, essa ligação profunda que há entre o povo de Gaza e a Resistência, e o fato de que o povo de Gaza conta com a Resistência.”

“Digo ao nosso povo de Gaza, ao nosso povo palestino, a vocês, a todos que escutam: no final, quem decidirá, o que decidirá a guerra, ou, dito de outro modo: quem resultará vitorioso? Três fatores, três linhas de ouro, três elementos absolutamente decisivos: A realidade em campo, a resistência do povo, a consistência política: esses são os fatores que garantirão a vitória.”

Durante a guerra de julho de 2006 contra o Líbano, continuou Nasrallah, “para recolher proveito da experiência, das lições, Israel, desde o primeiro dia, fixou objetivos muito elevados, depois teve de reduzi-los pela base, reduzir, reduzir, reduzir (…). Apelaram até aos norte-americanos para que os socorressem – porque, se os norte-americanos mandam, toda a região se curva. E foi o que aconteceu, a guerra acabou naquele momento,” afirmou o líder do Hezbolá, ressaltando a realidade no terreno dos “heroicos resistentes”, a “perseverança do povo” e a “consistência política.”

“Hoje, para a guerra de hoje, eu lhes digo: nós somos a única esperança dos palestinos. Prestem atenção: se deixarmos os palestinos entregues aos norte-americanos, ao ocidente e a vários árabes, todos esses dirão a Israel ‘aproveite a oportunidade, acabe com eles. Acabe com eles’. (…) O alvo é toda a resistência na Palestina”.

“Digo-lhes que hoje, hoje mesmo, no momento em que está enterrando seus mártires, no momento em que combate, digo-lhes que Gaza já é vitoriosa, pela lógica da resistência,” afirmou. “Se Gaza chega ao 18º dia e nem todos os sionistas do mundo conseguiram alcançar um único dos objetivos da guerra contra Gaza, isso significa que a resistência venceu em Gaza.”

Resistência versus covardia

O dirigente libanês lembrou as assimetrias profundas entre o exército de Israel – com seus armamentos e equipamentos modernos elaborados por uma indústria militar avançada e sustentada pelos EUA, com diversas comissões militares estratégicas – e a força da resistência palestina em um território litorâneo completamente bloqueado há oito anos. Ainda assim, disse que, ao comparar os dois lados, vê-se “o fracasso de Israel e o sucesso da resistência.”

“Israel, pois, não se atreveu a anunciar objetivos elevados – mesmo para toda a guerra, o único objetivo declarado era destruir túneis na fronteira. Israel fixa objetivos modestos para aumentar suas chances de conseguir dizer ‘alcancei meus objetivos de guerra’”, disse Nasrallah. Além disso, o líder pontuou que as autoridades israelenses subestimaram a capacidade da resistência palestina. “Israel acreditava que todas as informações sobre Gaza estavam já coletadas e eram certas, que os israelenses sabiam de tudo, com tantos espiões, em terra, mar e ar, tantos espiões. E percebe-se fracasso monumental no plano da informação recolhida.”

Nasrallah apontou para recentes declarações do chefe de Estado Maior de Israel, que alegou que sua Força Aérea “é hoje capaz de vencer o Líbano, caso surja nova guerra, em 24 horas. Em Gaza, aquela força aérea vencerá em 12 horas.” Entretanto, ressalvou o líder: “Há quantos dias tentam vencer em Gaza? Digo aqui: são 18 dias (em 25 de julho). Essa é a nova força aérea israelense. E quem a derrotou? Gaza. A Gaza sitiada.”

“E há também o fracasso da operação terrestre: basta que lhes repita o que estão dizendo alguns comentaristas israelenses. Essa frase é de um deles: ‘Nosso exército fracassou.’ Não é frase minha, eu, que amo a resistência palestina, que sou aliado dela, aqui falando aos libaneses. Essa frase é de um inimigo da resistência,” disse Nasrallah, referindo-se a declarações da Brigada Golani e do Commando Egoz (unidades de elite do exército de Israel).

“E essa é a razão pela qual os israelenses precipitaram-se, desde o início. Porque não confiam em seu exército, não confiam neles mesmos. Assassinos de civis, de crianças, tomaram por alvo justamente a base popular da Resistência. Tentaram quebrar a vontade do povo. Foi o que tentaram também no Líbano em 2006,” afirmou. “Israel tenta novamente a mesma experiência na Faixa de Gaza, para impor aos comandantes da resistência, à direção política e à direção em campo, um cessar-fogo a qualquer preço, ou a rendição. Significa que quando o exército israelense chegou a Gaza, não chegou como exército de combatentes, mas como gangue de assassinos de crianças. E foi assim também que nós conhecemos o exército de Israel no Líbano.”

Nasrallah criticou também uma recente frase do ex-ministro da Defesa israelense Ehud Barak, que “foi pisoteada nas ruas de Gaza”, de que qualquer futura guerra empreendida por Israel “seria rápida e decisiva,” com uma “vitória grandiosa”. Hoje, disse o líder libanês, “quem responde a eles é Gaza: vocês são hoje o que sempre foram, só sabem combater de trás dos muros fortificados de vocês. São covardes assustados que se escondem por trás de aviões, de tanques. Que só sabem matar crianças em escolas. Cada vez que veem pela frente os homens e mulheres da resistência, cara a cara, vocês desmontam e o exército de vocês é vencido. Essa é a verdade. Vitória rápida, decisiva e grandiosa é coisa que passa longe do exército de Israel.”

Fonte: Blogue Sayed Hassan e Al-Manar
Tradução da Vila Vudu