Reino Unido deve suspender venda de armas a Israel, diz parlamentar

O parlamentar conservador britânico Andrew Mitchell disse, nesta quarta-feira (6), que um embargo de armas deveria ser imposto a Israel devido ao massacre dos palestinos na Faixa de Gaza. Mitchell, que foi secretário para desenvolvimento internacional, também condenou os repetidos ataques das forças israelenses contra escolas das Nações Unidas no território. No início da semana, a Espanha, um grande parceiro comercial de Israel no setor militar, anunciou a suspensão da venda de armas ao país.

Faixa de Gaza Israel - Reuters

Mitchell advertiu que “o nível da miséria e da carnificina” em Gaza provavelmente “contaminaria o que resta de boa vontade na região por gerações a fio”. O parlamentar foi o antigo ministro a se pronunciar da maneira mais firme e suas palavras sucederam a decisão de uma ministra do Departamento de Relações Exteriores, Sayeeda Warsi, de deixar a coalizão de governo devido à negligência com as ações de Israel em Gaza.

Sayeeda disse, na terça-feira (5), ao renunciar, que o primeiro-ministro David Cameron “perdeu seus padrões morais” ao não se pronunciar sobre o massacre dos palestinos. Quase um mês da ofensiva de Israel contra Gaza já matou cerca de 1.900 pessoas; ao menos 80% das vítimas fatais são civis e quase 400, crianças, de acordo com a Organização das Nações Unidas, que denuncia ainda a devastação da infraestrutura civil essencial e a destruição de mais de 10 mil lares, de hospitais, escolas, centros de saúde, redes de abastecimento de água, de esgoto e da única planta de energia elétrica.

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Em declarações à emissora britânica BBC, Mitchell disse acreditar que “há bases fortes para minimizar a chegada de armas a este conflito o máximo possível, e acho que é certo que um embargo deve ser considerado.” Entretanto, afirmou que o Reino Unido não está vendendo armas a Israel atualmente.

Os Democratas Liberais têm pressionado pela suspensão de licenças para a exportação de armas, de acordo com o jornal britânico The Guardian, mas “parece haver obstáculos tanto legais quanto políticos”, continua o diário, em matéria desta quinta-feira (7). Ainda assim, está sendo feita uma revisão do regime de licenças e o secretário suplente de Relações Exteriores Douglas Alexander disse que “obviamente, nenhuma licença nova deve ser garantida quando houver dúvidas sobre o uso final do equipamento militar sendo exportado.”

No início da semana, após grande pressão popular contra o comércio de armas com Israel, o governo da Espanha decidiu "paralisar cautelarmente" a venda de armas de material militar ao Exército israelense, de acordo com o jornal El País. Apenas em 2013, a exportação de armas e componentes militares a Israel alcançou 4,9 milhões de euros (R$ 15 milhões) e incluíam dispositivos para mísseis.

Materiais de duplo uso e venda de armamentos

Alexander informou que diretrizes existentes já deixam claro que nenhum equipamento militar ou de uso possível no setor (os chamados equipamentos de “duplo uso”) poderia ser exportado se puder “ser usado na repressão interna, no abuso dos direitos humanos ou para provocar ou prolongar conflitos armados.” Entretanto, Mitchell afirmou que “Israel tem o direito de se defender contra ataques indiscriminados com foguetes, mas deve se guiar pelo direito internacional ao responder. Não há dúvidas de que um enorme número de pessoas inocentes foram atingidas nesta ação.”

Manifestantes têm protestado em uma fábrica que fornece motores aos veículos aéreos não tripulados (drones) usados por Israel na vigilância e nos disparos de “alerta”, como o governo israelense tem denominado os mísseis que dispara contra estruturas próximas a áreas civis prestes a serem bombardeadas, alegando que esta ação serve para forçar os civis a evacuarem o local.

Segundo o Guardian, desde 2010, as licenças do Reino Unido para a exportação de armas a Israel no valor de 42 milhões de libras (R$ 160,93 milhões) foram fornecidas a 131 fabricantes britânicas do setor militar. De acordo com documentos do governo, os equipamentos incluem componentes para drones até “radares militares”, “sistemas de alvos” e “equipamentos eletrônicos de guerra”

Detalhes publicados no mês passado pelo comitê parlamentar sobre Controles de Exportação de Armas mostra que uma licença foi emitida em relação ao programa de um caça de ataque construído pelos EUA, o Joint Strike Fighter (JSF), que deve começar a chegar a Israel a partir de 2016, com a primeira aeronave tornando-se operacional em 2018.

O valor total das licenças de exportação de material de “duplo uso” a Israel chegou a aproximadamente oito bilhões de libras (R$ 30,7 bilhões) no ano passado. Entretanto, a maior parte é de equipamento comercial, como softwares criptográficos para as redes de telefonia de Israel.

Já os documentos oficiais obtidos pela Campanha contra Comércio de Armas revelam que, dos 42 milhões de libras em licenças para exportação de material para uso estritamente militar, cerca de 10 milhões de libras (R$ 38,3 milhões) em licenças foram garantidos apenas nos últimos 12 meses, com componentes para armamentos navais, munições, peças para submarinos e aeronaves de combate assim como para drones.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho,
Com informações do Guardian e da BBC