Sem violência e opressão: outro tipo de trote é possível

Todo início de ano letivo notícias de trotes abusivos, violentos e desrespeitosos em universidades públicas e privadas ecoam nos meios de comunicação. São problemas, principalmente, de atos de humilhação impostos como ‘rituais de passagem’ pelos veteranos aos novos estudantes.

Trote Romero Britto - Ana Carolina Gonçalves Santos

“A UNE sempre combateu e considera inaceitável qualquer tipo de prática violenta”, destacou o diretor de Humanas na UNE, Ivo Braga. Ele lembra que o trote como integração sempre foi o foco da entidade e campanha permanente de Norte a Sul do país.

O estudante Thiago Tohmpson, do Centro Acadêmico Evaristo da Veiga (Caev) da Universidade Federal Fluminense (UFF), lembra que já houve na universidade situações muito problemáticas que levaram a instituição às capas de jornais. Por isso, os representantes das entidades estudantis têm tentado mudar este panorama.

“Há uma comissão de trote e durante a organização sempre nos sentamos juntos, o CA, a Atlética e a comissão, para discutir as brincadeiras e atividades”, explicou.

Entre as ações estão gincanas, festa do DCE e a arrecadação de doações para a creche do Morro do Palácio, que fica perto da UFF. Além disso, prestam apoio ao acolhimento estudantil que a direção da Instituição faz com estandes e barracas para apresentar a universidade para os calouros. Nessas ações conjuntas, as entidades estão sempre conscientizando a estudantada contra o trote violento e, de acordo com Thiago, a galera “tem recebido e compreendido bem”.

O Caev também organiza um passeio entre calouros e veteranos com visita ao Museu da Justiça, a OAB e ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

“Temos que reproduzir dentro da faculdade o que a gente quer para o mundo. Não dá para repetir um discurso opressor para os calouros que acabaram de chegar na universidade e ainda não sabem o que está acontecendo”, afirmou.

Já na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) a Cidade dos Calouros vai ter atividades de socialização como doação de sangue, teste de HIV, confecção do cartão do passe-livre estudantil, jogos e oficinas culturais.

“Fazemos campanha contra o trote violento e apresentamos formas de ressignificar esse acolhimento dos calouros”, afirmou o coordenador do DCE Vinicius Fernandes.

Ele conta que no primeiro semestre do ano passado a entidade lançou uma ouvidoria e a primeira denuncia registrada foi grave: um estupro durante um trote. Ele afirma que o caso está sendo apurado.

No Mato Grosso, os estudantes também apostam na integração das entidades estudantis, atléticas, empresas juniores e coletivos que estão trabalhando de forma unificada.

“Ainda existem práticas de trote abusivos que acabam fugindo no controle, mas a nossa ideia é mostrar que existem outras formas de receber os calouros”, destaca.

CPI dos trotes

Nas universidades paulistas denúncias gravíssimas de estupro e violência causaram a abertura da CPI do Trote pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo para investigar casos de violação de Direitos Humanos nas instituições. O relatório final propôs além a responsabilização criminal dos envolvidos a criação de uma ouvidoria estudantil junto a Secretaria de Justiça.

“As pessoas envolvidas diretamente nos crimes devem sim ser responsabilizadas, agora não podemos aceitar quer as entidades sejam criminalizadas porque elas são decisivas para acabar com o trote violento”, afirmou a presidenta da UEE-SP, Carina Vitral.

O presidente do DCE da Unicamp, o estudante Cris Grazina, lembra que na sua instituição existe um número grande de Atléticas e CAs que tem mulheres na direção o que é uma forma “importante no combate das opressões dentro da universidade”.

A Unicamp, uma das principais universidades do país, tem um histórico grande de trotes abusivos. Por isso, o DCE começou cedo a campanha de conscientização, organizou e apoiou várias ações de trotes solidários e de recepção de calouros semana passada. “Distribuímos camisetas e material impresso dizendo “Violência Não é Trote”, destacou Cris. Além disso, ele explicou que a conscientização é feita com os calouros também para não aceitarem abusos: “Violência não é normal”, finaliza.

Fonte: UNE