Escola pública campeã no Enem se destaca na aprovação em universidades

Das turmas de 2013 da Escola Estadual Adauto Bezerra, quase a metade dos alunos garantiu o ingresso no Ensino Superior, sendo 144 em universidades públicas.

Grades esverdeadas, quadras esportivas e bibliotecas repletas de estudantes na hora do intervalo e muito (muito!) barulho. A Escola Estadual Adauto Bezerra, em Fortaleza, poderia passar despercebida entre tantas na cidade. A diferença dela seria o estudante João Victor Santos, que, aos 16 anos, surpreendeu o Brasil depois de acertar 172 de 180 questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano. Mas não é apenas isso.

Em todos os cantos da escola pública são exibidos cartazes com o desempenho dos alunos. Os resultados enchem os olhos. “O caso do João Victor trouxe ênfase no nosso trabalho escolar. Ele trouxe uma dinâmica meio louca para a escola, que foi noticiada em todo o país e deu uma visibilidade muito grande para a escola pública. A nossa sociedade precisava ouvir isso: que a escola pública tem sua importância”, afirma o coordenador Humberto Mendes.

Logo na entrada, um cartaz mostra que foram 60 aprovações na Universidade Federal do Ceará (UFC), 21 no Instituto Federal do Ceará (IFCE), 18 na Universidade Estadual do Ceará (Uece), 45 em outras instituições de ensino e 80 no Programa Universidade Para Todos (Prouni). Das turmas de 2013, quase a metade dos alunos garantiu o ingresso no Ensino Superior, 144 em universidades públicas. “O pessoal olha para esses resultados e sente vontade de fazer parte disso. O Adauto Bezerra realmente é um grande link do aluno para chegar à universidade”, conta o diretor Otacílio Bessa.

Em 2014, a escola voltada para o Ensino Médio conta com cerca de 2 mil alunos nos três turnos. O diferencial é a motivação dos estudantes, encorajando-os a acreditar que podem alcançar os sonhos desde o primeiro dia de aula. “O trabalho de motivação é um dos carros-chefe da nossa escola. A gestão anda muito em sintonia com o trabalho. Logo que o aluno chega aqui, a gente conversa, discute técnicas, troca informações sobre profissões, sobre Ensino Superior e sobre Enem”, explica.

A escola Adauto Bezerra, no Bairro de Fátima, é central e recebe alunos de toda a Região Metropolitana de Fortaleza. Anualmente, são matriculados alunos de 140 bairros e comunidades diferentes, algumas bem distantes. “Eles já vêm na perspectiva de que a escola dê esse suporte para entrarem na universidade”, acrescenta o coordenador. Os estudantes participam de simulados e de concursos desde os primeiros anos. No 3º ano do Ensino Médio, a vontade de estudar vai se intensificando cada vez mais. “Costumamos participar de concursos estaduais ou nacionais. Tivemos 17 menções honrosas da Olimpíada Nacional de Matemática das escolas públicas”, comemora Otacílio.

A escola também direcionou o ensino para a prova do Enem. Os alunos participam de oficinas temáticas, como a de redação. Em pequenos grupos, eles são orientados pela professora de literatura, que explica onde estão os erros de cada um. Outro ponto positivo que os gestores indicam é a inexistência de processo seletivo para a entrada na escola. A maioria dos estudantes vem da rede municipal ou estadual. “O aluno que chega com todas as suas deficiências, em três anos consegue ampliar seus horizontes e tem uma grande chance de entrar na universidade”, diz o coordenador.

De acordo com a aluna Jéssica Oliveira, de 15 anos, vencedora do prêmio Cidadania Judiciária, com uma redação sobre acesso aos direitos sociais, o estímulo dos professores é essencial para o sucesso dos alunos. “Eu ganhei um tablet no concurso, e isso devo aos professores que preparam a gente muito bem. Eles não dão apenas aula, eles são amigos da gente. Isso me dá gosto de vir para a escola. O Adauto Bezerra tem condições de formar bem um aluno, porque outras escolas não têm estrutura e nem professores suficientes”, lembra a estudante, que está no 2º ano do Ensino Médio e pretende ser psicóloga.

O estudante David Mota dá ênfase à formação dos docentes. Segundo o aluno que pretende cursar Jornalismo na UFC, a maioria tem pós-graduação, Mestrado e até Doutorado. “Os professores dão aula com prazer, e aqui acaba sendo uma grande família. Eu acredito que a gente pode entrar na faculdade, tanto pelo incentivo que a escola dá quanto por nós mesmos. O Adauto é uma escola pública e muitos alunos são de baixa renda, mas têm visão de futuro ampliada. ‘O impossível é só questão de opinião”, finaliza.

Fonte: Tribuna do Ceará