Cláudio Ferreira Lima: Água e economia

Por *Cláudio Ferreira Lima

Os manuais de economia dividem os bens em livres, os abundantes, e econômicos, os escassos. A água é um bem econômico, e a sua escassez manifesta-se na falta e no conflito de uso; neste último caso, porque, além do abastecimento humano, é utilizado na atividade produtiva, na navegação, na geração de energia e no saneamento básico.

O consumo da água é regulado, sobretudo, pelo preço: o consumidor urbano paga a conta de água pelos serviços de captação, tratamento e distribuição, bem como de esgotamento sanitário; e o agropecuarista (em especial, o irrigante) e o industrial, quando não se submetem a cotas de uso ou outorgas de direito de uso, pela retirada e consumo e pelo lançamento de efluentes.

No Brasil, são os comitês de bacia que controlam e precificam o uso da água dos rios, que, em relação à água engarrafada e ao estipulado em outros países, tem preço simbólico, como se houvesse abundância.

O consumo no Brasil distribui-se em: abastecimento humano: 10%; agropecuária: 70%; e indústria: 20%; no Ceará, respectivamente, 26%, 61% e 13%. Como se vê, o principal uso é na produção. Assim, uma crise hídrica, como a que vive São Paulo, traz graves consequências econômicas, visto que conduz ao aumento das contas de água e luz, dos preços dos alimentos e, enfim, da inflação, seguida, em geral, da subida dos juros, e isso em um quadro de estagnação e desemprego.

Não existe relação direta entre água e desenvolvimento. Há países do chamado Primeiro Mundo em que o setor produtivo emprega relativamente pouco esse recurso natural, mas o faz de forma eficiente, inclusive na escolha das atividades econômicas, e mais: são importadores de “água virtual”, contida, por exemplo, nos alimentos exportados por países bem dotados em recursos hídricos.

Os governos devem buscar sempre a alocação ótima de recursos escassos como a água, destinando-os a atividades de maior retorno, segundo a lógica da sustentabilidade econômica, social e ambiental. Desse modo, é imperioso o uso racionado e racional da água, ou melhor, o combate a desperdícios e a prevenção de crises pela fixação de preço que espelhe a sua escassez (ponderando-se, claro, que a água foge às regras estritas do mercado: a ONU declarou que o acesso a ela é um direito universal) e pelo uso, máxime o agrícola, mais eficiente; que se adote o planejamento estratégico, com recursos garantidos para obras e avanços na gestão e na aplicação de forte conteúdo de ciência, tecnologia e inovação.

Todos esses cuidados se afirmam ainda mais prementes quando já se evidenciam os efeitos das mudanças climáticas, com mais força numa região como o semiárido nordestino, que, não bastasse ser densamente povoada, possui limitada disponibilidade hídrica. Mesmo com obras de grande porte em andamento, como o da Integração do São Francisco, os governos devem perseguir a conciliação das atividades econômicas com a produção e conservação dos recursos hídricos, já que a história tem demonstrado quanto tem sido desastroso na região tal desencontro.

*Cláudio Ferreira Lima é economista

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