Esquerda, volver!

 O caminho da vitória para Dilma é avançar para a esquerda.

 Claudio Machado*


O PT sempre evitou entrar em conflito com os grandes grupos conservadores da mídia, com os banqueiros e com o empresariado de direita, tentando se equilibrar entre os compromissos com a modernização do Brasil, com políticas sociais e de inclusão e o não enfrentamento de mazelas históricas como o monopólio dos meios de comunicação concedidos, a especulação financeira e o boicote de setores do grande capital às políticas governamentais que não seguem a cartilha do neoliberalismo econômico. 

A convivência pacífica com estes setores pode ter sido uma escolha necessária, imposta por uma correlação de forças amplamente desfavorável no parlamento e fora dele, mas esse caminho não é mais possível. A tática deve  ser revista à luz das jornadas de junho de 2013 e do comportamento cada vez mais belicoso da direita, impaciente para retornar a dar as cartas no governo federal.

Se a campanha de nossa candidata seguir mostrando apenas o que fez e o que fará nos limites da barreira imposta pelo cerco  conservador de aliados e adversários, sem afirmar a decisão do novo governo em ultrapassar essa fronteira, o risco de não conquistarmos a quarta vitória do povo se potencializa. Sucumbiremos à onda do Collor de saias. Felizmente parece que o rumo da campanha está mudando nessa direção, mas é  preciso ir além.

Dilma tem que se comprometer aberta e incisivamente com bandeiras tais como a redução da jornada de trabalho; regulamentação do artigo 153, inciso VII da Constituição Federal, que determina a combrança de imposto sobre as grandes fortunas; democratização da mídia, conforme também prevê a constituição; fim do fator previdenciário; reforma agrária radical em cima de grandes propriedades especulativas e improdutivas, acompanhada de um forte programa de investimentos e custeio para os novos e antigos assentamentos; reforma urbana; incentivo e promoção ao uso de instrumentos que fortaleçam o exercício da democracia participativa, como o plebiscito e o referendo; denúncia e combate ao rentismo e à especulação financeira, incentivando investimento em atividades produtivas e, por aí vai;

Deve também desmascarar o discurso de Marina e coloca-la onde realmente está, ou seja, ao lado dos banqueiros, do grande empresariado a serviço do imperialismo mundial e de militares golpistas do Clube Militar, que recentemente publicaram tenebroso manifesto em apoio à candidata que prega a tal "nova política", sentada no colo da velha direita antidemocrática. 

Só essa inflexão à esquerda é que será capaz de mostrar de que lado a candidata petista e as forças que a apoiam estão e estarão, mesmo que desagrade segmentos conservadores aderidos ao projeto de reeleição. Assim, as chances de vitória irão aumentar e o PT continuará sendo o caudatário dos anseios por mudanças clamadas pela maioria do povo brasileiro.


Por outro lado, mesmo que Dilma seja derrotada – o que torna-se cada vez mais improvável – essa guinada à esquerda servirá para agrupar e reorganizar as forças políticas mais avançadas, os movimentos sociais, sindicais e setores progressistas da sociedade para enfrentar o neoliberalismo que, caso Marina saia vitoriosa, ressurgirá com nova roupagem, na pele de uma candidata messiânica, que prega uma nova política, mas que na verdade traz camuflados por debaixo dessa roupagem, banqueiros e outros empresários antinacionais, ávidos por lucros ilimitados, às custas da espoliação das riquesas do país, de seus trabalhadores e da maioria do povo brasileiro.

 

No entanto, se Dilma e seus estrategistas esperam poder vencer com o apoio da direita que supostamente tem temor a Marina, poderá dar com os burros n'água, simplesmente por que esse temor não existe e mesmo que alguns a temam, esse medo é menor do que a verdadeira ojeriza ao PT, que nesse meio e em sua área de influência chegou a níveis psicóticos. Se ainda assim Dilma ganhar com o improvável apoio da direita, terá que realizar um governo mais conservador, sem ter condições de avançar nas mudanças tão necessárias para o aprofundamento da democracia e para o bem estar do brasileiro. O fracasso do projeto estará sendo apenas adiado. 

Mas se perder abraçada com a direita, será ainda pior, pois o Partido dos Trabalhadores não terá mais legitimidade para liderar as forças de esquerda e progressistas no combate ao neoliberalismo que se imporá novamente com a eleição da outra candidata.

Ganhando ou perdendo, é preciso que seja com as bandeiras da classe trabalhadora e da maioria do povo brasileiro.

E, para trazer mais complexidade ao quadro atual, não podemos esquecer que o resultado dessa eleição não terá reflexos apenas no Brasil. Todos os governos e movimentos de esquerda e progressistas da América Latina serão impactados pelo resultado que sairá das urnas em outubro ou novembro. Isso torna ainda mais fundamental alcançar a quarta vitória do projeto cuja implantação se iniciou em 2003, com o primeiro governo Lula.

Até a vitória, sempre!!!!