Aldo Rebelo: “Quem apoia o governo, participa dele”

O ministro da Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo (PCdoB), em entrevista ao Valor, fez uma análise da conjuntura política destacando que a coalizão “vai procurando sua arrumação”, assim como um time de futebol que inicia o campeonato, mas afirma que “ninguém vai cogitar a hipótese de reduzir o mandato presidencial”.

Ciência e tecnologia quer fatia maior no Fundo do Pré-Sal

“O time está formado, talvez não esteja entrosado, nas posições corretas, com o esquema tático perfeito. Mas a coalizão está feita. Temos dois presidentes de Casas muito experientes no Congresso. Pesa o fato de os dois serem do PMDB, e isso se traduz em expectativa natural de maior protagonismo do partido. Sempre digo que quem apoia o governo, participa dele, porque senão se cria uma anomalia inaceitável”, enfatizou o ministro.

Aldo lembrou que um governo de coalizão de frentes heterogêneas é uma tradição no país desde a Independência. “Mais recentemente, Sarney e Antônio Carlos (Magalhães) confraternizaram com os moderados do PMDB, com Tancredo (Neves), Ulysses (Guimarães) e os populares em volta de Lula, para democratizar o país. É um erro atribuir os males e a nossa morbidez às coalizões”, salientou.

Com uma trajetória marcada por seu forte papel de articulação que o levou a ser líder do governo, ministro da Articulação Política, ministro do Esporte e presidente da Câmara, Aldo afirma que os avanços no Congresso dependem de “lideranças que contornem as dificuldades”.

Crise internacional

“Temos uma confluência de fatores que dificultam a ação política. Lula enfrentou dificuldades quando havia o boom das commodities, a economia favorável, o país como destino de investimentos e a China numa situação muito boa. Agora há dificuldades econômicas. A situação não é confortável para o país ou o mundo”, destacou o ministro.

Sobre os efeitos no Congresso das investigações da Operação Lava Jato, que apura desvios na Petrobras, Aldo destacou que esse reflexo paralisante do parlamento também aconteceu durante a Ação Penal 470, em 2005 e 2006.

“Acho que há uma reação organizada aos efeitos indesejáveis da investigação. Os efeitos desejáveis todo mundo apoia: alcançar, punir e revelar os responsáveis pela corrupção tanto na área pública quanto na área privada. Agora, destruir patrimônio de interesse público e nacional é inadmissível”, enfatizou Aldo Rebelo, destacando que as empresas precisam continuar operando e os culpados pela corrupção devem ser punidos. “O governo tem a obrigação de fazer um esforço para proteger essas empresas, não os erros ou crimes cometidos por seus executivos. Mas proteger a empresa como interesse público, pelos empregos que ela gera, impostos que paga, pela exportação de serviço, pela memória da engenharia que está lá”, reforçou.

Na entrevista, Aldo também destacou as metas de seu mandato à frente do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Ele afirma que o país está entre as dez maiores economias do mundo, mas ainda é o 13º quando se trata de ciência. “O objetivo do ministério deve ser a inovação. Reunir as energias e esforços do governo – ministérios, institutos de pesquisas, financiadoras – as universidades, que são financiadas via CNPq e Finep, e ter como finalidade remover os obstáculos do país”, disse.

Investimentos em ciência

Para mudar essa realidade a saída é investimento. Segundo o ministro, o Brasil investe 1,7% do PIB em ciência, tecnologia e inovação. “Ainda não é o suficiente. Mas o nosso sistema de institutos de pesquisa é razoavelmente sofisticado. Em algumas áreas temos pesquisadores de nível elevado. Não temos o número de empresas que os americanos têm, mas em alguns setores temos inovadoras com liderança comprovada, toda a área agrícola e empresas estrangeiras dispostas a investir em inovação”, declarou Aldo, afirmando que o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico destinou R$ 1,9 bilhão em 2011 e no ano passado foram executados R$ 2,8 bilhões.

O ministro defende que parte dos recursos do pré-sal sejam investidos em ciência e tecnologia. “Na primeira reunião que fiz aqui no ministério pedi a elaboração de uma proposta de quanto do pré-sal queremos para ciência, tecnologia e inovação. Precisamos dizer quanto queremos, por que e o que alcançaremos”, completou.

Da redação do Portal Vermelho, com informações do Valor Econômico