Damián Estrada: 2014 foi um ano intenso para a literatura cubana

 Como de costume, a 23ª Feira Internacional do Livro de Cuba constituiu o principal evento literário de 2014 neste país, e quiçá em grande parte de América Latina. Esta festa de livros e letras foi realizada em Havana entre os dias 13 e 23 de fevereiro de 2014, deslocando-se depois para várias províncias do arquipélago visando a difundir o hábito da leitura entre os cubanos e os estrangeiros que participaram.

Por Damián Estrada*, na Prensa Latina

Bandeira de Cuba

A 23ª Feira teve como país convidado de honra a Equador e esteve dedicada aos escritores locais Nersys Felipe e Rolando Rodríguez García, Prêmios Nacionais de Literatura 2010 e de Ciências Sociais 2007, respectivamente.

Ao mesmo tempo, prestou homenagem especial à poetisa Gertrudis Gómez de Avellaneda, em seu bicentenário.

Os cubanos Samuel Feijó e Onelio Jorge Cardoso também foram lembrados por ocasião de seu centenário, no evento que reuniu mais de 500 intelectuais e apresentou cerca de 700 títulos repartidos em três milhões de instâncias.

No entanto, no dia 16 de abril de 2014 a literatura mundial se vestiu de luto com a morte do reconhecido escritor colombiano Gabriel García Márquez, sem dúvida o maior acontecimento literário em nível internacional.

Em seus 87 anos de vida, o gênio nascido em Aracataca se converteu indiscutivelmente em um paradigma das letras em todo mundo.

Trabalhou como jornalista e, sobretudo, escreveu inumeráveis romances, dentre eles o onipresente Cem anos de solidão, uma das principais obras de todos os tempos em língua espanhola.

Mandatários, embaixadores, personalidades da cultura e pessoas próximas Garcia Márquez, Prêmio Nobel de Literatura em 1982, emitiram mensagens de condolência ao redor do planeta após o falecimento de Gabo [como era chamado], um dos primeiros correspondentes da agência Prensa Latina. O centenário do escritor argentino Julio Cortázar não passou por alto em Cuba, onde no dia 26 de agosto do ano passado foi outorgado o Prêmio Ibero-Americano de Conto que leva o nome do mítico autor de Rayuela [Jogo de Amarelinha].

Durante a entrega oficial do prêmio, importantes figuras da intelectualidade cubana – como o presidente da União de Escritores e Artistas de Cuba, Miguel Barnet, o presidente da Casa das Américas, Roberto Fernández Retamar e os poetas César López e Pablo Armando Fernández – prestaram homenagem ao autor, falecido em 1984.

"É arrepiante saber que hoje um amigo como Cortázar cumpriria cem anos. Julio sempre nos deu lições magistrais sobre a vida e a literatura. Foi-nos fisicamente, mas seu espírito segue presente e este prêmio é uma maneira de homenageá-lo", expressou durante a cerimônia Barnet, que conheceu Cortázar pessoalmente.

A propósito do centenário de Onelio Jorge Cardoso, o Instituto Cubano do Livro e outras organizações realizaram diversas atividades em honra do recordado autor, conhecido como "Cuentero Mayor" [contista maior] (1914-1986).

O teatro também ecoou a celebração, sendo inaugurada uma montagem da obra Cem Onelios, enquanto o Centro de Formação Literária que leva seu nome (que em 2014 completou seu 15o aniversário) promoveu de maneira ativa sua narrativa por todo o país.

Também realizaram, durante meses, debates teóricos e oficinas de criação por toda a ilha para comemorar os cem anos de Onelio Jorge Cardoso, cujos textos foram traduzidos para uma dúzia de idiomas e vários deles têm sido reeditados e incluídos em antologias de diversos países, como Rússia, Hungria, Romênia, Polônia e México, entre outros.

O Colóquio Internacional José Martí, escritor de todos os tempos, atraiu durante seus três dias de duração especialistas cubanos e de países como Brasil, México, Costa Rica e Estados Unidos para analisar a obra do autor cubano, também chamado de "Apóstolo".

O evento foi dedicado ao 145o aniversário da obra teatral Abdala, havendo sido integrados mais de 300 trabalhos inéditos do Herói Nacional de Cuba aos tomos 25 e 26 de suas Obras Completas, um acontecimento relevante para os estudiosos de Martí (1853-1895).

Considerado por muitos o mais universal dos cubanos, Martí foi um esteio do modernismo poético, do jornalismo e do ensaio, a ponto do intelectual cubano Roberto Fernández Retamar haver equiparado sua obra à do bardo inglês William Shakespeare.

Também aglutinou interesse o ciclo de pensamento social caribenho "Ser boricua", uma iniciativa da Casa das Américas para incentivar a fraternidade histórica que sempre uniu Porto Rico e Cuba.

O encontro foi dedicado ao centenário da poeta Julia de Burgos (1914-1953) e ao artista gráfico Lorenzo Homar (1913-2004), tendo contado com o pesquisador boricua Félix Ojeda, que abundou sobre os paralelismos existentes nas obras dos próceres José Martí e Ramón Betances.

"O vínculo entre Cuba e Porto Rico é o maior de nossa ilha com outro país de nossa região, com todo o devido respeito que merecem o resto das nações fraternas", sentenciou Fenández Retamar, presidente da Casa das Américas.

*Jornalista da Redação de Cultura da Prensa Latina