O saldo do carnaval, a muriçoca e os tipos de Cortázar

Crônica de Rogério Marcos Jesus Santos.

O saldo do carnaval, a muriçoca e os tipos de Cortázar - Minervino Jr.

O que é alegria? No campo individual para uns é uma opção de vida, a razão da própria existência, no limite, toda uma escola filosófica, os epicuristas. Para outros, nem tanto, e outros ainda, – que respeito muito –, passam longe dela , porque uma certa dose amargura está tão presente na epiderme que o que sentem por aqueles que ainda a procuram não passa daquele pecado capital chamado de “inveja”.

Tal qual já disse o poeta, “a felicidade é uma arma quente”. Por evidente há que se fazer uma separação entre os amargos e os que somente querem paz. A grande maioria por sinal, porque não haveria rua para todo mundo.

Alegria e dor são polos dialéticos, diria Hegel se estive na passarela. Diria mais ainda, é claro que a dor pode também ser transformada em alegria, basta lembrar de Nelson Cavaquinho, “Tire o sorriso do caminho que eu quero passar com minha dor” , e que ainda nos disse que o Sol não pode viver perto da Lua. Pelo menos na poesia, remarque-se.

Mas o que seria o carnaval quando visto do ângulo coletivo? Uma festa desta proporção, que toma as ruas, os bares, os clubes, as avenidas, os sambódromos, a beira dos lagos e rios só pode ser uma coisa, um ativo que qualquer sociedade e qualquer país têm que se orgulhar muito. Nem que às vezes uma muriçoca queira atrapalhar um pouco. Aliás, para uns ela somente fez um voo mais rasante.

O carnaval é a cara de uma sociedade plural, portanto, democrática. Nele cabem, por exemplo, os tipos e personagem criados ou buscados no real por Júlio Cortázar, que nos legou os “cronópios”, os “famas” e as “esperanças”. Os primeiros, no geral, aproveitam a vida, e sabem relativizar problemas e dificuldades. Por isso, creio, Cortázar os colocaria como os que enchem as avenidas. Já os famas, aqueles indivíduos minimamente organizados, iriam pular o carnaval, mas somente num camarote bem regado e muito bem produzido. Os esperanças, esses não sairiam de casa, o desanimo os venceria.

Mas, na quarta-feira de cinzas estaríamos todos de volta à realidade, seja ela mais alegre ou um pouco menos. E, agora sim, o ano começaria, para os cronópios, os famas ou os esperanças. Com ou sem muriçoca zunindo no ouvido.