Derrotados, rentistas lançam plano B: ministro da Fazenda independente

Passados apenas dois dias do resultado de uma eleição de acirrada disputa, em que os representantes da oligarquia financeira saíram derrotados, agora o cassino da especulação tenta criar um terceiro turno das eleições, para emplacar um ministro da Fazenda que atenda os seus interesses.

Da Redação do Portal Vermelho, Dayane Santos

Dilma - Agência Brasil

A economia foi um dos principais temas dessa campanha, tanto no primeiro como no segundo turno das eleições. Os adversários de Dilma disputaram quem apresentaria o plano de governo que mais atenderia aos desejos do mercado. Marina Silva (PSB) propôs a independência do Banco Central e o mercado aplaudiu. Aécio Neves (PSDB) não perdeu tempo e, além da garantia de “medidas impopulares”, tratou logo de dizer que o seu governo já tinha um ministro da Fazenda: Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo FHC e homem credenciado pelos especuladores como George Soros, de quem Fraga já foi funcionário.

Na bolsa, a cada subida da candidata nas pesquisas, o índice Ibovespa despencava e o dólar subia. Na imprensa, uma enxurrada de estimativas pessimistas foi lançada para respaldar a ideia de que a inflação estava descontrolada e o desemprego estava batendo à porta dos brasileiros. Na campanha, a pressão contra Dilma foi para que ela dissesse quais seriam as mudanças na economia no segundo mandato. A única coisa que conseguiram arrancar foi que, por uma decisão pessoal do ministro, Guido Mantega não ficaria na Fazenda no segundo mandato.

Dilma não cedeu à chantagem rentista e a realidade atropelou o terror inflacionário. A estratégia neoliberal foi recorrer ao caso Petrobras. Às vésperas do segundo turno, a revista Veja publicou matéria de capa em que afirmava que, de acordo com depoimento do doleiro preso Alberto Youssef, Lula e Dilma sabiam dos desvios na Petrobras.

Golpe da Veja desmascarado

A mentira de pernas curtas foi desmascarada. A intenção da Veja de interferir no resultado das eleições foi denunciada a tempo pela própria presidenta em seu último programa de TV da campanha.

O golpismo midiático foi tão explícito que os demais veículos da grande imprensa não quiseram embarcar na onda da Veja. O diretor de jornalismo da TV Globo, Ali Kamel, informou em carta enviada à Folha de S. Paulo que a emissora não repercutiu a reportagem porque a revista “não provou a denúncia com suas fontes”. Na carta, Kamel explica que noticiou os protestos em frente à sede da revista porque ”não poderia ser ignorado”.

A repercussão veio em efeito bumerangue. Matéria publicada no Portal Brasil 247 desta segunda (27), afirma que a direção da Editora Abril estava irritada com os efeitos da matéria. Segundo a matéria, o diretor de redação Eurípedes Alcântara teria sido chamado a um jantar na casa do presidente do Grupo Abril, Fábio Barbosa, ao qual também compareceram os redatores-chefes Lauro Jardim, Fabio Altman, Policarpo Jr. e Thaís Oyama, para dar explicações.

Nariz torcido

Derrotada nas urnas, a oligarquia financeira torce o nariz, mas é obrigada a aceitar Dilma como presidenta. E como o plano de um Banco Central independente foi por água abaixo, agora joga todas as suas fichas num “ministro da Fazenda independente”. Um ministro que tenha mais poderes que a presidenta Dilma, cujo papel seria reduzido à mera formalidade protocolar, sem interferência nas decisões da economia brasileira.

A Bolsa de Valores, que na segunda (27) caiu em 2,77%, nesta terça (28) opera em alta, sinalizando uma breve trégua, enquanto a presidenta não anuncia o nome que eles querem para o ministério. E como num cassino, as apostas e blefes crescem a cada instante, principalmente pela imprensa.

A manchete do jornal Valor Econômico desta terça (28) chega a dizer que o ex-presidente Lula teria feito três indicações para a pasta da Fazenda: Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco; Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central; e Nelson Barbosa, ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda. Essa informação, que mais parece um boato, nada mais é que uma tentativa de emplacar um ministro ligado ao mercado.

O colunista político Kennedy Alencar, em seu comentário na rádio CBN, diz que dos 39 ministros, Dilma pretende manter apenas dez, sendo que “a principal peça é a equipe econômica”. Segundo ele, foi “infeliz” a declaração de Guido Mantega, de que com a reeleição o povo aprovou a política econômica do governo. “Ora, a presidente quase perdeu por causa da política econômica. O mercado financeiro e o empresariado torceram contra a petista”, disse ele.

A coação do mercado financeiro é porque durante toda a campanha, a presidenta Dilma reafirmou que a sua preocupação é com o emprego, a melhoria da renda do trabalhador e da vida das pessoas. “Não somos aqueles que só pensam nos banqueiros e nos juros. Somos aqueles que querem melhorar a vida de cada família”, asseverou Dilma em campanha no Rio de Janeiro, dia 20 de outubro.

Sem chance

Para o mercado financeiro, como apontou a revista The Economist – panfleto dos rentistas – as conquistas sociais “não são palpáveis”. A medida concreta que eles querem é ajuste fiscal e juros na estratosfera para pagamento da dívida pública à custa da estagnação econômica, desemprego em massa.

O presidente do PT, Rui Falcão, em coletiva de imprensa nesta segunda (27), afirma que o eventual indicado precisará apenas de uma coisa: “Comungar e manter a atual linha econômica do governo, mais voltada ao mercado consumidor e ao mercado de trabalho. Não podemos nos pautar pelo mercado financeiro”.

Dilma, por sua vez, em entrevista também nesta segunda (27), um dia após a vitória nas urnas, manteve o tom da campanha e mostrou que não vai ceder a chantagem: “Não tenho o menor interesse em fazer essa discussão agora. No tempo exato, eu darei os nomes”.