Israel busca acobertar crimes de guerra e intensifica massacre palestino

Enquanto a ONU apelava novamente por um “cessar-fogo” devido às “condições críticas na Faixa de Gaza”, com mais de 1.150 mortos, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou nesta segunda-feira (28) que sustentará o massacre dos palestinos. Em discurso, advertiu os israelenses para se prepararem para um “longo conflito”, apesar das graves denúncias de crimes de guerra perpetrados contra os palestinos e dos protestos globais contra a ofensiva.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

Israel - GPO

Assim como em ofensivas anteriores – apenas nos cinco últimos anos, três “operações militares” lançadas por Israel contra Gaza mataram mais de duas mil pessoas – e nas políticas cotidianas da ocupação da Palestina, as autoridades israelenses são assessoradas por especialistas que as informam até onde podem ir, na matança e na opressão, em meio às supostas brechas no direito internacional humanitário.

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A linguagem das diversas convenções e princípios que deveriam garantir a proteção de civis e, principalmente, os limites da atuação de uma “potência ocupante” – como é classificado Israel pelo direito internacional – é manipulada por assessores que fantasiam os crimes de guerra de líderes com históricos óbvios de violações para apresentá-los como “direito de autodefesa”.

Vários mecanismos são empregados neste esforço, desde discursivos, através da mídia e outros porta-vozes da política oficial genocida, até as práticas cínicas que pretendem “cumprir” recomendações simplistas contidas em algumas convenções do direito internacional humanitário.

Um exemplo é o compromisso com as “precauções necessárias” para evitar ao máximo as mortes de civis como consequência de bombardeios, o que Israel alega fazer ao lançar panfletos ou enviar mensagens que ordenam os palestinos de Gaza a deixarem os seus lares, que constam nos radares da destruição. “Para onde?” Cansam de se perguntar, enquanto lembram ao mundo sobre o bloqueio completo do estreito território litorâneo, sitiado há oito anos por Israel e pelo Egito.

Nesta terça-feira (29), a tentativa da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) de lançar um cessar-fogo unilateral de 24 horas também foi recusada pelo governo em Gaza, já descrente da recíproca israelense e que continua exigindo uma mudança significativa da questão, a começar pelo fim do bloqueio de oito anos contra o território.

No mesmo dia, a notícia do bombardeio da única usina elétrica da Faixa de Gaza, que já recebia apenas cerca de três horas diárias de energia, ainda precisa ser respondida pela Advocacia Geral Militar (AGM), o órgão fundado ainda na década de 1950 por Israel para a assessoria legal na condução da guerra, sob a indicação do Ministério da Defesa e recomendação do Chefe de Estado Maior.

Assessoria para perpetrar crimes de guerra impunemente

No seu discurso, Netanyahu garantia: “Nós não completaremos a missão até neutralizarmos os túneis”, enquanto mais 10 soldados eram mortos nos confrontos com a resistência palestina, que também tem combatido a invasão terrestre, ordenada pelo premiê e pelo ministro da Defesa Moshe Ya’alon, cinco dias depois da oficialização dos bombardeios aéreos, anunciada em 8 de julho. Já para o agressivo e extremista ministro da Economia, Naftali Bennett, que tem exercido grande influência sobre o cenário político doméstico em Israel, o objetivo é a derrota completa do Hamas, partido à frente do governo de Gaza e que Israel deslegitima como “organização terrorista”.

Após considerarem o domingo (27) um dia "relativamente tranquilo", quando os palestinos puderam sair momentaneamente de seus escassos abrigos para coletar os corpos de familiares ou vizinhos, nesta terça, as forças israelenses bombardearam cerca de 70 locais, que classificam apenas de “alvos”, embora frequentemente incluam lares, escolas, mesquitas, igrejas, hospitais, poços de água, centros de saúde e, desta vez, a única planta de energia (a explosão foi captada em imagens, abaixo), que prestava o serviço a 2/3 dos 1,8 milhão de habitantes. Uma das casas atingidas era a do primeiro-ministro de Gaza, Ismail Hanyieh, que não estava no local.

De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, 1.156 palestinos já foram mortos pelos bombardeios israelenses ou pelas ofensivas terrestres, com artilharia pesada, contra o que classificam de “alvos terroristas”. A maior parte das vítimas fatais, de 70 a 80%, eram civis, inclusive cerca de 300 crianças, de acordo com as fontes palestinas e com o Conselho de Direitos Humanos da ONU. O maior hospital da Faixa de Gaza, Al-Shifaa, também foi atingido na segunda-feira, assim como um campo de refugiados, Al-Shati, ambos na região da Cidade de Gaza. No último caso, cerca de 10 crianças estavam entre as vítimas fatais.

Mesmo assim, analistas se perdem na tentativa de interpretar o criminoso governo israelense e seus objetivos, dos quais os mais de 50 soldados mortos desde a invasão terrestre de Gaza, em 17 de julho, não tinham pistas. Será a “dissuasão” contra o Hamas, ou seja, a ameaça lançada com o preço do massacre dos palestinos, ou a reocupação completa da Faixa de Gaza? De qualquer forma, garante o colunista Amos Harel, no jornal israelense Haaretz, “o exército já está se preparando para as implicações do período após a guerra”, exatamente como fez quando, em 2009, uma investigação da ONU concluiu que crimes de guerra e “possíveis crimes contra a humanidade” foram perpetrados durante os 22 dias da ofensiva “Chumbo Fundido” também contra Gaza, que resultou em 1.400 mortos.

Fica por avaliar se foi a “excelência” da assessoria legal de Israel que fez com que o relatório fosse ignorado – e se acontecerá o mesmo com o que resultar da nova investigação já aprovada pelo Conselho dos Direitos Humanos – ou se foi a virulência contra as críticas recebidas, respaldada pela conivência dos aliados incondicionais da liderança criminosa israelense, ainda somada à negligência internacional diante de mais um episódio no massacre dos palestinos.