Livro apresenta memórias de Sérvulo Esmeraldo

Publicação que lançada nesta quarta-feira (22/04) retrata a trajetória do cearense por meio de fotos, desenhos e anotações.

As mesmas linhas que marcam na pele os 86 anos do cearense Sérvulo Esmeraldo expressam, em diferentes objetos expostos em sua casa-ateliê, a essência de uma vida dedica à arte. Elas estão em tudo; fazem tudo: conduzem o percurso desde o rabisco até o desenho que irá se materializar.

A luz não é menos importante. Se a leitura do objeto se faz pela face, é ela, em "parceria" com a sombra, que torna possível essa apresentação. Juntas, linha e luz formam a dupla perfeita. Se não para você, pelo menos para Sérvulo. Foi sempre assim, desde a infância.

O menino, que lembra de cor o traçado da linha do horizonte que lhe envolvia no Cariri, lá de onde via o sol poente e nascente, fez do natural seu meio de devoção. Dos vegetais, folhas e galhos retirou sua geometria. Da contínua e insistente observação, tornou-se colecionador de imagens. Escultor, gravador, desenhista?

Definir-se, aliás, havemos de concordar, não é das tarefas mais fáceis. Mas não por isso se inviabiliza um encontro consigo mesmo. O artista em questão, por exemplo, está perto de se encontrar. É logo mais, à noite, na Galeria Multiarte, com o lançamento do livro "Sérvulo Esmeraldo – A linha e a luz".

Processos

Ler todo mesmo, ele ainda não leu. "É a falta de tempo", revela enquanto ouve as perguntas e considerações "em primeira mão". Ainda assim, faz questão de expressar o contentamento "Tá bem feitinho, né?". Arrisca dizer que é o melhor feito até agora. Mas a companheira de vida, Dodora Guimarães, faz a ressalva: "Olhe, você vai deixar muita gente com ciúme. É só porque é o último". Sorriem.

O livro, organizado pela jornalista Dora Freitas e pela historiadora Silvia Furtado, reúne memórias retiradas das pastas e gavetas do artista para compor uma espécie de diário construído com palavras, desenhos e fotografias da década de 1980 para cá.

Lê-se sobre a vida entre Crato e Paris, com destaque para algumas de suas esculturas públicas e/ou integradas à arquitetura da capital cearense. "Acredito que esse é um documento muito importante para a cultura brasileira, porque é o pensamento do próprio artista. Não é uma interpretação ou análise crítica nem uma análise historiográfica. É ele que se apresenta, um material de primeira", admite Dodora.

Acorda, Crato!

Tudo isso guardado e cuidadosamente selecionado pelo casal. "Aqui não se joga papel fora! É proibido!", explica a companheira, enquanto folheia o caderno mais recente de ilustrações e textos de Sérvulo. A caixa de lápis e a régua estão ali perto também. É para facilitar em qualquer hora que ele quiser produzir. "Tudo tem uma anotação e em todo lugar tem o Crato", conta a esposa. Se Fortaleza abriga hoje 40 obras de sua autoria, algumas das quais têm as histórias contempladas no novo livro – como o "Monumento ao Saneamento Básico de Fortaleza", localizado na Beira-Mar, e a "Femme-bateau", na Praia de Iracema – é pouco ou quase nada que se vê no Cariri.

O desejo de ter uma grande obra exposta lá, seja no Crato ou em Juazeiro, é antigo, e vem como um desabafo em "A linha e a luz": "(…) seria muito bom não só porque eu sou um filho da terra, mas porque, além de eu gostar muito do Cariri, aquela paisagem pede", afirma o artista.

Apesar de já ter apresentado vários projetos desde os anos 70, ainda não houve um retorno direto dos gestores. "O nosso trabalho custa caro, e, até agora, ninguém se manifestou", lamenta Sérvulo.

Dodora, por sua vez, reforça a importância do interesse público no sentido de garantir desde a autorização para uma instalação até o comprometimento de conservação da obra. "A coisa mais recorrente no pensamento dele é o Crato. Tudo ele quer doar para lá. Mas o Crato precisa querer".

E, com o riso frouxo, o artista concorda: "É até bom que se diga para ele acordar. Acorda, Crato!", brinca.

Lançamento

Além das mensagens para a região do Cariri, outros lugares e também pessoas ganham as páginas de "Sérvulo Esmeraldo – A linha e a luz". O contato com cada um deles pode ser feito a partir das 19h30.

Para o lançamento do livro, uma exposição de sete obras tridimensionais do artista também está sendo preparada. Trabalhos de 1986 a 2011 compõem a mostra e estarão todos à venda para o público presente. Que fique claro, não se encerra aí. Linha e luz seguem rumos infinitos. O trabalho de Sérvulo também.

Fonte: Diário do Nordeste