Erros do Ocidente causam radicalização das comunidades islâmicas

O Ocidente está começando a perceber a escala da ameaça representada por organizações islâmicas, que se tornaram uma força poderosa na sequência da vaga de de golpes de Estado conhecidos como a Primavera Árabe.

Síria Londres Protesto

Sente-se que os próprios líderes ocidentais não estavam à espera de uma tal evolução dos acontecimentos, embora muitos peritos tivessem alertado a que podem levar manipulações com povos cuja identidade está longe dos ideais da democracia norte-americana.

Um dos que colocou armas nas mãos de islamistas, o primeiro-ministro britânico David Cameron, anunciou há dias com grande preocupação que os militantes do grupo radical sunita Estado Islâmico (EI) são a mais grave ameaça à segurança do Reino Unido.

A inteligência britânica estima que cerca de 500 súditos do Reino Unido estão combatendo nas fileiras de islamitas na Síria e no Iraque. A ministra britânica do Interior, Theresa May, já elevou o nível de alerta de ameaça terrorista de “significativo” para “grave”. A razão para esta decisão foram os recentes acontecimentos no Iraque e na Síria.

David Cameron não está sozinho em sua ansiedade. Barack Obama já há muito que não consegue propor ao mundo uma maneira de sair do impasse ao qual a arrogância dos Estados Unidos levou o Norte da África e o Oriente Médio.

O diretor do Centro de Pesquisas Sociais e Políticas, Vladimir Evseiev, nota: “o erro fundamental dos dirigentes norte-americanos é que eles estão constantemente tentando separar os islamistas em moderados e radicais. Na verdade, os islamistas são sempre os mesmos seja onde for. Por exemplo, os norte-americanos destacam vários grupos islamistas 'moderados', na sua opinião, na Síria. Na realidade, esses grupos são semelhantes em ideologia e métodos de luta. O mesmo se aplica ao Talibã. Essa política leva a que os Estados Unidos acabam sempre por ajudar os seus inimigos. Acho que a história do surgimento de mercenários ocidentais nas fileiras da oposição síria, inclusive no Estado Islâmico, foi parcialmente iniciada pelos próprios norte-americanos, que queriam controlar a situação a partir de dentro. Os norte-americanos não conseguem entender que não existem islamistas totalmente controláveis”.

Londres também subestimou a gravidade da situação. O balde de água fria foi a tragédia do jornalista norte-americano James Foley, capturado em 2012 na Síria pelo grupo Estado Islâmico (EI). Recentemente, foi publicado na internet um vídeo da execução deste homem, e o papel de carrasco foi desempenhado por um militante mascarado que falava inglês com um sotaque típico dos habitantes do sul da Inglaterra.

Especialistas de inteligência britânicos afirmam se tratar provavelmente de Abdel-Majid Abdel-Bary, que há um ano morava numa mansão no valor de um milhão de libras no oeste de Londres. Os britânicos têm medo de imaginar o que acontecerá se esse Abdel decidir voltar às ilhas.

Os peritos têm mencionado repetidamente a ameaça de “exportação” de terrorismo dos países do Oriente Médio, onde junto com os militantes estão lutando muitos muçulmanos com passaportes britânicos.

Esses britânicos de vez em quando regressam ao seu país para recrutar novos combatentes. As autoridades admitem que cerca de 500 britânicos encontram-se em bandos de militantes em zonas de combates. A maioria deles estão lutando no Iraque e na Síria.

Como medida preventiva, a polícia britânica terá o direito de confiscar os passaportes de cidadãos do Reino Unido aos suspeitos de terrorismo e de proibi-los temporariamente de entrarem no país.

No entanto, mesmo um passo tão hesitante está causando a Londres grandes dificuldades porque vários parlamentares se opõem às novas iniciativas do governo, considerando-as uma violação do direito internacional.

Mas o principal problema continua a ser a luta contra a radicalização dos muçulmanos europeus. A questão de saber por que motivos eles se juntam às fileiras dos jihadistas permanece em aberto. O professor da escola de psicologia do Trinity College, Ian Robertson, acredita:

“Na Europa Ocidental, os homens muçulmanos não conseguem se integrar em sua diáspora nativa. Os Estados Unidos se esforçam em dar bom trabalho aos imigrantes, sem que ninguém os impeça de se sentirem parte de seu povo, mas na Europa nós não organizamos o processo muito bem. Para não perder a sua identidade nacional, os muçulmanos aderem a um forte grupo de “compatriotas”, querem se sentir parte de uma luta comum. E a propaganda desempenha nisso um papel muito atraente, se torna cada vez mais sofisticada e convincente”.

O doutor Ian Robertson acredita que os jovens sempre foram e sempre serão atraídos pela oportunidade de lutar por suas convicções. Outra razão é o acesso fácil à força de recrutamento mais poderosa – a identidade islâmica. A Internet desempenha um papel enorme, online é possível ser parte de um grupo que está lutando contra a injustiça global. A propaganda tornou-se tão avançada e convincente que atrai um grande número de jovens muçulmanos.

Existe também o chamado elemento ideológico. Ele consiste na afirmação de que não apenas os jovens estão perdendo o contato com suas raízes étnicas, mas de que esses próprios grupos étnicos estão em fase de degradação cultural.

Seja como for, o doutor Ian Robertson duvida da possibilidade dos jovens islamistas europeus retornarem ao seio da civilização ocidental: “Estou muito pessimista na questão de “reabilitação” de jihadistas. Detenção e prisão me parecem medidas fracas, nós claramente subestimamos o nível de insalubridade do ambiente em que vivemos. Se queremos mudar o comportamento das pessoas, é necessário mudar o seu habitat. Portanto, se nós queremos a paz, pelo menos alguma estabilidade na Síria, no Iraque e em outros países, devemos não caçar jihadistas, mas normalizar a situação lá, nos locais”.

E para isso deveríamos não abalar o mundo muçulmano, que durante séculos viveu segundo seus cânones e nunca aceitou mudanças impostas do exterior. Infelizmente, o Ocidente fez o contrário: graças a seus esforços, o arco ardente de instabilidade se estendeu por toda a região. Este fogo poderá um dia inflamar também a próspera Europa.

Fonte: Voz da Rússia