EUA querem impor tratado de livre comércio que exclui China e Rússia
A competência entre as iniciativas da China e dos Estados Unidos sobre a formação da zona de livre comércio na região é uma das principais dissonâncias da reunião de cúpula do Fórum de Cooperação Ásia-Pacífico em Pequim.
Por Nina Antakolskaya*, na Voz da Rússia
Publicado 11/11/2014 18:47
Ao mesmo tempo, ao que tudo indica, a China e a Rússia elaboraram preliminarmente uma posição comum em relação à edificação de processos integracionistas na região.
A China, aproveitando-se do direito de anfitrião da cúpula, apresentou a iniciativa sobre a criação de uma zona de comércio livre na APEC, no encontro em que participam todas as economias sem exceção da região. O autor da proposta é o presidente da República Popular da China, Xi Jinping, que reconheceu no primeiro dia do encontro informal, sem gravata, que serão necessários esforços colossais para que a iniciativa se torne realidade. Mas, em suas palavras, cada economia e todo o comércio regional sentirão vantagens desta proposta.
A iniciativa da China será fixada num documento especial da cúpula e foi apoiada pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, na primeira sessão de trabalho do encontro:
“Gostaria de valorizar altamente o plano elaborado sob a presidência de Pequim, voltado para incentivar o comércio livre da zona da Ásia e do Pacífico. As medidas previstas nele ajudarão a harmonizar as iniciativas integracionistas realizadas no espaço da APEC. Tanto mais que elas diferem tanto pela profundidade da integração, como pelo número de participantes. Este fato, com certeza, encerra um perigo potencial de divisão da região comum em várias associações que vão competir entre si”.
A ideia de Xi Jinping e a advertência de Vladimir Putin de não dividir os processos integracionistas na APEC em blocos foram dadas como desafio e reproche em relação aos Estados Unidos. Washington tenta formar a Parceria Trans-Pacífico (TPSEP, em inglês) com a participação de 12 países, mas sem a Rússia e a China. Pequim está irritada com essa iniciativa, porque os esforços americanos têm conteúdo abertamente anti-chinês.
Não é casual que ainda na véspera da cúpula da APEC os jornalistas chineses perguntaram sobre a atitude do presidente russo para com o projeto dos Estados Unidos. É pouco provável que a não-presença da Rússia e da China no TPSEP permita construir uma interação comercial-econômica eficaz na região, respondeu Vladimir Putin que qualificou a formação do TPSEP como mais uma tentativa dos EUA de criar uma arquitetura de cooperação econômica vantajosa para si.
À margem da cúpula em Pequim, por iniciativa dos Estados Unidos, foram efetuadas negociações com os candidatos ao TPSEP. Com base em seus resultados foi contatado considerável progresso, mas os prazos de assinatura do respetivo acordo não foram anunciados. Segundo o regulamento, os participantes da cúpula da APEC estão no direito de discutir quaisquer questões.
Entretanto é evidente que a vontade dinâmica dos EUA de fazer avançar a ideia do TPSEP na cúpula da APEC pelas costas de Pequim irritou o anfitrião. Tanto mais que o presidente americano Barack Obama e o primeiro-ministro australiano Tony Abbott, que apoia por todos os meios a ideia do TPSEP, ignoraram o encontro dos líderes das economias da APEC com representantes do Centro Consultivo Empresarial, na qual estiveram presentes as restantes altas personalidades dos países da região. Foi nesse encontro que Xi-Jinping explicou a iniciativa do país anfitrião de formar uma zona de comércio livre na APEC.
Neste contexto, os observadores destacam outro fator. O tema da intervenção do presidente da Rússia no segundo dia da cúpula coincidiu com a iniciativa chinesa. Vladimir Putin falou sobre a necessidade de respeitar os princípios de abertura e de transparência, assim como de considerar no máximo as normas e regras da OMC no quadro das negociações sobre a formação de novas zonas de comércio livre.
*Articulista na emissora pública de rádio Voz da Rússia