Patrícia de Matos, diretora de Cultura, explica a Bienal da UNE

Para levantar os ânimos dos estudantes de todo país, chega em 2015 mais uma edição do tradicional festival de cultura da UNE. A Bienal se firma hoje como o maior evento estudantil da América Latina e completa a sua nona edição com uma bagagem exímia. O evento acontecerá no Rio de Janeiro, entre os dias 26 de janeiro e 01 de fevereiro.

Patrícia de Matos - Arquivo pessoal

Para falar sobre o festival, o site da UNE preparou uma entrevista exclusiva com a diretora de cultura da entidade, Patricia de Matos. Patricia viajou para diversas universidades e garante que os 27 estados brasileiros já estão se preparando para a 9ª Bienal da UNE. Ela passa a maior parte do tempo no Rio de Janeiro, ao lado de alguns estudantes que se mudaram para o estado para dar o gás final nestes meses que antecedem o evento.

Durante a entrevista, Patricia explica a relação da UNE com a produção cultural no país, discorre sobre o tema da 9ª BIENAL e conta o que os estudantes podem esperar dessa próxima edição.

Leia a entrevista na íntegra:

O que é a bienal da UNE? O que a diferencia dos outros grandes festivais do Brasil?

A Bienal da UNE é um evento que pretende reunir a produção cultural e artística dos estudantes, colocando-as em contato com manifestações e movimentos culturais diversos. É um espaço para as trocas culturais e para a reflexão a cerca da identidade cultural brasileira, além de ser um “território livre da criatividade”, onde todos podem ajudar a projetar o Brasil do futuro tendo como ponto de partida a cultura. A Bienal da UNE tem uma característica interessante: nela, pode-se iniciar um processo de circulação da arte que não encontrou espaço no mercado tradicional e na grande indústria. A Bienal também é um convite aos movimentos culturais. Eu acho que a proposta da Bienal é a de um grande caldeirão temperado pela diversidade. A Bienal também é um olhar crítico e reflexivo em relação a história do nosso povo e, principalmente, um espaço de disposição e generosidade daqueles que desejam um país melhor.

O tema escolhido foi “Vozes do Brasil”, como se deu essa escolha? O tema dialoga com as grandes manifestações de junho?

Entendemos que a língua é uma consonante para as formações identitárias. Ela é essencial para a construção das identidades dos povos. A nossa língua está marcada pela história cultural do nosso país ao sofrer a influência africana, indígena e europeia, gerando algo brasileiro. É assim que nós somos, uma mistura, né? Mas acho que queremos apimentar essa discussão trazendo para o interior da bienal a questão da linguagem e das várias formas de expressá-la, inclusive incorporando o que tem surgido de novo nesse âmbito. Acreditamos que a nossa geração está marcada culturalmente e politicamente pelas manifestações de junho do ano passado. A Bienal é um espaço para que essas vozes possam ser ecoadas livremente, transformadas em arte, maracatu e projeção, em um espaço alternativo às estruturas antidemocráticas que ainda impedem que essas vozes sejam ouvidas.

É por isso que a Bienal é considerada também um evento politico?

Sim. A política e a cultura devem andar juntas. Defender o direito à cultura é também defender o direito à autonomia. Essa é uma reivindicação profundamente política.

Qual a principal importância da Bienal para a cultura do Brasil?

A UNE tem uma tradição de se preocupar com as questões nacionais, o que fez com que ela se caracterize por ser partícipe dos principais momentos da nossa história, desde sua fundação, em 1937. Nesse sentido, para nós, não há como pensar no desenvolvimento do Brasil sem considerar a cultura. Fica muito claro que o desenvolvimento que sirva ao conjunto dos brasileiros passa por considerá-los como protagonistas na construção histórica. Não há possibilidade de seguir esse caminho sem considerar a cultura como elemento emancipador.

A programação abarca diversos segmentos, da cultura popular, como saraus, grafites, oficinas de música. Como é preparada essa programação?

É um longo processo de construção conjunta. Ela é a meio que a impressão da produção artística e cultural universitária, dos movimentos culturais das periferias dos centros urbanos, de artistas e coletivos de cultura. A ideia é que cada atividade da bienal, da oficina ao sarau, possa colocar todas essas experiência em contato.

Qual a avaliação das atividades culturais da UNE ao longo desses 16 anos, desde a primeira Bienal?

Acumulamos muito após 16 anos de Bienal. Iniciamos em 1999, rearticulando as atividades culturais da UNE que sofreram um grande ataque a partir do golpe militar de 1964. A partir daí, discutimos a cultura em movimento e o que culminou com a fundação do Circuito Universitário de Cultura e Arte da UNE – CUCA da UNE. Abrimos os braços para a cultura latino americana em um forte processo de integração cultural, através do tema “Soy loco por ti America”. Nos encontramos com a nossa face africana na Bienal “Brasil-Africa: um Rio chamado atlântico.” Em um esforço de síntese nos voltamos para a reflexão sobre as “Raízes do Brasil”. No Rio, defendemos a ideia do samba como forma de luta através do tema “Brasil no estandarte, o samba é meu combate”. E, na última bienal, passamos pela “Volta da Asa Branca” de Luís Gonzaga. A sensação é que fomos amadurecendo depois desses anos de reflexão em torno da cultura brasileira. A próxima Bienal será espaço onde essa bagagem se encontrará com as novas faces do Brasil.

O que os estudantes podem esperar dessa Bienal?

Vamos encontrar muita interação e efervescência nessa próxima Bienal. O ritmo é esse. Pegar o pandeiro, trazer sua bagagem de sonhos e vontades. O sentimento depositado em torno desse encontro é que ele seja o tempo todo dançante e vibrante. Acho que os estudantes podem chegar e esperar um espaço deles e feito por eles.

Fonte: UNE