Preços do petróleo: EUA tenta prejudicar a Rússia?

A continuação da queda de preços do petróleo obriga os especialistas a se perderem em conjecturas e a procurarem explicar esse fenômeno através de diversas teorias da conspiração. Os analistas dizem, alarmados, que o mercado deixou de ser previsível.

Por Serguei Duz

Petróleo na África - Pius Utomi Ekpei/AFP

O preço do barril de Brent desceu pela primeira vez desde dezembro de 2010 abaixo dos 90 dólares. Os contratos de futuros do petróleo WTI com entrega em novembro se estão aproximando dos 80 dólares. Isso acontece em um contexto de toda uma série de abalos entre os quais se pode destacar a crise ucraniana, os sucessos dos fundamentalistas no Iraque e a perda de controle sobre a disseminação do vírus ebola.

“Ainda há poucos anos um desses fatores já seria suficiente para que o preço do petróleo estivesse crescendo rapidamente”, escreve o jornal alemão Die Welt. Contudo, a relação empírica de causa e efeito falhou desta vez.

Na opinião de alguns especialistas, não é de excluir que tudo isto tenha sido uma consequência de uma concertação entre vários dos protagonistas do mercado, incluindo os EUA e os países do Oriente Médio. Assim, por exemplo, pensa o antigo ministro das Finanças da Rússia Alexei Kudrin. Segundo ele afirma, existem dados sobre políticas idênticas praticadas no passado.

É interessante verificar que os partidários da teoria da conspiração apoiam duas versões opostas. De acordo com a primeira, os EUA terão convencido a Arábia Saudita a prejudicar a Rússia, a qual obtém metade das suas receitas orçamentais da venda de hidrocarbonetos. De acordo com a outra versão, o alvo do ataque são os próprios Estados Unidos, cujos sucessos na exploração do petróleo de xisto minam as posições dos fornecedores tradicionais.

Não deixam de existir, porém, fatores fundamentais que fazem baixar os preços. Graças a essa mesma revolução do xisto, os EUA extraem neste momento uma quantidade incalculável de petróleo, que antes teriam de importar. Os outros fatores fundamentais que fazem baixar os preços são descritos pelo diretor da divisão de análise do Fundo Nacional de Segurança Energética Alexander Pasechnik.

“A China tem reduzido nos últimos meses suas importações de petróleo. Já na Líbia, apesar da instabilidade política, verificamos um aumento da extração de petróleo. Ou seja, observamos uma determinada saturação dos mercados. Tenho de referir que agora os fatores geopolíticos não interferem muito nas cotações. Ninguém presta atenção às guerras. É possível obter um mínimo local na ordem dos 80 dólares, mas isso será por muito pouco tempo. A esses níveis a revolução do xisto norte-americana poderá acabar. Durante cinco a sete anos o petróleo irá aumentar de preço por uma razão básica: os principais campos terão de ser abandonados, por estarem esgotando, e terão de começar funcionando projetos complexos na plataforma continental. Em consequência disso, os custos de exploração irão aumentar.”

Os especialistas indicam, contudo, que os custos de exploração do petróleo de xisto estadunidense se aproximam dos 30 dólares por barril, bastante abaixo dos 80 dólares que serviram de base à elaboração do orçamento da Arábia Saudita.

Assim, os sauditas não podem deixar cair completamente os preços. Já a margem de resistência da Rússia é incomparavelmente superior. Portanto, se isto for uma guerra contra Moscou, os perdedores dessa guerra serão outros.

Fonte: Voz da Rússi