PCdoB Paulistano faz avaliação do processo eleitoral

O Comitê Municipal do Partido Comunista do Brasil em reunião ampliada discutiu a participação da legenda no último processo eleitoral e definiu perspectivas para o próximo período. Entre as orientações está fortalecer a atuação nos movimentos sociais, sindical, de juventude, de mulheres e antirracista, bem como ampliar sua inserção para novos atores da rica sociedade civil paulistana.

Balanço da participação do PCdoB paulistano nas eleições 2014

A militância do PCdoB na cidade de São Paulo participou da disputa eleitoral orientado pelas diretrizes nacionais e estaduais, somando-se ao esforço geral para a conquista dos objetivos políticos almejados:
I) reeleger a presidenta Dilma prolongando o ciclo político progressista no país;
II) levar a disputa ao segundo turno e derrotar o governo Geraldo Alckmin, findando as duas décadas de PSDB no comando do estado;
III) eleger 3 deputados federais e ampliar a bancada comunista na Alesp.

Acerca disso, podemos afirmar:

I) Sobre a disputa presidencial
1) Foi uma vitória política histórica a reeleição da presidenta Dilma, nesta que foi a mais acirrada eleição do período pós-redemocratização. O campo progressista conquistou a quarta vitória do povo e impõe mais uma derrota à oposição conservadora, mesmo com o ambiente político conturbado, com cisões importantes na base governista (candidatura do PSB e o posterior apoio a Aécio no 2º turno) e cenário econômico difícil de baixo crescimento. Some-se a isso, uma campanha curta, marcada por reviravoltas, pelo imponderável (morte de Eduardo Campos e substituição por Marina) e pelo forte papel da mídia, que buscou influenciar o resultado eleitoral através da instrumentalização de supostas denúncias contra agentes do governo.

2) A presidenta Dilma teve postura combativa e sua campanha conseguiu politizar debates importantes para o país que demarcaram diferenças e compromissos entre os candidatos, como a questão da autonomia do BC e o enfrentamento à crise preservando empregos e salários dos trabalhadores. No segundo turno, em particular, houve intensa campanha militante nas ruas, o que foi imprescindível para a vitória. A militância do PCdoB, assim como os movimentos sociais em que os comunistas estão inseridos, teve importante participação neste momento crucial.

3) Passada a eleição, a oposição procura manter o governo sob fogo cerrado, chegando ao cúmulo de questionar a legitimidade da presidenta recém-eleita e insuflar radicalismos e pendores golpistas de algumas de suas lideranças e parcelas das elites. Como apontou o PCdoB na última reunião de seu Comitê Central, as prioridades da presidenta Dilma devem ser a conformação de sua base de apoio no Congresso e a retomada do crescimento econômico. O momento exige união das forças progressistas, movimentos sociais, lideranças e intelectuais fortalecendo a autoridade da presidenta e impulsionando a luta pelas reformas estruturais, base do programa consagrado nas urnas.

II) Sobre a disputa ao governo do estado

4) O estado de São Paulo, de maneira geral, tendo a capital e grandes centros à frente, foi o polo mais avançado da oposição conservadora. Na cidade de São Paulo, nos dois turnos, foi larga a vantagem do candidato do PSDB sobre Dilma (64,5% a 35,5% na segunda etapa), sendo que os tucanos venceram mesmo em locais de tradicional votação de esquerda, como regiões das periferias sul e leste. Aécio venceu, no 2º turno, em 48 das 58 zonas eleitorais paulistanas, sendo emblemáticos alguns resultados como derrotas em Teotônio Vilela, Itaquera, Capão Redondo, Brasilândia, dentre outras. Tal realidade é ilustrativa das condições adversas que o campo progressista enfrentou nesta disputa na cidade, tendo a campanha de ódio disseminado contra o PT e a esquerda encontrado eco em grande parcela da população, mesmo entre os trabalhadores.

5) A onda conservadora, as dificuldades então enfrentadas pelo governo municipal, a campanha reacionária e sistemática contra a esquerda, as insuficiências dos pólos oposicionistas, entre outros aspectos já apontados no Balanço Eleitoral do Comitê Estadual, proporcionaram a vitória de Alckmin já no 1º turno e a eleição de José Serra ao Senado, derrotando Suplicy. O governador obteve, na capital, 51,9% dos votos válidos, enquanto Padilha chegou a apenas 22,20% e Skaf obteve 21,40%. José Serra conseguiu 50,3% dos votos frente a 40,1% de Suplicy, na cidade. Foi o pior resultado alcançado pela esquerda desde os anos 90 numa disputa pelo governo do estado.

6) Há que ser destacado o papel positivo desempenhado pelo camarada Nivaldo Santana, que compôs a chapa majoritária como vice de Alexandre Padilha. Nivaldo deu visibilidade ao PCdoB na campanha e teve presença intensa e positiva na cidade de São Paulo.

III) Sobre a disputa proporcional

7) As eleições para deputados federais e estaduais tiveram viés conservador. De modo geral, houve avanço da base de Alckmin na Alesp e recuo da bancada de deputados da oposição – o PT terá 8 cadeiras a menos na próxima legislatura. Na bancada federal, as forças alinhadas ao governo Dilma sofreram revezes e também perderam cadeiras, o PT perde 5 deputados e o PCdoB, uma vaga. É dentro deste contexto político, de uma eleição adversa ao campo de apoio ao governo Dilma no estado, que devem ser analisados os resultados eleitorais obtidos.

