Mariana Viel: Nada pode deter o Uruguai e a América Latina

Acompanhar a reta final do segundo turno das eleições presidenciais do Uruguai se transformou em um marco na minha trajetória de militante comunista e internacionalista. Durante uma semana tive a oportunidade de ver e viver de perto o processo de desenvolvimento político que, em apenas 10 anos, mudou a realidade social daquele país.

Por Mariana Viel*

Eleição Uruguai

No último domingo (30), 53,7% dos uruguaios decidiram pela continuidade de um projeto nacional inclusivo que erradicou a miséria e reduziu o desemprego a um mínimo histórico. Liderados pela Frente Ampla (coalizão integrada por vários partidos políticos e organizações da sociedade civil), o povo foi às urnas em defesa do Uruguai do presente e do futuro e elegeu Tabaré Vázquez sucessor de Pepe Mujica.

Depois do acirrado segundo turno no Brasil, que graças à força da militância assegurou a reeleição da presidenta Dilma Rousseff, chegar a Montevidéu em meio a um clima eleitoral calmo e sem grandes ameaças de retrocesso foi uma surpresa. A ‘tranquilidade’ das ruas era um reflexo do primeiro turno das eleições que garantiu à Frente Ampla a conquista de 50 dos 99 membros da Câmara de Deputados e de 15 dos 30 integrantes do Senado.

Como delegada internacional do PCdoB tive a riquíssima experiência de participar de encontros e debates políticos com representantes da Bolívia, do Paraguai, da Argentina, da Venezuela, de El Salvador, do Chile e de outros países da América Latina. O intercâmbio de informações sobre os recentes processos eleitorais em nossa região e os avanços conquistados pelas forças progressistas latino-americanas inspira a luta por mais e novas mudanças.

Em todo nosso continente o enfrentamento às forças conservadores está centrado em dois caminhos: o retrocesso ao passado neoliberal ou o aprofundamento das mudanças através do socialismo. No Uruguai, assim como no Brasil as forças políticas progressistas defenderam – no segundo turno das eleições – a continuidade dessas conquistas.

As novas classes trabalhadoras brasileiras e uruguaias que superaram o desemprego, a pobreza e a fome querem mais. Os discursos do novo presidente eleito Tabaré Vázquez, tanto no ato de encerramento da campanha como após o anuncio da vitória, reafirmaram compromisso do governo com temas como segurança, educação, saúde, habitação, infraestrutura, inovação, meio ambiente, trabalho e proteção social.

Segundo o Vázquez, em 2004, quando disputou e venceu a Presidência do Uruguai pela primeira vez, a maior preocupação população era o desemprego. Passados 10 anos de governos progressistas a sociedade é hoje o tema principal. “Na sociedade pode haver assimetrias, mas não pode haver assimetrias de direitos das pessoas diante da lei e da vida”, afirmou.

Em apenas uma década o Uruguai avançou em questões imprescindíveis para o aprofundamento da democracia como o direito à saúde sexual e reprodutiva, a legalização do aborto e da maconha, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a lei de igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. O país também concebe a integração regional como um dos pilares de sua política exterior e um imperativo de seu desenvolvimento.

Após o anúncio da terceira vitória da Frente Ampla me juntei aos milhares de uruguaios que saíram às ruas de Montevidéu para festejar. Inspirados no artista uruguaio Joaquin Torres García (1874-1949), comemoramos juntos – convidados e militantes da esquerda latino-americana – mais uma vitória da Pátria Grande com a convicção de que “nosso norte é o sul”.

*Mariana Viel é militante do PCdoB, jornalistas e diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJMG)