O caminho da Asean: do anticomunismo à paz e integração 

No dia 8 de agosto a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) comemora seu 47º aniversário. Tendo iniciado sua existência como uma organização política regional de tendência anticomunista, a Asean se transformou na maior associação integradora com um papel fundamental na Região da Ásia-Pacífico.

Por Elena Nikulina, na Voz da Rússia 

Sede da Asean - AP/Gemunu Amarasinghe

A Asean demonstrou sua capacidade de alterar sua política e de reagir corretamente aos desafios que o tempo foi lançando aos países do Sudeste Asiático.

Aí reside o êxito dessa organização, considera o diretor do Centro de Estudos do Sudeste Asiático do Instituto de Estudos Orientais Dmitri Mosyakov. “No início a Asean foi formada como uma organização política puramente anticomunista de cinco países do Sudeste Asiático que devia apoiar os EUA na guerra da Indochina. O caráter subordinado da Asean se refletiu em que durante 9 anos não se tenha realizado uma única cúpula, mas apenas reuniões anuais de ministros das Relações Exteriores".

"A primeira cúpula de Manila, realizada em 1976, sublinhou a situação internacional qualitativamente nova, quando os EUA tinham perdido a guerra no Vietnã e abandonaram a região. A resposta dos líderes dos países da Asean a essa nova conjuntura política foi a ideia de coexistência pacífica com o Vietnã, o Laos e o Camboja. Foi apresentada a iniciativa para a transformação do Sudeste Asiático numa zona de paz e segurança", prossegue.

"Os países da Asean demonstraram que para eles o confronto ideológico era menos importante que a paz e prosperidade na região. Essas ideias foram especialmente desenvolvidas depois do fim da Guerra Fria", diz.

"Nos anos 90 praticamente todos os países do Sudeste Asiático se tornaram membros da Asean. Seu objetivo principal é o apoio a seus membros, a criação de um ambiente de segurança e cooperação e o desenvolvimento da integração. Um fator muito importante para a integração econômica foi a criação em 2002 da zona de livre comércio da Asean”, finaliza.

O princípio mais importante da nova organização é a não-ingerência nos assuntos internos de seus membros. Esse princípio sempre foi cumprido, apesar de grandes pressões externas, como aconteceu com o Mianmar, quando a Asean recusou aderir às sanções do Ocidente contra esse país, refere Dmitri Mosyakov. Ele prossegue:

“Se na União Europeia os antigos países socialistas estão longe de desempenhar papéis principais, e mesmo secundários, já o Vietnã socialista, depois de ter aderido à Asean, se tornou num dos países mais influentes da organização, tendo o seu voto um grande peso nas tomadas de decisão.”

Neste momento a Asean se transformou numa prestigiadíssima organização internacional. Os instrumentos internacionais criados por sua iniciativa, e com base na sua organização, como o Fórum Regional da Asean para a segurança, a associação Asean+3 e a Comunidade do Leste Asiático, desempenham um papel importante na garantia da paz e segurança na Região da Ásia-Pacífico. Os dez países mais importantes do mundo são parceiros de diálogo da Asean.

Os países da Associação de Nações do Sudeste Asiático estão preparados em 80% para a criação de uma única Comunidade que deverá surgir em finais de 2015. Isso foi anunciado a 8 de agosto pelo presidente de Mianmar Thein Sein ao discursar numa cerimônia realizada em Naypyidaw e dedicada ao 47º aniversário da associação.

Agora os países da Asean representam um enorme mercado com um PIB total de 2,5 trilhões de dólares. Até finais de 2015 deverá começar a funcionar o Mercado Comum asiático, assim como está programada a introdução de um sistema próprio para a certificação de produtos fabricados na Asean e de um sistema único aduaneiro. Simultaneamente serão formadas a Comunidade de Política e Segurança e a Comunidade Sociocultural.

“Com base nos sucessos alcançados, nós poderemos criar uma nova visão da Asean para os próximos 15-20 anos que será merecedora de confiança e capaz de resistir a quaisquer desafios ou ameaças”, referiu Thein Sein.

Fonte: Voz da Rússia