UNE celebra oito anos de retomada da sua sede no Rio de Janeiro
Há exatamente oito anos, em 1º de fevereiro de 2007, terminava no Rio de Janeiro a 5ª edição da Bienal da UNE, e começava algo ainda maior para a história do movimento estudantil. A culturata do último dia daquele festival resultou na ocupação do terreno da Praia do Flamengo, 132, onde funcionou por décadas o prédio da sede da UNE, incendiado pela ditadura em 1964 e demolido pelos mesmos militares em 1980.
Publicado 01/02/2015 12:27
O local funcionou então como um estacionamento clandestino e era antiga a vontade de retomá-lo para as mãos de quem nunca devia tê-lo perdido: os estudantes brasileiros.
Segundo o presidente da UNE na época, Gustavo Petta, o ato envolveu muita organização dos jovens que estavam ali: “Após a demolição do prédio da UNE, o local ficou sem dono. Os posseiros irregulares que invadiram ganhavam muito dinheiro com o espaço, tínhamos informações de que eram ligados ao crime organizado e que havia pessoas armadas”, relembra.
Esse era o momento que iria materializar um sonho antigo, que começou em 1994, no governo Itamar Franco, quando o então presidente devolveu à UNE a escritura do terreno. Também solidário com a causa, o arquiteto Oscar Niemeyer presenteou o movimento estudantil com o projeto do novo prédio que está sendo construído no famoso endereço.
O momento da Bienal de 2007 era perfeito para a ocupação: havia a mobilização de milhares de estudantes de todo o país no Rio e a informação de que os posseiros estavam em situação delicada.
A culturata daquele dia de fevereiro saiu dos Arcos da Lapa pela região da Glória e do Catete até alcançar a Praia do Flamengo. Na linha de frente, ex-presidentes da UNE de diversas gerações, lado a lado. Das janelas dos prédios, a população apoiava o movimento agitando bandeiras ou jogando papel picado pelas janelas. Era hora de reparar a história da juventude e do Brasil.
Assim que a passeata chegou ao endereço, os estudantes derrubaram o portão e entraram. O clima era de festa e lágrimas: “Estávamos, obviamente, emocionados, nos sentindo protagonistas de um momento histórico para o Brasil”, recorda Petta.
A partir daquele momento, os estudantes de diversas regiões do país montaram barracas, se organizaram e deram início à ocupação que duraria meses. O movimento recebeu apoios diversos de intelectuais, artistas, autoridades e o caso foi para a Justiça, que finalmente retornou a posse para a UNE.
Atualmente, a entidade avança nas obras do seu novo prédio no local.
“Esse é um lugar mítico, uma referência de valor incontável para qualquer militante do movimento estudantil brasileiro”, afirma a presidenta da UNE Vic Barros. A decisão pela realização da 9ª Bienal no Rio de Janeiro levou em conta também a aproximação dos estudantes com esse espaço e essa história. “A Bienal de 2015 começa exatamente no aniversário daquela ocupação, trazendo a energia daquela geração de jovens para nos inspirar e motivar nossas lutas e reflexões”, diz a presidenta.
A 9ª Bienal terminará, no dia 6 de fevereiro, às 12h, com uma culturata para celebrar essa história. A atividade homenageará Oscar Niemeyer, grande amigo dos estudantes e que doou parte de sua genialidade para que o sonho se realizasse.
Fonte: UNE