Publicado 25/11/2014 12:18 | Editado 04/03/2020 17:06
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Família de Glênio Sá presente ao Reencontro de Participantes da Resistência à ditadura militar
Ao tentar trazer à superfície o duro período de repressão e violência do regime militar no Brasil, muito se fala sobre os atos de tortura, assassinato, sequestro e desaparecimento, mas há ainda outras dores e esperanças que envolvem o sonho da liberdade e os imperativos de construção da igualdade.
Isso porque, em cada perda, em cada mentira, em cada verdade negada, há dores demais para esconder. Então, um esquecimento incomum surge para tentar abrigar as recordações como forma de lhes resguardar da dor. E aí você se depara com a mais triste perda: a da memória que lhe fora roubada. Só que você não pode impedir de sentir o que lhe foi retirado, nem mesmo quando se trata de lembranças.
Assim, você procura uma forma de encontrar o que foi perdido. E melhor que a despedida é o reencontro. O último dia 22 de novembro me fez vivenciar todos estes sentimentos. Era mais um dia esperado e desejado há tempo. Aguardava ansiosamente a hora de reencontrar, através da memória de familiares e amigos, alguém que há muito partiu mas que dentro de mim ganha a dimensão da vida.
O dia amanheceu tão encantador quanto os olhos da saudade. Sabia que logo estaria perto, poderia segurar-lhes as mãos e encontra-me em seu olhar. Era tão urgente poder senti-lo, falar-lhe, abraçá-lo mais uma vez, me sentir outra vez mais no lugar mais seguro, mais gostoso, mais calmo, mais bonito.
A realização do Reencontro de Participantes da Resistência à ditadura militar mais do que o esforço em reescrever a história do nosso país em sua plenitude, sem ocultações, vetos e proibições, através da inserção de dignas trajetórias como a do meu pai, Glênio Sá, representou para mim um momento privilegiado de encontro com a memória, com as recordações vivenciadas e as que juntos não pudemos desfrutar.
Um convite fantástico do comitê estadual do Partido Comunista do Brasil no Ceará e da Fundação Maurício Grabois a refletir sobre o modo como indivíduos, Estado e sociedade podem contribuir para a realização de um roteiro para paz na humanidade frente às graves violações de direitos humanos cometidas durante o período ditatorial.
*Jana Sá é jornalista, secretária estdual de Comunicação do PCdoB/RN