UNE: Nexo entre empreiteiras e corrupção fortalece reforma política

Virgínia Barros (Vic), presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), afirmou que a participação de empreiteiras no jogo político só terá fim com a reforma política que elimine o financiamento privado de campanhas.

Esplanada dos Ministérios 1959

“Ao estabelecer o nexo entre as grandes empreiteiras e a corrupção, o debate sobre o financiamento público de campanhas se torna um imperativo absoluto. A reforma política é a única arma para superar esses resquícios da ditadura militar”, destacou a líder estudantil.

Para ela, de todos os aspectos que compõem o debate sobre a reforma política, o fim do financiamento das campanhas eleitorais por parte de empresas e bancos é fundamental.


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De fato, o casamento harmonioso das empreiteiras com as obras públicas é mais antigo do que muitos pensam: começou no governo Juscelino Kubitschek (1955-1960) e teve sua “lua-de-mel” na ditadura militar (1964-1985). Essa é a análise do historiador Pedro Campos, que fez uma retrospectiva sobre a história das empreiteiras no Brasil.

Autor da tese de doutorado “A ditadura dos empreiteiros”, Campos avalia que, no regime militar, as empreiteiras começaram a se nacionalizar e se organizaram, ganhando força no cenário político e econômico. Para isso, elas criaram associações e sindicatos.

“Até a década de 1950, eram construtoras que tinham seus limites no território do estado ou região. O que acontece de Juscelino Kubitschek pra cá é que eles se infiltraram em Brasília”, explica Campos, professor do Departamento de História e Relações Internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). A construção de Brasília, fundada em 1961, foi um marco para a história das construtoras. “Ali, reuniram-se empreiteiras de vários estados e começaram a manter contato, se organizar politicamente. Depois, passaram pelo planejamento da tomada de poder dos militares e pautaram as políticas públicas do país.”

Com a chegada ao poder dos militares, as empreiteiras passaram a ganhar contratos do governo muito mais volumosos que os atuais. “Se eles era grandes, cresceram exponencialmente no regime militar. Se elas hoje são muito poderosas, ricas e têm um porte econômico como construtoras, posso dizer que elas eram maiores. O volume de investimentos em obras públicas era muito maior. Digamos que foi uma lua-de-mel bastante farta e prazerosa”, comentou.

Entre as centenas de obras feitas no período militar, há casos emblemáticos como a ponte Rio-Niterói, que foi feita por um consórcio que envolveu Camargo Corrêa e Mendes Junior entre 1968 e 1974. Já a hidrelétrica binacional de Itaipu, que teve o tratado assinado em 1973 e foi inaugurada em 1982, foi feita pelas construtoras Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Mendes Júnior. As mesmas Mendes Júnior e a Camargo Corrêa foram responsáveis pela Transamazônica, que começou em 1970 foi inaugurada, incompleta, em 1972.

Apesar de denúncias de pagamento de propina terem sido escancaradas com a operação Lava Jato da Polícia Federal, o historiador acredita que a corrupção envolvendo empresários da construção e políticos é antiga.

“Todos os indícios são de que a corrupção não aumentou. O que a gente tem hoje é uma série de mecanismos de fiscalização que expõem mais, bem maior do que havia antes. Na ditadura não tinha muitos mecanismos fiscalizadores, e o que havia era limitado”, afirmou Campos.

Fonte: UNE