No Vaticano, movimentos sociais debatem novo modelo de desenvolvimento

O Encontro Mundial de Movimentos Populares, que começou nesta segunda-feira (27) e encerra nesta quarta-feira (29) cumpre a função de aproximar o papa Francisco dos movimentos e organizações sociais para discutir e procurar soluções para os problemas do mundo.

Encontro mundial de movimentos sociais no Vaticano - Adital

Mais de 100 líderes de grupos sociais e leigos, 30 bispos engajados com a realidade dos movimentos sociais em seus países e 50 agentes pastorais, além de alguns membros da Cúria Romana, participam do evento, considerado por seus participantes como “sem precedentes”, por se tratar e uma iniciativa do Vaticano. Evo Morales é um dos destaques da atividade, ele participa não como presidente da Bolívia, mas como ex-líder indígena dos plantadores de coca de seu país.

O evento é organizado e promovido pelo Pontifício Conselho da Justiça e da Paz, em colaboração com a Pontifícia Academia das Ciências Sociais. Entre os representantes brasileiros está o secretário-geral da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, dom Leonardo Steiner. Os participantes foram recebidos nesta terça-feira (28) pelo papa Francisco.
O cardeal Peter Turkson, presidente da entidade que promove o evento, destacou que o encontro tem por objetivo fortalecer a rede de organizações populares, favorecer o conhecimento recíproco e promover a colaboração entre eles e as Igrejas locais, representadas por bispos e agentes pastorais comprometidos na promoção e tutela da dignidade e dos direitos da pessoa.

“Sustentados, muitos de nós, pela fé em Cristo, que se fez pobre entre os pobres, e fortes pelo magistério social de Sua Santidade e da Sua preocupação para com as vítimas da indiferença e do egoísmo de um sistema social e econômico elitista, estamos reunidos hoje, no Vaticano, para receber do senhor, Santo Padre, palavras que nos iluminem e nos apoiem em nosso difícil caminho para a construção de uma sociedade mais justa e solidária, onde ninguém seja considerado um descarte, mas visto com o olhar de Deus, que abraça todos os seus filhos, especialmente aqueles a quem o Senhor chama de ‘meus irmãos e irmãs menores”, disse o cardeal.

O arcebispo argentino Marcelo Sánchez Sorondo, chanceler da Pontifícia Academia das Ciências Sociais, explicou que "o Papa Francisco compreendeu que, devido ao que ele chamou de 'globalização da indiferença', há muitas pessoas que não têm lugar ou reconhecimento na sociedade, nem por parte do Estado, nem por parte da sociedade civil, e que, se essa pessoa não for integrada, dá origem a manifestações para reivindicar os direitos, porque, se não se resolvem as injustiças nem as desigualdades, não se resolvem os problemas". 

O Encontro é uma continuação do debate ocorrido no Vaticano em novembro de 2013, também com a participação de alguns representantes de movimentos sociais.

Da mesma forma, o encontro que tem por objetivo “elaborar uma síntese da visão dos movimentos populares em torno das causas da crescente desigualdade social e do aumento da exclusão em todo mundo, principalmente a exclusão da terra, do teto e do trabalho”, e “propor alternativas populares para enfrentar os problemas gerados pelo capitalismo financeiro, a prepotência militar e o imenso poder das transnacionais, como a guerra, a fome, desemprego, exclusão, despejos e miséria, com a perspectiva de construir uma sociedade livre e justa”.

Pão, Terra e Lar

O evento vai abordar três eixos de discussão, chamados simbolicamente de “Pão”, “Terra” e “Lar”. O primeiro se refere às condições de vida dos trabalhadores informais e jovens e as problemáticas do mundo do trabalho; a segunda vai discutir o campesinato, a agricultura, soberania alimentar e a questão ambiental; e a terceira, as periferias urbanas, a vida precária na cidade. Dois outros temas completam o debate: “Ambiente e mudanças climáticas” e “movimentos pela paz”.

“O Encontro vai abordar as causas estruturais e sistemáticas das situações de marginalidade das quais padecem os seus representantes. Com a mesma perspectiva vamos debater as mudanças climáticas e a guerra. Uma mudança do nosso modelo de desenvolvimento econômico requer necessariamente a opinião e participação daqueles que sofrem as lamentáveis consequências do modelo vigente, para que se busque efetivamente um progresso social que respeite a inclusão de todos”, afirma a pauta do evento.

Além disso, o encontro deseja discutir a relação entre a igreja e os movimentos sociais, e como se pode avançar na criação de uma instância de articulação e colaboração permanente.

Da redação do Vermelho, com agências