Autoridades debatem desafio de integração bilateral Brasil e Chile

Autoridades políticas, intelectuais e movimentos sociais se reuniram nesta terça-feira (26), na capital paulista, para debater os desafios e experiências de integração entre o Brasil e o Chile. O colóquio intitulado "Democracia, integração regional e desenvolvimento inclusivo" é uma iniciativa do Instituto Lula em parceria com a embaixada do Chile no Brasil e apoio da Universidade Federal de Integração Latino-Americana (Unila) e da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso-Chile).

Colóquio Brasil e Chile - Heinrich Aikawa/Instituto Lula

O debate se deu em torno do fortalecimento das políticas sociais e econômicas de ambos os países no âmbito da estabilidade regional e fortalecimento de instituições integracionistas como Celac, Mercosul e Unasul.

Luiz Dulci, diretor do Instituto Lula e ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, iniciou as atividades e destacou a amplitude do encontro cujo objetivo foi compartilhar experiências exitosas dos dois países e debater os desafios futuros.

O colóquio foi dividido em quatro temas de debate: “Chile e Brasil no contexto da integração sul-americana”, “Combate à desigualdade: democracia e desenvolvimento inclusivo, a experiência chilena”, “Combate à desigualdade: democracia e desenvolvimento inclusivo, a experiência brasileira” e “Desafios comuns: reforma política e diálogo social”.

Sobre o processo de integração do continente, o subsecretário de Relações Exteriores do Chile, Edgardo Riveros, frisou que a América Latina pode ter uma maior incidência na configuração da nova ordem mundial.

Ele acredita que os desafios comuns precisam ser enfrentados, citou, entre outros, a desigualdade social, pobreza, participação cidadã e desenvolvimento científico. Destacou ainda a importância da integração logística do continente. Aposta no investimento em ferrovias que liguem as grandes cidades e também o interior dos países, para estreitar relações e fortalecer o comércio.

Ele defende também que todos os processos de integração vigentes, entre eles o Mercosul, a Unasul e a Celac, são projetos que devem crescer e se fortalecer progressivamente.

Já o chefe da assessoria especial a Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, destacou o intercâmbio cultural entre Brasil e Chile que hoje em dia se dá por meio de políticas de Estado. Ele ressaltou a importância que o país vizinho teve durante a ditadura militar brasileira ao acolher os militantes de esquerda do Brasil. “Muitos de nós nos descobrimos latino-americanos no Chile”, disse.

Garcia destacou os presidentes progressistas do continente, que estão preocupados não só com a transformação interna de seus países, mas também com o processo de integração latino-americana. “Há algumas décadas se intensificou o intercâmbio social e pedagógico como política de Estado”.

De acordo com Garcia, a integração do continente deve respeitar as assimetrias dos países para que o Brasil não seja o principal beneficiado. “A cooperação sul-americana não pode ser fundada no comércio para beneficiar muito o Brasil e pouco os outros países, isso potencializaria a desigualdade, uma atitude que nós tanto criticamos em outros continentes”.

As empresas estatais, como a Petrobrás, por exemplo, são fundamentais para o processo de integração, acredita Garcia. “Temos um potencial energético maior que em outros lugares do mundo, uma agricultura moderna, uma diversidade de minérios e biodiversidade inexplorada, são mecanismos fundamentais para o fortalecimento”.

O sociólogo brasileiro Emir Sader interveio no debate chamando a atenção dos expositores para a necessidade fazer o brasileiro médio se sentir também latino-americano. Ele acredita que só a informação e a cultura são capazes de tal feito. “Temos que encontrar formas de difundir mais informações sobre os dois países, intercâmbios de cultura e educação para além dos clichês que a grande imprensa divulga”, disse.


Foto: Heinrich Aikawa/Instituto Lula

No âmbito do desenvolvimento acadêmico e científico, Garcia mostra preocupação com os intercâmbios com países do Norte. “Quem vai fazer a cabeça dos nossos jovens, nós mesmos, ou vamos enviá-los para os economistas de Chicago?”, questionou. Destacou ainda a importância da Flacso no Chile durante a ditadura militar no Brasil, onde muitos intelectuais foram formados com o conceito de integração regional, e parabenizou o Brasil pela iniciativa da Unila. “Espero que estes jovens [estudantes da Unila] estejam tendo a mesma oportunidade [de desenvolver um pensamento de integração]”.

Ele alertou ainda para a importância de se desenvolver um conceito regional de defesa em que nossas forças armadas estejam preparadas para atender às necessidades reais do continente, e não demandas impostas pelo imperialismo. “Devemos impulsionar o desenvolvimento científico para que os nossos líderes de Defesa não saiam por aí comprando produtos que não representam a nossa necessidade”.

Sobre a mídia, Garcia afirmou ser um mecanismo fundamental para a conscientização continental da população latino-americana e defende a criação de um canal capaz de informar e propor os debates da opinião pública em todos os países do Mercosul.

A experiência brasileira no combate à desigualdade

O presidente da Fundação Perseu Abramo, Marcio Porchmann (foto), falou sobre como o Brasil combateu a desigualdade e promoveu o desenvolvimento inclusivo. Para ele, a democracia brasileira é extremamente jovem, porque vivemos em um país fundado na escravidão e na desigualdade como mobilidade social.

Porchmann considera que estamos vivendo a primeira experiência de mudança política baseada na democracia e, apesar de jovem, este nosso sistema já é carente de reformas profundas e estruturais, como a agrária, a urbana e a tributária.

A presidenta da UNE, Virginia Barros, destacou as politicas sociais de inclusão educacionais desenvolvidas nos últimos 12 anos pelos governos Lula e Dilma. Para ela, a educação é um dos mecanismos mais eficientes para combater a desigualdade e promover o desenvolvimento inclusivo. Conquistas como os 10% do PIB para a Educação, o Enem, o Pronuni, o Pronatec foram algumas das vitorias citadas por Vic que vêm beneficiando o desenvolvimento do jovem brasileiro.

O professor do Instituto de Economia da Unicamp, Jorge Mattoso, ressaltou as politicas desenvolvidas nos últimos doze anos que trouxeram estabilidade econômica. Citou, entre elas, o crescimento em mais de 70% do poder de compra do salário mínimo. Para ele, o Bolsa Família – que atualmente atende mais de 14 milhões de famílias – tem um peso econômico menor que o salário mínimo, porém, um peso social mais importante porque foi capaz de tirar mais de 30 milhões de pessoas da pobreza extrema.

Os programas Minha Casa, Minha Vida e Luz Para Todos também foram destacados por Mattoso, porque além de desenvolverem a economia, fizeram o povo brasileiro ter acesso a serviços básicos que antes era impossível. “A crise foi enfrentada com politicas anti-cíclicas e não se colocou em risco o mercado interno”, disse.

Para ele, todas essas conquistas populares causaram na classe média uma reação extremamente conservadora que se coloca contra os gastos públicos e os gastos privados. “Isso mesmo, eles [setores da classe média] não querem que outras pessoas também tenham o direito de consumir serviços e produtos”, explica.

O debate contou ainda com a participação de autoridades e intelectuais chilenos, entre eles o presidente executivo da Fundação Chile 21, Carlos Ominami, o diretor da Flacso, Ángel Flisfisch, o professor da Universidade do Chile, Manuel Antônio Garretón e a diretora da Confederação de Estudantes do Chile, Melissa Sepúlveda.

A ideia é que a mesa de diálogo continue entre os países e debates sobre outros temas sejam aprofundados, entre eles a reforma política, considerada pelos participantes necessária tanto no Brasil quanto no Chile.

Por Mariana Serafini, da redação do Vermelho