Tabaré Vázquez e o próximo governo

A esmagadora vitória eleitoral de Tabaré Vázquez, da governante Frente Ampla (FA), considerada histórica, prevê um próximo governo pouco comum para o país e a região.

Por Jorge Luna, na Prensa Latina 

Tabaré Vázquez

Além de vencer com quase 13 pontos percentuais acima de seu rival, Luís Lacalle Pou (41%), do opositor Partido Nacional (PN) e seus aliados, sua votação – 53,6% – é considerada a mais alta da história do país.

O ex-presidente (2005 a 2010) receberá o terceiro governo da FA (2015-2020), em 1º de março próximo, das mãos do presidente José Mujica, que deixa a Presidência com um índice recorde de popularidade: 65%.

Nas eleições de 26 de outubro passado, Mujica (89) foi eleito senador com a mais alta votação, e seguirá trabalhando pela FA dentro do Parlamento. Perguntado sobre seu futuro, respondeu: "Já não posso deixar de ser militante".

Vázquez (74) também entrará para a história como o primeiro presidente reeleito neste século (o terceiro na história do país), e contará também com maioria em ambas as câmaras do Parlamento, que assume funções em 15 de fevereiro.

A FA obteve nas eleições de outubro 50 dos 99 membros da Câmara de Deputados e 15 dos 30 integrantes do Senado, ao qual agora se soma o vice-presidente eleito, Raúl Sendic (52), que presidirá esse corpo.

Os analistas afirmam que essa maioria – alcançada pela terceira vez consecutiva pela FA – proporciona tranquilidade ao novo presidente, porque as leis que envie ao Parlamento – que não requeiram maiorias especiais – serão aprovadas.

Assim, o governo Vázquez-Sendic poderá cumprir sem obstáculos o programa governamental, aprovado em recente congresso da FA.

Surpreendeu a alguns observadores que a FA não sofresse, como é comum, um desgaste eleitoral depois de dez anos no governo e que, também, crescesse no interior do país, outrora bastião dos partidos tradicionais.

A FA ganhou em 12 dos 19 estados do país, incluído Montevidéu, o que muitos especialistas consideram um dado-chave, tendo em vista as eleições estaduais e municipais a serem realizadas em maio do próximo ano.

Nesse sentido, Vázquez manifestou interesse em iniciar o quanto antes a transição do atual governo ao próximo, para o qual Mujica ordenou a seus ministros preparar os documentos apropriados sobre o trabalho de suas respectivas pastas.

O mais provável é que esse processo comece após o dia 10, quando o presidente uruguaio regressará de uma viagem pela Venezuela, Equador e México.

Enquanto se espera que nos próximos dias Vázquez anuncie os nomes de seus futuros ministros, ainda que já tenha informado que o atual vice-presidente Danilo Astori, será seu ministro de Economia e Finanças.

Além disso, propôs a conveniência de que o atual ministro do Interior, Eduardo Bonomi, nomeado por Mujica, permaneça no cargo.

Fontes da FA estimam que Vázquez tentará uma combinação de quem colaborou com ele em seu primeiro mandato e outras figuras surgidas posteriormente para formar seu primeiro gabinete ministerial.

Perguntado sobre o futuro governo, Mujica afirmou: "Espero que, por um lado, continue lutando pela igualdade social e, por outro lado, aprofunde traços de um novo Uruguai que estão iniciados mas que necessitam continuar".