Só interessa aos concorrentes destruir a Petrobras, diz Aldo Rebelo
O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo, criticou nesta segunda-feira (23) as tentativas da oposição ao governo de destruir a imagem da Petrobras após as denúncias de corrupção na estatal. O ministro proferiu a aula inaugural do curso de Engenharia da Inovação no Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), o primeiro curso do país formulado e estruturado por uma entidade sindical, no caso o Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo.
Publicado 24/02/2015 08:11
“Queremos que toda a corrupção seja investigada e punida, mas não queremos que a história de grandes empresas seja confundida com o crime cometido por alguns diretores. A Petrobras pertence ao país e não a meia dúzia de dirigentes. Ela é um patrimônio nacional que tem que ser protegido para o interesse e para o desenvolvimento do país. Destruí-la só interessa aos nossos concorrentes estrangeiros”, disse, durante aula que reuniu os primeiros integrantes do curso, seus familiares e professores.
O ministro afirmou que existe um pessimismo que permeia setores importantes da sociedade, inclusive a imprensa, e que este sentimento está “em descompasso com a realidade”. “Quando os pessimistas diziam que não iríamos conseguir sediar a Copa, eu dizia que íamos conseguir, porque já fizemos coisas mais difíceis, como construir a sétima economia do mundo na periferia do capitalismo. Ninguém nos deu isso, nós construímos.”
Rebelo destacou ainda a urgência de o país avançar no setor de inovação, sobretudo para inverter o movimento que vem ocorrendo nos últimos anos, em que o Brasil reduziu a exportação de produtos de alta tecnologia e aumentou a de commodities e de equipamentos de baixa tecnologia. “Nosso desafio é melhorar a competitividade do Brasil, inovando em gestão, em marketing, em logística, em tecnologia, em todas as áreas.”
“Nos últimos dez anos, a Europa perdeu 60 milhões de empregos, e o Brasil foi no caminho contrário: criou 20 milhões de empregos entre 2003 e 2013, porém, na maioria são empregos que pagam até dois salários mínimos. Neste período perdemos pelo menos 4 milhões de empregos com remuneração maior do que dois salários mínimos. Perdemos empregos industriais. A classe média urbana, que é um fruto da indústria, percebe isso e reage. Temos que levar em conta essa reação”, disse. “O principal desafio é manter o Brasil entre as dez economias do mundo, sem nos apoiarmos tanto na agricultura e na indústria mineral.”
A engenharia e a defesa nacional
Na sua aula inaugural, Rebelo destacou que a engenharia está permanentemente associada à aventura humana pela sobrevivência e pela construção material da sociedade, observando que a própria civilização egípcia foi uma conquista da engenharia hidráulica ao controlar o regime de águas do rio Nilo para o uso humano, principalmente para a agricultura, numa área de deserto. No Brasil, lembrou, a base física da engenharia começa com a vinda da Corte Real de Portugal e na construção militar de fortalezas na costa brasileira e também no interior. “Foi o resultado da inteligência da engenharia civil aplicada à defesa, inicialmente, da coroa portuguesa.” Nesse sentido, a primeira escola de engenharia data de 1792 com o nome de a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho.
O ministro acredita que temos um país preparado para enfrentar e vencer os novos desafios do desenvolvimento, lembrando que encontrar petróleo na camada pré-sal não foi “um golpe de sorte”. “Foi a inteligência da engenharia e de outros profissionais, com anos de pesquisa e apostas, que levaram o Brasil a descobrir essa grande reserva de óleo e gás. Foi mais um êxito da nossa engenharia.”
Rebelo, todavia, observou que, em meio a tantas possibilidades, o país se depara, também, com grandes dificuldades, como a de se superar em ciência, tecnologia e inovação e aumentar a competitividade da indústria nacional. “Somos a sétima economia do mundo, mas estamos muito mal em inovação.” Falou, ainda, que em recente análise do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDCI), a exportação de alta tecnologia caiu muito, e a de baixa tecnologia aumentou. “O Brasil está perdendo o emprego industrial, e sabemos que a classe média urbana clássica é um fenômeno da industrialização.” Para ele, o país está num processo de perda de substância “da nossa indústria”.
“Devemos nos apoiar nas nossas virtudes, mas temos de ter consciência das nossas deficiências para poder superá-las”, defendeu. Nesse sentido, avaliou que o Isitec nasce num momento fundamental para o Brasil, onde precisamos melhorar a qualidade e a competitividade, usando a tecnologia e inovação em tudo. Para Rebelo, a faculdade dos engenheiros deve atender ao espírito de garantir, ao país, soberanias científica, tecnológica e de inovação, “para não virarmos colônia de ninguém”.
Rebelo não tem dúvida que o Isitec ajudará na construção de um país mais justo, mais desenvolvido e com maiores oportunidades profissionais.
A graduação do Isitec é a primeira do país em Engenharia da Inovação. O curso será integral e terá duração de cinco anos. Os primeiros 57 alunos, aprovados em um processo de seleção com pelo menos 600 candidatos, terão bolsa de estudos integral e mais uma remuneração de R$ 500 mensais para se dedicarem aos estudos, tudo financiado por empresas parceiras. A ideia é preparar o aluno para identificar e solucionar problemas em inovação, em diferentes áreas.
O Isitec foi criado pelo Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo e credenciado pelo Ministério da Educação em 2013. Desde agosto do ano passado, a instituição oferece uma pós-graduação em Gestão Ambiental. Neste ano, será aberto também um curso de especialização em Gestão de Energia.
Comprometido com o Brasil
Na abertura da solenidade, o presidente do Sindicato dos Engenheiros, Murilo Celso de Campos Pinheiro, deu boas-vindas aos novos estudantes e falou do início do projeto: “Tirar as ideias do papel e colocá-las em prática tira, muitas vezes, o sono.” E completou: “Mas valeu a pena. Hoje recebemos os nossos primeiros alunos ilustres. Já digo que vocês são empreendedores e corajosos.” Na sequência, foi descerrada a placa com o nome do edifício do instituto, Professora Lucilla de Guimarães Campos Pinheiro.
Pinheiro não tem dúvida que a nova escola será referência no ensino de engenharia no país, lembrando que o sindicato ao tomar esse grande e pioneiro passo não descuidará das bandeiras classistas, mas que não pode ficar desconectado às mudanças do século 21, que tem à frente o avanço tecnológico e a inovação. Para o diretor-geral da instituição, Saulo Krichanã Rodrigues, professor de economia, muito mais difícil do que construir ativos financeiros e obras é construir o caráter e a alma de um projeto. E informou que os 57 alunos da primeira turma do Isitec estão inseridos num projeto que tem o “DNA” da engenheira com uma matriz educacional também inovadora.
A aula inaugural do Isitec também contou com a presença do deputado federal Paulo Teixeira (PT/SP), dos vereadores paulistanos Eliseu Gabriel (PSB) e Gilberto Natalini (PV) e dos presidentes do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), José Tadeu da Silva; do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP), Francisco Kurimori; e do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), José Roberto Bernasconi; do diretor do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), Sérgio Tiaki Watanabe; da vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Dora Fix Ventura; do secretário de Serviços do Município de São Paulo, Simão Pedro; e do presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Leonel Fernando Perondi; do ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP), Hélio Guerra; do professor da Escola Politécnica da USP e coordenador do Conselho Tecnológico do SEESP, José Roberto Cardoso.
Do Portal Vermelho, com informações da Rede Brasil Atual
Matéria atualizada às 9h04 para acréscimo de informações