Cláudio Ferreira Lima: Desenvolvimento econômico

Por *Cláudio Ferreira Lima

Todo bom manual de economia dedica sempre um capítulo à teoria do crescimento e desenvolvimento econômico. Vou recorrer ao da equipe de professores da USP, publicado pela Editora Saraiva. Pois bem: ele começa analisando a diferença entre crescimento e desenvolvimento econômico.

O primeiro tem a ver com o conjuntural, o curto prazo, a exemplo do nível de atividade, emprego e preços (inflação). É o que se denomina de políticas de estabilização. Conduzidas pela chamada área econômica, sob a liderança da Fazenda, prendem-se a aspectos quantitativos.

Já o segundo, refere-se ao estrutural, o longo prazo, como o projeto de país, que produz mudanças tanto na composição do produto (a indústria passa a ser o dínamo da economia, e os serviços tornam-se cada vez mais impregnados de conhecimento) quanto na destinação dos recursos, voltada para promover transformações profundas na economia. Coordenado pelo Planejamento, possui natureza qualitativa.

Nesse processo, as fontes estratégicas de crescimento são: aumento da força de trabalho e do estoque de capital; melhoria da qualidade da mão de obra e da tecnologia utilizada; e eficiência organizacional. Ou seja: combina-se o crescimento extensivo (do fator de produção) com o intensivo (da eficiência no uso do fator). Tudo, lógico, apoiado em infraestrutura e estímulo ao investimento privado.

Restrinjo-me à dimensão econômica; há ainda a social, a política, a ambiental e, numa síntese, a cultural, pois, como ensina Celso Furtado, “a política de desenvolvimento deve ser posta a serviço do processo de enriquecimento cultural” (Cultura e desenvolvimento em época de crise. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984, p. 32).

Mas esse caminho tão óbvio traçado pelo manual me remete à famosa fábula de Esopo, “A Assembleia dos Ratos”, cuja moral é “falar é fácil; fazer é que é difícil”.

Ora, estamos diante de um círculo fechado que se reproduz. Não é, portanto, qualquer crescimento que vai transmudá-lo em espiral ascendente, que se expande e se renova como se pretende com o desenvolvimento. Somente um projeto que conquiste a concordância da maioria na sociedade será capaz disso. Um projeto que, como tal, visa o futuro, mas que se decide aqui e agora, enfrentando e vencendo o imediatismo, a estreiteza de ideias, as pressões internas e externas do rentismo e os conflitos de toda ordem, inclusive os próprios de uma sociedade de classes. Nessa dinâmica, a economia e a política são irmãs siamesas. E o grande desafio, que é político, vai residir, do lado do governo, em abrir caminhos para se avançar nessa realidade embaralhada e altamente complexa.

Por isso que Celso Furtado, em discurso quando da instalação em 1959 da Operação Nordeste, asseverou que “o problema do desenvolvimento (…) é menos de formulação de planos tecnicamente aceitáveis do que de acertado e oportuno encaminhamento político das soluções” (O Nordeste e a saga da SUDENE: 1968-1964. Arquivos Celso Furtado, Rio de Janeiro: Ed. Contraponto; Centro Celso Furtado, 2009, pp. 73-81).

*Cláudio Ferreira Lima é Economista

Fonte: O Povo

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