8) O PCdoB da capital teve compromisso com a tática eleitoral de lançar uma chapa completa de candidatos a deputado, apresentando 34 candidatos que, em que pese os desempenhos desiguais, contribuíram com seus votos e empenho para o resultado obtido: a conquista de duas cadeiras na Alesp e uma na Câmara Federal, bem como o posicionamento de Netinho de Paula na primeira suplência, com possibilidades de assumir. Contudo, fica nítido que é necessário ampliar o trabalho de atração de lideranças com experiência e densidade eleitoral com vistas às próximas disputas.

9) No cômputo final, a cidade de São Paulo contribuiu com 132.362 votos na chapa estadual e obteve 72.127 votos para federal. Houve queda em relação a 2010, o que demonstra que ainda não foi revertido o processo de estagnação eleitoral na cidade.

10) A candidatura de Orlando Silva contou com o empenho e a mobilização da militância partidária e grande parte das dobradas, tática acertada que se demonstrou decisiva para a vitória. De seus 90.641 votos totais, obteve 30.746 votos na cidade e, embora tenha sido a maior votação individual, o desempenho foi aquém da meta estipulada pela campanha. Orlando foi o 6º entre os eleitos da coligação na cidade, e o 10º colocado se levados em conta todos os candidatos da chapa PT-PCdoB.

11) Netinho obteve 27.219 de seus 82.105 votos na capital. De sua parte, o Comitê Municipal contribuiu com quadros dirigentes para a campanha e posicionou a influência política da SEMPIR de acordo com o projeto da candidatura.

12) A campanha do deputado Protógenes Queiroz correu em leito próprio e angariou 10.015 votos na cidade, de um total de 27.978 obtidos.

13) A manutenção dos espaços na ALESP e a eleição de Leci Brandão e Átila Jacomussi foram conquistas do Partido. Quanto à deputada Leci, que detém maior presença no município, o Partido colaborou para a vitória e, de seus 71.136 votos totais, 47.979 vieram de São Paulo.

14) Visto no conjunto e dentro do quadro de avanço das forças conservadoras no estado e na cidade, pode-se considerar como razoável o resultado geral do PCdoB, para o que a militância do Partido na capital colaborou de maneira determinada. O Partido manteve as vagas na Assembleia e, mesmo perdendo, de imediato, uma cadeira na Câmara Federal, deve celebrar a conquista de uma vaga com um quadro com a capacidade e experiência de Orlando Silva, além de projetar a possibilidade de assumir a segunda vaga com Netinho, o que levaria Jamil de volta à Câmara Municipal.

15) Porém, mais uma vez ficou evidenciada a falta de redutos eleitorais concentrados do Partido na capital e às dificuldades de espraiar mais a influência dos comunistas entre setores organizados da cidade. Assim como se debate em âmbito nacional, o Partido também precisa firmar mais sua identidade própria no município, com pautas, bandeiras e realizações que o distingam para amplas camadas do povo paulistano.

16) Faz-se necessária uma análise mais pormenorizada dos resultados eleitorais obtidos na capital – área a área, categoria a categoria, candidatura a candidatura – a fim de identificar melhor as dificuldades e potencialidades do Partido.

17) O resultado também deve provocar ajustes e reforço na ação partidária no município, com vistas ao projeto eleitoral do PCdoB para 2016. Ao mesmo tempo, é necessário dar consequência às indicações do Encontro Municipal e à luz dos debates a serem realizados no Encontro Nacional, no próximo ano. São tarefas para o próximo período:

• O ano de 2015 promete iniciar em clima de grande disputa política, sendo a cidade de São Paulo um dos principais palcos desta contenda. O PCdoB deve cerrar fileiras pelo fortalecimento da liderança da presidenta Dilma, impulsionando a luta pelas reformas democráticas, em consonância
com a plataforma vitoriosa nas urnas, e desmascarando quaisquer tentativas autorias e golpistas.

• Debate sobre o projeto eleitoral do PCdoB para 2016 e ampla campanha de filiação de novas lideranças que possam compor uma chapa de vereadores;

• Induzir o crescimento partidário, com metas de filiação, entre os trabalhadores e ativistas de setores estratégicos para a cidade, como saúde, educação, mobilidade urbana, reforma urbana e juventude;

• Reforçar a estruturação partidária e persistir na ideia de formação de redutos eleitorais vinculados ao PCdoB e suas lideranças, tendo como principais pontos de partida as regiões em que dirigimos subprefeituras – Jabaquara e Sé.

• Fortalecer a atuação nos movimentos sociais, sindical, de juventude, de mulheres e antirracista, bem como ampliar sua inserção para novos atores da rica sociedade civil paulistana. Realização do Encontro de Movimentos Sociais para o início de 2015;

• Realizar reuniões dos militantes indicados pelo PCdoB para participar de postos de governo, de maneira a buscar sinergia entre a ação destes e o projeto de crescimento do Partido na cidade;

• Buscar maior inserção entre a intelectualidade e na luta de ideias que se trava na cidade, principal centro ideológico tanto do PSDB quanto do PT.

• Debater o perfil, as ações e a interface dos mandatos, em particular o de Orlando Silva, com o projeto político do Partido na cidade;

• É preciso persistir no debate sobre a identidade política do Partido no Brasil e em São Paulo. O Comitê Central convocou para o primeiro semestre de 2015 um Encontro com esta finalidade. Devemos realizar um Encontro preparatório e participar do evento nacional.