Paulo Sérgio: Só as ruas podem alcançar as mudanças necessárias 

O Brasil vive ainda uma democracia muito jovem que caminha para a sua consolidação. Estamos diante de apenas sete eleições presidenciais depois do período nefasto da ditadura militar. Nestes anos de democracia o Brasil passou por um impeachment, doze anos de um governo neoliberal que acabou por destruir e enfraquecer o papel do estado como indutor do desenvolvimento nacional até que em 2002 a história do Brasil conduziu o ex- presidente Lula a vitória nas urnas.

Por Paulo Sérgio de Oliveira*

Os governos Lula (2002 a 2010) foram os anos onde o país que estava em imenso retrocesso social e econômico pôde retomar o desenvolvimento, fortalecer sua economia e ainda gerar e distribuir renda de forma que milhões de brasileiros pudessem acender o que hoje chamamos de nova classe média. No ano de 2010, o país elegeu a primeira presidenta mulher de sua história. E ela teria diante de si um país em crescimento, uma economia consolidada, mas um cenário internacional conturbado em função da crise sistêmica do capitalismo iniciada em 2008.

Mesmo diante deste cenário adverso e com um governo de coalizão, a presidenta Dilma conclui seu governo mantendo a situação econômica do país controlada e com índices de redução da desigualdade consideráveis. Além dos investimentos que os governos Lula e Dilma fizeram na área de educação que democratizaram o acesso ao ensino superior público e ainda abriram portas para que mais de um milhão de jovens tivessem acesso ao ensino superior pelo Prouni.

A reeleição da presidenta Dilma indica que o povo brasileiro escolheu um caminho a seguir, a opção progressista, da visão moderna de sociedade democrática, a busca do desenvolvimento econômico com redução das desigualdades sociais. Os resultados das urnas é também o apoio do país à política externa independente, à busca por autonomia e soberania nacional expresso quando a presidente Dilma é uma das protagonistas da fundação de um Banco do BRICS. As eleições também revelaram que a direita antes escondida se assumiu, e o crescimento do pensamento conservador e “raivoso” expresso em parte da votação de Aécio Neves, que soube representar a o ensejo do retorno do retrocesso que viveu o Brasil na década de 1990.

O segundo governo da presidenta Dilma será um momento de grandes embates políticos na sociedade brasileira, pois ela está diante de um congresso nacional que conta com a presença de 28 partidos e a base aliada com um número menor de deputados, portanto o este governo além de todos os arranjos políticos dotados nos últimos anos precisará agora mais do que nunca do apoio vindo das ruas com uma pressão consequente e avançada produzida pelos movimentos sociais.

O povo brasileiro carece de mudanças estruturais que só poderão ser realizadas com muita pressão nas ruas, pois, a se depender de nosso congresso nacional eleito essas não serão feitas. Ao analisarmos a primeira semana pós segundo turno no congresso nacional barrando pautas que são de extremo interesse do povo é pra nós um recado de que não podemos ficar à mercê tão-só, do congresso nacional conservador precisamos dar à presidenta as condições objetivas de fugir a essa armadilha. Mais do que nunca, seu governo, e sua inclinação ideológica, dependerão do apoio popular para que possamos avançar ainda mais este país.

As reformas democráticas que o povo tanto almeja começam pela Reforma Política e nós não podemos nos iludir e pensar que o plebiscito sairá de forma fácil, pois, a mídia e o congresso já deixaram claro que preferem uma minirreformas feita a quarto portas e colocada como referendo á população. É necessário ir ás ruas e dizer que o povo não quer uma imposição das vontades do congresso nacional e sim uma reforma política que passe necessariamente pelo financiamento público exclusivo de campanha sendo este o grande problema do nosso sistema eleitoral.

É importante lembrar que a presidente Dilma se elegeu também ao meio de uma campanha ostensiva e desleal feita pela mídia contra a figura da mesma e do campo progressista, portanto é este também outro grande tema que as ruas deverão cobrar para que uma regulamentação da mídia seja feita, não podemos mais aceitar que a mídia cheia de suas inverdades continue enganando o povo.

Este é o momento histórico que nos colocamos e como já dizia o poeta mineiro João Guimarães Rosa

“O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem”.

Coragem sim, pra ir ás ruas e empurrar o governo pra realização das reformas estruturantes tão almejadas no país.

* Paulo Sérgio de Oliveira é presidente da União Estadual dos Estudantes