Perícia não descarta envenenamento como causa da morte de Jango
O resultado final das análises dos restos mortais do ex-presidente João Goulart, divulgados nesta segunda-feira (1º/12), apontam que não há como excluir o envenenamento como causa da morte. Segundo os peritos, o tempo decorrido prejudicou a definição de tal consequência.
Publicado 01/12/2014 12:40
Goulart morreu em 1976 na Argentina e sua família suspeita que ele tenha sido assassinado por agentes do regime militar. Segundo o trabalho de perícia, que foi acompanhado por profissionais da Argentina, do Uruguai, de Cuba, além de representantes da Cruz Vermelha, Ministério Público Federal e da família de Jango, “não há elemento científico que se pode comprovar que a morte foi ou não natural”.
Leia também:
MP encontra documentos que comprovam existência da Operação Condor
PF encontra Camarão, o vigia da Casa da Morte do regime militar
Quando se trata dos exames toxicológicos, a perícia conclui que também “não há como excluir uma causa toxicológica da causa de morte de Jango”, ou seja, o envenenamento apontado como causa após testemunhos de agentes não é descartada. Porém, não há cientificamente como comprovar precisamente essa questão.
“Podemos concluir que os dados clínicos, as circunstâncias relatadas pela esposa [de Jango], são compatíveis com morte natural”, afirmou o perito Jefferson Evangelista Correa, da Polícia Federal. No entanto, segundo o especialista, também não é possível descartar que a morte tenha decorrido de “um envenenamento tendo em vista as mudanças físicas e químicas que o corpo inumado sofre ao longo de 37 anos influenciado pelas condições em que ele esteja inumado”.
O filho de Jango, João Vicente Goulart, disse que a família já esperava que o resultado não fosse conclusivo. Ele reivindicou que o Estado brasileiro faça o compartilhamento de documentos com outros países e que cobre o depoimento de agentes estadunidenses que contribuíram com o regime militar brasileiro.
O corpo de Jango foi exumado no dia 14 de novembro de 2013, em São Borja, no interior do Rio Grande do Sul, e a amostras dos restos mortais foram coletadas em Brasília e analisadas em laboratórios do Brasil, Portugal e Espanha. A exumação ocorreu após decisão da CNV (Comissão Nacional da Verdade) e do MPF-RS (Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul), com o objetivo de esclarecer as causas da morte do ex-presidente que governou entre 1961 e 1964, quando foi deposto por um golpe militar.
A ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, Ideli Salvatti, disse que o laudo, porém, não é a única base para o processo de investigação sobre a morte de João Goulart que está sendo conduzido no Brasil e na Argentina. “Ao concluirmos esse trabalho pericial, estamos concluindo uma parte de um processo investigativo”, afirmou Ideli.
“Seguramente avançamos no fortalecimento da democracia e na reafirmação do direito que todo brasileiro e toda brasileira tem de conhecer sua própria história e a história de seu país”, complementou Ideli.
Provas do envenenamento
Com o golpe, Jango e sua família foram exilados no Uruguai e na Argentina, onde o ex-presidente teria morrido de um ataque do coração, em 1976. A família de Jango contesta essa versão acreditando se tratar de um assassinato orquestrado pela chamada “Operação Condor”, resultado de uma aliança entre as ditaduras do Cone Sul nos anos 1970.
Testemunhos de agentes ligados a essa operação dão conta de que foram trocadas as cápsulas de remédios do ex-presidente por alguma substância que tenha causado sua morte. O corpo de Jango foi enterrado sem ter passado por autópsia.
Coronel Malhães e a Operação Condor
Na semana passada, o MPF-RJ (Ministério Público Federal do Rio de Janeiro) informou ter encontrado dois relatórios na casa do ex-coronel do Exército Paulo Malhães que comprovariam a existência da Operação Condor. Malhães, que depois foi assassinado durante um assalto, admitiu em depoimento ter participado de sequestro de militantes de esquerda argentinos em território brasileiro.
Da Redação do Portal Vermelho
Com informações do Portal Brasil