Hacker revela estratégia militar para acabar com Diálogos de Paz

O hacker colombiano Andrés Sepúlveda, acusado de ter participado do escândalo envolvendo ações de espionagens contra o governo e o presidente Juan Manuel Santos, revelou à revista colombiana Semana neste domingo (24) que existem várias células no país trabalhando em um “plano estratégico contra o processo de paz” entre o governo e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Diálogos de Paz - Efe

Em mais de duas horas de entrevista, Sepúlveda disse ter “100% de certeza de que a equipe negociadora por parte do governo foi totalmente infiltrada”. Ele garantiu ter provas de que “militares de alta patente” espionaram o processo de paz.

Sepúlveda contou que era encarregado de filtrar informações especificamente das Farc. “Obtínhamos informação dos negociadores das Farc em Havana, de seus delegados. Informação secreta e de inteligência, que podiam afetar o processo de paz de maneira indireta. Por exemplo, informação sobre os atentados”, revelou o hacker.

Os dados eram repassados para a campanha do ex-candidato Óscar Iván Zuluaga, apadrinhado do ex-presidente Álvaro Uribe – o maior crítico à existência das negociações com a guerrilha do país – e usada como estratégia para a formulação de ações nas redes sociais. Uribe é apontado pelo hacker como a pessoa que mais coleta informações sigilosas.

Como exemplo das atividades que realizou, Sepúlveda menciona que quando o guerrilheiro das Farc Jairo Martínez foi a Havana para participar das negociações, o Centro Democrático (partido de Uribe) “centrou seu discurso dizendo que estavam sendo enviados narcotraficantes para Havana”.

A informação foi administrada por ele e pela campanha que, inclusive, criou hastags, fazendo com que assunto entrasse no trending topics (assuntos mais comentados) do Twitter. “Se você revisar as redes sociais e buscar pela data verá que todos, absolutamente todos, tinham o mesmo discurso”, observou.

Ações contra os Diálogos

O hacker disse também que “dissidentes do Exército estão se organizando para atacar o processo de paz”. A resposta, segundo ele, viria por meio da criação de “um grupo armado ilegal”, mas não detalhou como eles agiriam, nem citou nome dos envolvidos.

Ele também detalhou à revista o que seria o chamado “plano estratégico para acabar com os diálogos”. Além da estratégia midiática por ele relatada, haveria também de uma ação militar. “Quando eu falo militar, não falo de submeter à Justiça, mas buscar a maneira de afetar a Força Pública contra o processo, contra as decisões do Estado e de uma organização interna de dissidentes que têm sido – e falo com total clareza – doutrinados, porque eu era parte disso”.

“A única coisa que o plano estratégico contra o processo de paz busca é acabar com as negociações [de Havana] sem se importar com as consequências”, concluiu.

Em seu Twitter, o senador Álvaro Uribe negou as declarações feitas por Sepúlveda e afirmou que se trata de uma estratégia para “cobrir a farsa das vítimas de um grupo terrorista que não sabe de arrependimento”, disse referindo-se ao fato de que 12 vítimas do conflito colombiano chegaram a Havana para participar das negociações de paz.

Por Vanessa Martina Silva, no Opera Mundi