Os desafios do Chile no combate à desigualdade social

Durante o colóquio promovido pelo Instituto Lula, na última terça-feira (26), na capital paulista, que debateu os desafios da integração latino-americana e as relações bilaterais entre Brasil e Chile, expositores do país vizinho compartilharam a experiência chilena de combate à desigualdade e promoção do desenvolvimento inclusivo.

Por Mariana Serafini, do Vermelho

Carlos Ominami - Heinrich Aikawa/Instituto Lula

O evento contou com a participação de autoridades políticas, militantes de movimentos sociais e intelectuais dos dois países. Estiveram presentes, representando o Chile, a líder estudantil Melissa Sepúlveda; o presidente executivo da Fundação Chile 21, Carlos Ominami; o professor da Universidade do Chile, Manuel Antônio Garretón e o diretor da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso-Chile), Ángel Flisfisch.

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O presidente executivo da Fundação Chile 21, Carlos Ominami, criticou o processo de combate à pobreza existente no Chile, segundo ele ainda pouco eficaz. Ele conta que só depois do fim da ditadura de Augusto Pinochet o país passou a ter uma certa preocupação social. “Tivemos um crescimento asiático e uma distribuição africana, com o desaceleramento do desenvolvimento econômico não temos mais o crescimento asiático, mas mantivemos a distribuição africana”, explicou em tom sarcástico. Ele acredita que a prioridade do governo da presidenta Michelle Bachelet deve ser uma reforma constitucional.

O diretor da Flacso, Ángel Flisfisch, explicou que atualmente há um “abismo entre os setores educacionais que o Chile deve enfrentar”. Segundo ele, há uma divisão capaz de comprometer todo o desenvolvimento social, científico, cultural e econômico do país.

De acordo com Flisfisch, a diferença de formação no ensino superior é praticamente uma divisão de castas. Isso porque, os estudantes de famílias tradicionais e com melhores condições sociais são formados nas universidades mais conceituadas com um pensamento de perpetuar este modelo. Já os jovens de classes mais baixas, que normalmente são os primeiros da família a cursar o ensino superior, estudam em universidades medíocres, com mensalidades caras e sairão de lá prontos para ingressar no mercado de trabalho como uma mão de obra qualificada. O professor acredita que a presidenta Bachelet deve enfrentar esta questão com pulso firme para romper este sistema.

Melissa Sepúlveda (foto), que é presidenta da Federação Estudantil (Fech) da Universidade do Chile, uma das mais importantes do país e integrante da Confech (Confederação Nacional de Federações Estudantis) explicou que atualmente a luta do movimento estudantil chileno é contra os lucros abusivos das empresas responsáveis pela educação o país. De acordo com ela, não há alternativas de escolas técnicas públicas, poucos colégios de ensino fundamental são integralmente gratuitos e muitos jovens envelhecem sem conseguir pagar os financiamentos feitos para custear o ensino superior.

A questão educacional no país é grave e exige uma reforma estrutural urgente. Melissa afirma que o governo de Michelle Bachelet tem um discurso muito progressista e, em certa medida, atende às demandas do movimento estudantil, porém até agora as ações foram pouco satisfatórias.

Ela explica que os projetos apresentados até o momento pelo recente governo ainda não mostram a intenção de romper com as amarras empresariais do setor educacional, mas o movimento estudantil está disposto a dialogar com o governo e debater uma solução, desde que haja o comprometimento da presidenta em defender um dos lados. “Tratar da educação no Chile é uma posição política, com qual setor a presidenta vai estar de acordo? Quais vozes vai escutar? Os empresários da educação ou os estudantes?”, questionou Melissa.