Nágyla Drumond: Nós sabemos o que eles querem!

Por *Nágyla Drumond

Dias atrás, o que a Câmara dos Deputados presenciou foi um parlamentar, eleito e reeleito (dessa vez, para espanto e lamento de muitos (as), como o mais votado do país), usar de seu mandato para, mais uma vez, desestabilizar a base de apoio ao governo federal. No auge da sua misoginia (desprezo ou aversão às mulheres, segundo o Aurélio), o deputado-conservador-fascista, adepto da ditadura militar e protagonista de tantos outros episódios contra os direitos humanos, esbraveja contra a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) e, na sua afirmação-ameaçadora, diz, pela segunda vez e em alto e bom tom, que só não a estupra por ela não merecer.E quem merece, excelência?

Chegaria a ser insano. Na verdade, enlouquecedor. Mas não é. O dito deputado federal (PP-RJ) sabe muito bem o que fala, porque fala e de onde fala. Não é por engano ou exacerbação, típica da prática política. De forma alguma. O referido, assim como muitos antes dele, urra um discurso espalhado nas casas legislativas, nas ruas e em muitos lares do Brasil a fora. Feito fantasmas de Plínio Salgado e os galinhas-verdes, não toleram, não admitem, não suportam enxergar diferenças físicas, comportamentais, ideológicas, políticas e de gêneros. É ódio ao outro e a ameaça que o outro, na sua particularidade, representa. Se pudessem, a tortura, a perseguição, o açoite e toda sorte de arbítrio estariam em pleno vigor. Não tenhamos dúvida.

Sinceramente, acredito que o interesse do traste-parlamentar não é “apenas” deixar claras suas posições machistas e odiosas, de negação da alteridade. O que move o cidadão é o mesmo que moveu o grupelho que xingou a presidenta Dilma na abertura da Copa do Mundo, em São Paulo; é o mesmo que move outro grupelho que atacou a Senadora Vanessa Grazziotim (PCdoB – AM), dias antes do urro fascista, nas galerias do Câmara Federal: uma prática discursiva desqualificada, sórdida e odiosa que se volta contra os governos populares de Lula e Dilma, nos últimos 12 anos. Hoje, particularmente contra a presidenta Dilma, reeleita democraticamente por meio do voto direto da maioria popular. Mulher, democracia, voto, maioria, popular, quantas palavras ameaçadoras para as viúvas e viúvos da treva.

Dilma, como mulher e chefe de estado, é a mais atacada de todas as figuras. sob a mira do fascismo à brasileira. Foi assim na campanha de 2010. Foi assim no primeiro mandato. Foi assim na campanha eleitoral de 2014. Será assim até a posse e durante todo o segundo mandato. No projeto que o referido representa cabe tudo, absolutamente tudo, para espetacularizar a voracidade com a qual pretendem destruir um projeto de país mais democrático e popular. Não há limites.

Transformar o Congresso Nacional numa arena caótica, tornando Dilma refém de uma grita reacionária-neoliberal-privatista, odiosa, machista, xenófoba, racista e homofóbica. A ideia é deixá-la imobilizada e desorientar sua base de apoio, atirando para todos os lados, transformando o exercício democrático da divergência em permanente defesa dos crimes de ódio.

As mais diversas formas de intolerância são assumidas no discurso e na prática, como ferramenta para angariar mais holofotes aos espetáculos de horror protagonizados pela fúria com mandato. Parece não bastar ser neoliberal e filhote da ditadura militar para demarcar posição. É preciso parecer “inconformado” com um país que, segundo eles e a parte golpista da mídia, “ se transformou num mar de lama, corrupção e falta de respeito à família e aos bons costumes”. Por isso, a cantilena da intervenção militar, da volta da Ditadura, da criminalização das liberdades individuais e dos direitos coletivos. No Vale-Tudo atual é preciso potencializar tais características, bebendo na fonte dos conservadorismos diversos para se mostrar à sociedade como força de "mudança" e "consertação" do país.

A ameaça de estupro foi, em toda a sua sordidez machista, o preâmbulo nefasto de um aparte de 3 minutos no qual o indecoroso parlamentar, em sua fúria nada insana, praguejou contra o novo Brasil em que a democracia, a liberdade, os direitos humanos estão entrelaçados ao novo projeto nacional de desenvolvimento. Não é o “único” projeto nem, muito menos, “parte” dele. São pilares que se entrelaçam para garantir uma vida melhor e mais digna para todos os brasileiros e brasileiras.

Como se não bastassem todos os insultos, o citado ainda usou seu tempo na tribuna para lembrar o Dia Internacional dos Direitos Humanos, comemorado anualmente no dia 10 de dezembro. Pois o odioso criminalizou a data como se esta representasse uma elegia à vagabundagem. Logo o dia 10 de dezembro de 2014, data na qual a Comissão Nacional da Verdade entregou o relatório mais atual das investigações sobre o período da ditadura militar. Realmente, ele sabe o que faz. E merece total repugnância. É um absurdo! É ultrajante!

A mesma sociedade, picadeiro para um facínora dessa estirpe, precisa ser palco de intensa mobilização popular, onde estejam os movimentos sociais, os partidos políticos, a Universidade, os sindicatos como forças vivas de apoio ao governo popular e em defesa das reformas democráticas estruturantes. O consórcio oposicionista de direita que disputa tanto o Estado como a Sociedade deve ser enfrentado com a arma que mais o amedronta: o povo na rua.

Na última quarta-feira, dia 17 de dezembro várias entidades dos movimentos sociais participaram do ato, na Câmara dos Deputados para exigir a Cassação imediata de Bolsonaro. Cassá-lo seria uma grande derrota das forças do atraso em nosso país. Como mulher, feminista, emacipacionista, mãe e trabalhadora, reafirmo toda minha solidariedade à Deputada Maria do Rosário (PT – RS) e todo meu apoio à presidenta Dilma Rousseff.

Vamos em frente. Há muito por lutar, muito mais a garantir!


*Nágyla Drumond é socióloga, doutoranda em Sociologia (UFC) e Secretária Estadual de Movimentos Sociais do PCdoB/CE.