Petit Gabi: Um brinde à diversidade cultural brasileira

 Enaltecer o que vem de fora é nossa marca registrada. Mas será que não está na hora de valorizar o que temosde melhor na cultura brasileira? É nisso que o artista M. Steffens tem pensado na hora de fazer suas ilustrações.

Por Petit Gabi*, no Obvious

Rainha do cangaço - Ilustração: M. Steffens

Petit Gabi é redatora publicitária e escritora. é repleta de diversidade, ninguém duvida – afinal, cada estado do país é rico nesse aspecto e possui singularidades valiosas. Seja nas artes plásticas, na música, na dança, no teatro, entre outros, não podemos negar a criatividade do povo brasileiro. Em contrapartida, também temos uma forte tendência a enaltecer o que vem de fora. Sim, nós fazemos isso e, geralmente, em detrimento do que temos por aqui.

Mas a verdade é que nossa cultura geralmente é banalizada pela mídia, que acaba levando a conhecimento público apenas o que é considerado rentável. Sempre concentrando os esforços de divulgação para artistas dos grandes centros urbanos, perdemos o contato com trabalhos brilhantes que acabam se perdendo no desconhecimento e na falta de apoio cultural. E o público segue perdendo a maior parte do que temos de bom Brasil afora.

O mais engraçado nisso tudo é que muito do que desprezamos em nosso país é perfeitamente admirado no exterior e, mais que isso, é valorizado. Aliás, nos gabamos disso, de sermos reconhecidos pela exportação de bens de cultura, por nossas novelas serem exibidas em diversos países, nossos músicos fazerem turnês internacionais, nossa comida ser apreciada por estrangeiros, pelo artesanato que os turistas pagam caríssimo e de bom grado, etc.. Mas nós mesmos estamos, em maioria, nos lixando para o que o país produz. E não me digam que é mentira,pois sei bem que vocês pagam caro para ir em um show do Justin Timberlake ou da Beyoncé, mas não dão as caras nos Sesc’s da vida para curtir o show de algum cantor nacional nada conhecido, entre outras coisas.

Seguindo um pouco dessa linha de raciocínio, o ilustrador brasileiro M. Steffens decidiu que era hora de tornar as diversas identidades culturais brasileiras mais populares no exterior. Um dos seus trabalhos foi unir o estilo de xilogravura de cordel com a conhecida série Game of Thrones, baseada nos livros de George 

R.R. Martin. A releitura das capas surgiu a partir de um processo experimental em estampas de tecido com temática nordestina, o que acabou não dando muito certo, mas levou o artista a conhecer um pouco mais do processo de xilogravura e acabou resultando nos cartazes. “Acredito que existe um certo déficit no Brasil de celebrar e aceitar os diferentes tipos de expressões artísticas e culturais em nosso 
país […] Casar algo tão tipicamente brasileiro como o Cordel com uma série estrangeira tão famosa é uma boa forma de colocar o Brasil nos holofotes artísticos”, diz Steffens.

Ilustração:M. Steffens
Com apenas 22 anos, Steffens trabalha há pelo menos seis com Design Gráfico e estuda Design de Moda na UDSC, em Santa Cantarina. Apesar de gostar de desenhar, o trabalho com ilustração é bem mais recente, e ele só começou a levá-lo realmente a sério quando passou a fazer ilustrações por encomenda e vender os produtos na sua loja, a Society 6. Ainda em fase experimental, o artista costuma fazer experiências entre técnicas tradicionais e colorização e customização digital.
Além da releitura das capas de GOT, Steffens tem trabalhos em outras linhas artísticas que mostram muito da sua capacidade para a experimentação. Como, por exemplo, a ilustração “Uhura e Whoopy Goldberg”, onde quis mostrar a importância da diversidade racial na televisão e no cinema.

Esse trabalho, em específico, foi inspirado em uma declaração da atriz a respeito da personagem Nyota Uhura da “Jornada nas Estrelas”, onde ela disse "Well, when I was nine years old, Star Trek came on, I looked at it and I went screaming through the house, 'Come here, mum, everybody, come quick, come quick, there's a black lady on television and she ain't no maid!' I knew right then and there I could be anything I wanted to be."

Por fim, fica claro que tornar as diversas identidades culturais brasileiras mais populares no exterior está fortemente marcado no processo criativo do artista. “Costumamos celebrar muito mais a arte e cultura do exterior, o que é bobagem, já que existe um universo criativo tão rico à nossa volta”, finaliza.

Para conhecer mais do trabalho de M. Steffens, visite seu site e sua loja virtual.

Agradecimentos especiais ao artista, que gentilmente cedeu as imagens que ilustram esse artigo.

*Petit Gabi é redatora publicitária e escritora.