Dilma adverte sobre paralisia no Brasil com autonomia do Banco Central

A presidenta Dilma Rousseff, candidata à reeleição, participou na manhã desta sexta-feira (12) de sabatina do jornal O Globo e voltou a criticar a proposta de autonomia do Banco Central e da maior presença de bancos privados na economia em lugar dos bancos públicos, chamando atenção para as consequências de uma paralisia nos investimentos de políticas sociais e de infraestrutura. A presidenta também voltou a enfatizar as realizações de seu governo no combate à corrupção.

Foto: Ichiro Guerra

As propostas de autonomia do Banco Central e da diminuição do papel dos bancos públicos na economia apresentadas pela candidata Marina Silva (PSB) foram analisadas pela presidenta Dilma, que relacionou esta intenção a consequências negativas para economia. “Diminuir o papel dos bancos públicos vai acabar com o financiamento do investimento, da Agricultura, de todas as obras de infraestrutura. Quando cheguei no governo, o financiamento de longo prazo no Brasil era de 5 a 7 anos. A taxa de juros era de duas casas. Não existe obra de infraestrutura se não tem financiamento de 30 anos, que não tenha taxa de juros compatível com longo prazo”.

Dilma reforçou que a ampliação da presença dos bancos públicos na economia ao longo dos governos Lula e Dilma foi fator decisivo para o estabelecimento de parcerias com o setor privado para as obras de infraestrutura que já estão concluídas e as que estão em curso em todo país. “Estou falando de obra de energia elétrica, de metrô, rodovia, ferrovia, portos e aeroportos. Sem essas condições de financiamento, não terá investimento nesse país. Está dito no programa (de governo de marina Silva), e isso é uma irresponsabilidade”.

Além da infraestrutura, Dilma advertiu que a proposta de Marina Silva tira as condições essenciais para a existência de programas como o Minha Casa Minha Vida. Com base em uma família que ganha R$ 1,6 mil reais, Dilma explicou que, nas condições do mercado praticadas pelos bancos privados, a prestação de um apartamento no valor de R$ 60 mil sairia a R$ 940. Hoje, com o financiamento da Caixa, a prestação do Minha Casa Minha Vida não passa de R$ 80, limitado a 5% da renda do beneficiário.

Política

“Dizer que vai governar com os bons não é uma proposta. Quem é que vai governar com os maus? Todo mundo quer governar com os bons! Mas só isso não resolve o problema da reforma política. Eu tenho visão diferente [de Marina]. Para mim, a democracia não pode prescindir de partidos. Toda vez que isso aconteceu, caímos na mais negra das ditaduras”, alertou.

Não tenho dúvida de que não se governa sem partidos. Pode esperar que por trás dos panos, tem coisa muito pior que partido. Partido pelo menos briga na luz do dia. Nós temos muito pouco tempo de democracia para correr riscos”, explanou.

Dilma defendeu que o País avançou, nos últimos anos, na direção de uma sociedade mais inclusiva e democrática. Porém, a política continua atrasada. “O que avalio é que não vamos passar a reforma que precisamos simplesmente pela mão do Congresso [como defende Marina]. Isso foi tentado pelo Lula e não teve sustentação. Eu acredito que, de fato, a melhor ideia é fazer consulta popular. Só essa consulta vai dar legitimidade e força àquilo que a população resolver. É a população que vai votar majoritariamente por uma reforma – e eu não vou dizer qual reforma é essa, pois isso também tem que ser decidido pelo povo”, defendeu a presidenta.

Petrobras

Dilma afirmou que não teme que o depoimento do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, afete negativamente a campanha. “Não temo, de nenhuma forma, porque acho que isso não afeta nem a mim, nem as pessoas por quem tenho elevada consideração e apreço. Agora, todos os que foram afetados terão de ser punidos”, afirmou.

A presidenta lembrou ainda que o resultado da investigação é uma consequência da liberdade que seu governo dá à Polícia Federal e ao Ministério Público para cumprimento dos seus papéis. “Aumentamos a investigação, não a corrupção. Não empurramos pra debaixo do tapete, não engavetamos, nós investigamos porque damos autonomia à Polícia Federal para fazer isso”.

Outro aspecto criticado por Dilma foi o uso político das CPIs, que não apresentam o mesmo ímpeto quando envolve denunciados de outros partidos “Acho que a CPI tem sido mais uma arma política do que de investigação. Todo ano eleitoral tem uma CPI. Nos nossos governos, pelo menos, contra a Petrobras. Outras CPIs necessárias não andam. Tem hoje uma CPI sobre os metrôs, a história da Alstom e da corrupção de funcionários do governo de São Paulo. Não há procedimento, por exemplo, ao chamado Mensalão Mineiro”.

Religião e agenda LGBT

Questionada sobre religião, Dilma, “na condição de cidadã”, respondeu que foi aluna de um colégio de freiras na juventude e começou a fazer política com um núcleo chamado “Grupo Gente Nova”. “Depois, em Porto Alegre, eu tive uma relação mais ou menos desse tipo com um grupo religioso. Eu sou uma pessoa que acredita nos princípios da religião católica. A religião tem uma base ética entre as pessoas. Isso, para mim é um valor”, comentou. A Dilma presidente, entretanto, pediu destaque à seguinte ressalva: “O Estado é laico, o Estado não tem religião, não deve ter. E é inconstitucional transformar qualquer religião em religião do Estado”, bradou.

Quanto à agenda LGBT, Dilma reafirmou o compromisso com a criminalização da homofobia e a garantia de direitos civis a todos os cidadãos que integram o segmento. Mas colocou um limite ao papel do gestor público.

“O Estado não tem a obrigatoriedade de impor o casamento religioso. O Estado é laico e não pode interferir nas religiões. O Estado tem obrigação, sim, de reconhecer direito de herança, adoção e todos os direitos civis que pessoas heterossexuais tenham. Essa questão foi resolvida até pelo Supremo Tribunal Federal. Isso está pacificado. A discussão central agora é sobre a homofobia. A criminalização num país como o Brasil é absolutamente necessária, assim como foi necessário criminalizar a violência contra o negro e contra a mulher.”

Com informações do Portal Dilma e GGN