Sanções ocidentais são “tiro no pé”, dizem observadores russos
Na semana passada, o presidente russo Vladímir Pútin concedeu uma entrevista à agência de notícias Tass, na qual expressou uma série de opiniões sobre a atual situação mundial e a crescente importância do G20. Para ele, o foro é “uma plataforma que possibilita discutir relações bilaterais e questões globais, e até mesmo desenvolver um entendimento comum” sobre os problemas correntes.
Por Guevorg Mirzaian, na Gazeta Russa
Publicado 18/11/2014 15:55
“Em comparação com alguns outros fóruns, como o Conselho de Segurança ou o G7, o G-20 é mais representativo. Trata-se de representação, porque, ao contrário da Assembleia Geral da ONU, no G20 estão reunidos apenas os Estados mais influentes”, concorda Dmítri Suslov, vice-diretor de programas de pesquisa do Conselho de Política Externa e Defesa. “Na Assembleia Geral, os participantes se expressam, e no G-20 eles resolvem o problema.”
De acordo com os observadores russos, as partes sentem-se, portanto, mais livres na composição da pauta do dia e das diretrizes para ações de longo prazo. “O G20 não tem nenhum instrumento para a implementação de decisões nem instituições que poderiam obrigar uma decisão a ser executada. Se a conjuntura mudar após a reunião, os países podem simplesmente se recusar a executar as decisões tomadas”, afirma o diretor do programa do Conselho Russo de Negócios Estrangeiros, Ivan Timofeiev.
Ainda na entrevista à agência Tass, Pútin criticou as sanções ocidentais adotadas contra a Rússia, que não só afetam o país, como também as economias europeias. “Graças à nossa colaboração com a Alemanha, lá surgiram 300 mil postos de trabalho”, ressaltou.
Atualmente, os governos e as empresas europeias estão procurando meios para compensar as perdas causadas pelas medidas adotadas contra a Rússia. “E não apenas pelas sanções – a cooperação econômica sofre com a redução do número de viagens de negócios, das autorizações de trabalho na Rússia etc. Os governos enchem as empresas com dinheiro, esperando que o conflito não dure muito e que Moscou quebre”, diz o diretor do Centro de Estudos Europeus e Internacionais, Timofei Bordatchov.
Brics com pé atrás
De acordo com o presidente russo, a consequência mais negativa das sanções é que elas prejudicam “todo o sistema de relações internacionais” – opinião corroborada pelos demais países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) reunidos à margem da recente cúpula do G20, em Brisbane.
“As sanções quebram a confiança entre os atores e as instituições da ONU, que se tornam um instrumento de competição desregrada, onde tudo os meios são válidos”, argumenta Timofeiev. “Elas não só não conseguem resolver o problema, como o agravam.”
De acordo com Dmítri Suslov, ao introduzir sanções contra a Rússia, o Ocidente “atira no próprio pé”, porque todos os centros de poder não ocidentais, como China, Índia e Brasil, o veem como um precedente. “Eles temem que em algum momento, apenas por razões políticas, vão fazer a mesma coisa com eles. Então, eles agora têm um incentivo para enfraquecer o controle do Ocidente sobre a ordem econômica mundial.”
A criação de instituições e sistemas de cálculos financeiros e econômicos mundiais alternativos, como já vem sendo discutido pelos países do Brics, é prova disso. “A aplicação de sanções estimula a cooperação qualitativamente nova entre os centros de poder não ocidentais da Eurásia, que não estão e não estarão incluídos nos projetos americanos”, acrescenta Suslov.
Mundo em chamas
Em vez de seguir o curso da transformação das associações regionais em elementos da ordem política e econômica global e cumprir as regras do jogo, os Estados Unidos, segundo Suslov, seguem uma política de exclusão dos países que não reconhecem a sua liderança global. “Paralelamente, reforçam a cooperação técnica-militar com aliados e levam a uma divisão profunda do mundo”, analisa.
Para Pútin, o mundo de hoje vive em condições de planejamento “com horizonte muito limitado”, especialmente na esfera da política e da segurança. “Todos vivem de eleições para eleições”, define.
“O próprio uso de sanções indica a ausência de qualquer estratégia significativa para resolver fenômenos de crise. E se não há uma estratégia, não há visão de longo prazo”, diz Timofeiev. “O maior exemplo disso é a Ucrânia: no último ano observamos de todos os lados ações táticas de improviso, constantemente ‘apagando incêndios’.”
Fonte: Gazeta Russa