Emoção marca reencontro de resistentes à Ditadura Militar

Uma manhã marcada pela emoção e muitas lembranças. Foi em clima de reencontro que a Fundação Maurício Grabois, em parceria com a direção estadual do Partido Comunista do Brasil no Ceará, realizou na manhã deste sábado (22) o ato político em homenagem aos amigos e familiares de pessoas que, entre 1964 e 1985, lutaram pela Democracia.

O auditório da Casa de José de Alencar ficou lotado de amigos que forjaram seus laços nos duros anos de repressão, visando um objetivo em comum: a liberdade do país. “Estamos aqui reunindo amigos que se conhecem há décadas, que por um motivo ou outro não se veem com frequência, militantes e ex-militantes do PCdoB, para nos confraternizarmos e estreitarmos este laço”, ratificou Benedito Bizerril, membro da Fundação Mauricio Grabois no Ceará e um dos organizadores do encontro.

O ato político começou com a exibição de um vídeo com imagens que retrataram os duros anos da Ditadura Militar. Ao som de “Pra não dizer que não falei de flores”, composição de Geraldo Vandré, música tema do período, o público acompanhou entoando a letra da canção acompanhando-a com palmas. “Essa música, só de ouvi-la, já arrepia”, confidenciou Ielnia Johnson, irmã do guerrilheiro Bergson Gurjão, um dos homenageados do encontro.

Segundo Benedito, o evento foi pensado inicialmente com o intuito de, no ano que marca os 50 anos do Golpe Militar, realizar um ato que reunisse essas pessoas que participaram da Rresistência à Ditadura. “No ano em que marca os 50 anos do Golpe Militar, não poderíamos deixar passar a oportunidade de realizar este encontro de pessoas que colocaram suas vidas e a liberdade em risco na luta por um Brasil melhor. A Ditadura foi um período que marcou a vida dessas pessoas e do país. Foram anos difíceis, mas um período rico de transformações. Quando surge o Golpe, empurrado por arbitrariedades, violência e repressão, surge com ele o levante de todos os setores da sociedade, principalmente através da juventude que não se omitiu e não foi mera observadora”, relembra.

Segundo o ex-preso político, todos trazem uma marca comum em suas histórias pessoais. “Quantos doaram sua vida e liberdade, quantos de nós mudou sua trajetória de vida na luta pela Democracia. Temos algo em comum, por tudo o que passamos. Por mais que tenhamos seguido rumos diferentes, temos um ponto de identidade e unidade forte forjado naquele momento de resistência e luta e é isto que nos une querendo resgatar este sentimento”, ratifica Bizerril.

O comunista destacou ainda o momento apropriado em se realizar este reencontro. “Nosso sentimento é de que a liberdade é nosso bem mais precioso. Não podemos pensar nas transformações de que o país precisa sem ela. Essas transformações que o Brasil anseia são questões que ainda não foram resolvidas e isso não se faz com Ditadura, nem com Golpe, nem com intervenção militar. Devemos, sim, aprofundar a Democracia e garantir a participação do povo nessas decisões. Foi por isso e pra isso que lutamos, fomos presos, torturados e tivemos tantos companheiros mortos”.

Vice-presidente estadual do PCdoB no Ceará, Benedito Bizerril encerrou sua intervenção destacando o reconhecimento do Partido ao homenagear tantas pessoas que contribuíram para solidificar a democracia brasileira. “Este momento é oportuno também para nós, que fazemos o PCdoB, externarmos de forma clara o reconhecimento pela dedicação e destemor heroico de todos que resistiram, além de reverenciar os companheiros que já não estão mais entre nós. Recebam nosso abraço fraterno na certeza de que estamos proporcionando este reencontro cheio de sentimentos e de emoção”.

Durante o ato político foram homenageados, in memorian, 39 pessoas escolhidas por uma comissão, para representar os resistentes à Ditadura. Membros das famílias receberam as placas simbólicas de luta e vitória.

Jana Sá, filha de Glênio Sá, um dos homenageados, enalteceu a iniciativa de dar visibilidade à resistência à Ditadura e seus personagens. “Encontros como este trazem à superfície a memória dessas pessoas. Não é demais dizer que momentos assim se inserem no esforço de reescrever a história deste país. E no ano que marca os 50 anos do Golpe, depois de eleições acirradas como vimos, precisamos cada vez mais tomar as ruas, pois o período mais difícil será a partir de agora. Temos visto muitas pessoas erroneamente pedindo intervenção militar. Talvez elas não passaram por isso e sequer conhecem a história deste país. Talvez achem mais cômodo viver suas vidas e não pensar nos outros. Que encontros como este sirvam ainda para que possamos celebrar e refletir em como podemos contribuir para transformar este país. Que esta iniciativa sirva para também lutarmos por um mundo melhor, mais justo e fraterno”.

Homenageados

Jana Barroso, Bergosn Gurjão, Claudio Pereira, Carlos Cesar Uchoa Barreto, Paulo Goiana, Iran Soares, Manoel Carlos de Sousa, Enéas Arruda, José Gomes Fernandes, Oswaldo Soares da Silva, Luiza Soares da Silva, Maria Salete Monteiro, Márcia Moreira de Menezes, Antonio Cavalcante de Almeida, Francisco Alves, Pedro Xavier, Nonato César, Francisco das Chagas Monteiro, Roberto José Bastos Macambira, Custódio Saraiva, Teodoro de Castro, Miguel Cunha, José Ferreira Alencar, Dower Morais Cavalcante, Sérgio Miranda, José Duarte, José Joaquim de Medeiros Rocha, José Ferreira, Eliomar Bastos, Lincoln Coutinho, Messias Pontes, Helena Cartaxo, Antonio Ayrton Machado Monte, Eva Lima Bessa, José Ferreira do Nascimento, Socorro Abreu, Joana Borges, Pedro Gomes, Glênio Fernandes de Sá.

Da redação do Vermelho em Fortaleza, Carolina Campos