Não posso votar em quem não sabe em quem votaria

Neste ano de 2014, a opção de voto dos direitistas e de parte daqueles que são contra “tudo isso que está aí” já não parece mais ser Aécio Neves. Marina Silva é a bola da vez, após a trágica queda do avião de Eduardo Campos.

Por Ana Helena Tavares*, no Correio do Brasil

Janio, Collor, Marina

Com discurso de agregação, mas um histórico de falta de apoios, juntando-se à notória inconstância, Marina poderá ser derrubada no primeiro sopro de um verdadeiro membro da elite. E o seringueiro Chico Mendes não estará aqui para ver.

Mas André Lara Resende, que está na campanha de Marina, verá. Segundo o ex-presidente Fernando Collor conta em livro, foi Lara Resende uma de suas inspirações para confiscar poupanças. Na mão dele, de Neca Setúbal, e de um time barra pesada, Marina é mero fantoche.

É à ausência de convicções de Marina que se agarram, até a última gota de veneno, esses banqueiros e economistas que a sustentam. Não é preciso ser nenhum crânio para assistir ao tal veneno sendo destilado em pleno horário nobre. Até mesmo em propagandas disfarçadas nos jornais impressos.

E o que dizer da menina dos olhos da família Civita? Aquela revista semanal que seria capaz de malabarismos para provar por ‘a mais b’ que o Tietê é limpo se disso dependesse a derrubada da reeleição de Dilma.

É claro que o mau cheiro exalado pela ‘high society’ não interessa à Veja. Interessa colocar um quilo de maquiagem e photoshop na candidata escolhida – pela Veja e pela “providência divina” – moldar nela um sorriso de Monalisa, fazer uma capa que pergunta mas já responde e decretar que ela tem “ideias inatacáveis”. Inatacável nem Cristo foi, mas, para a Veja, Marina é.

O maior pecado do jornalismo não é ser parcial, já que a imparcialidade total nenhum ser humano é capaz de alcançar. O maior pecado é a arte da cara de pau. A daqueles que se vendem como imparciais sem ser. Que sorriem para o povo e o apunhalam pelas costas.

Mas eles têm um problema. O que seria de Boris Casoy sem “os mais baixos na escala do trabalho”? O que seria de Carlos Lacerda sem Getúlio Vargas? Durante os ‘anos dourados’ de Juscelino Kubitschek, um presidente ‘bossa nova’ que estava mais preocupado com a construção de Brasília do que com as porradas que levava diariamente da imprensa, Lacerda murchou.

Todo candidato diz querer um país que “dê certo”. O que é “dar certo”? É repetir o entreguismo dos golpistas de nossa história e dar o pré-sal de bandeja ao Tio Sam como quer Marina, a candidata ‘bossa velha’?

Uma real independência não é feita de um grito em cima de um cavalo. Independência para valer requer longos e dolorosos processos históricos para ser concretizada. A nossa, sem dúvida, está até hoje em construção. Avançou muito nos últimos 12 anos e, ao mesmo tempo em que isso fere aos amantes da submissão, é essa ferida que os move.

‘Ah, o PT cometeu erros’! Muitos. Muitos mesmo. Mas se você viu muita corrupção, é porque ela foi investigada, punida, e não houve censura. Mais: nem o PT nem nenhum grande partido nega a política da forma como Marina, a quase-Rede, nega. Marina nem sabe o que nega.

Em debate na TV Bandeirantes deixou claro o seu plano fatal: unir figuras como José Serra, Pedro Simon e Eduardo Suplicy. Como é possível que alguém acredite em tamanho delírio, ainda mais vindo de alguém que criou divergências por todos os lugares que passou?

O filósofo romano Sêneca definiu a raiva como “loucura temporária”. Marina tem raiva da política e não nos oferece novidades. Tem uma equipe econômica que pretende devastar o Banco Central e voltar aos tempos de arrocho, tem visões antiquadas sobre questões sociais que já avançaram em vários países do mundo. Seu problema não é ser evangélica. Meu irmão era diácono e tinha ideias firmes. Jamais foi enquadrado por pastores, como Marina parece ter sido por Silas Malafaia.

O problema de Marina, acima de todos os listados e que se possa listar, é nem saber quem é. Como votar nela se nem ela sabe em quem votaria?

Ana Helena Tavares é jornalista, conhecida por seu site de jornalismo político Quem tem medo da democracia?, com artigos publicados no Observatório da Imprensa e na extinta revista eletrônica Médio Paraíba.