Batista: “Impulsionar o governo no sentido das transformações sociais”
Às vésperas da Conferência Nacional do Partido Comunista do Brasil, o presidente do PCdoB-RJ, João Batista Lemos, concedeu entrevista e abordou diversos pontos relevantes da atual conjuntura. Confira a entrevista na íntegra:
Publicado 19/05/2015 13:58 | Editado 04/03/2020 17:03

Como você avalia esta atual e difícil conjuntura marcada por uma correlação de forças desfavorável no parlamento? Quais as saídas e os caminhos neste momento político?
“Primeiramente, devemos nos solidarizar com a líder da nossa bancada, a deputada federal Jandira Feghali, que é um quadro que orgulha o Partido, uma parlamentar com muita coragem e bravura, que tem defendido arduamente os interesses do povo e da nação no Congresso Nacional. No dia 6 de maio, Jandira sofreu uma agressão de pessoas desclassificadas, pessoas que já deixaram de ter interesse democrático há muito tempo, pessoas aliadas ao neoliberalismo. Nós estamos amplamente solidarizados com a camarada Jandira e vamos entrar com um processo por conta desta agressão.
Continuamos numa situação bastante delicada no Brasil. A todo custo a oposição golpista tenta sangrar o governo Dilma. A nossa proposta é construir uma Frente Ampla, pois o momento é de resistência e por isso é também um momento de unir forças. Ao mesmo tempo, é necessário construir um movimento de massas, de caráter popular, em torno de uma agenda política de transformações concretas para o país; pois os trabalhadores e trabalhadoras não podem pagar por essa crise. É preciso buscar caminhos, saídas, até mesmo um pacto político e social para a retomada do crescimento do Brasil, com a participação dos trabalhadores e de setores do empresariado. É fundamental construirmos um movimento político de massas, nas ruas e redes sociais. Nós precisamos pressionar o Congresso e o Senado, pois sabemos que a correlação de forças no parlamento está muito difícil, como por exemplo no caso do projeto da Terceirização. É preciso resistir e derrotar este retrocesso, pois a terceirização significa a volta ao neoliberalismo, a redução de salários, a desregulamentação das relações de trabalho, e questiona, até mesmo, o conceito de categoria profissional. Ou seja, este projeto absurdo visa somente aumentar a taxa de lucro do Capital.
É importante lembrarmos, também, que até o fim de maio provavelmente a Reforma Política será votada na Câmara dos Deputados, e precisamos exercer uma forte pressão nos congressistas para conquistar uma Reforma Política mais democrática. Defendemos firmemente o fim do financiamento empresarial de campanha e não aceitamos a ideia de por fim às coligações e à eleição proporcional. Os partidos devem continuar com esta liberdade de buscar coligações ou não. As forças conservadoras querem colocar na constituição o financiamento privado de campanha – fonte comprovada de corrupção – e implantar o 'Distritão' que acaba com os partidos, ou o distrital misto, que impede a pluralidade e a representação das minorias no parlamento, concentrando ainda mais o poder político nas mãos dos detentores do capital. É preciso forte mobilização para barrar esse golpe”.
Nesse sentido, qual o caminho desta luta aqui no Rio de Janeiro?
“Aqui no estado precisamos continuar reforçando a iniciativa da construção de um Fórum por Mais Direitos e Mais Democracia, um movimento que, a partir de um núcleo de partidos de esquerda e movimentos sociais, se amplie tendo como referência o apoio à Dilma no segundo turno das eleições presidenciais, e que se alargue mais ainda incluindo todos que defendem a legalidade e o mandato constitucional da presidenta”.
O PCdoB está às vésperas de sua 10ª Conferência Nacional, como você avalia este momento e qual a importância dessa mobilização dos comunistas?
“Estamos realizando diversos debates em várias regiões do estado do Rio de Janeiro, este momento da Conferência é muito importante, pois arma mais o Partido para esta conjuntura. Além de eleger a primeira presidenta nacional do Partido, Luciana Santos, dando continuidade ao rico legado histórico liderado por Renato Rabelo; vamos tirar uma resolução política na Conferência Nacional que já está em debate nos estados, regiões e municípios. Tudo isso vai fortalecer o partido para apresentar saídas a este momento em que vivemos no país. Nesse processo de conferência também estamos discutindo sobre qual o lugar que o Partido Comunista do Brasil deve ocupar nesta quadra histórica do país e do mundo, isto ajuda a reforçar a identidade do nosso PCdoB como um Partido com base social de trabalhadores e trabalhadoras, um Partido forte na juventude, entre as mulheres, em várias entidades progressistas. Buscaremos fortalecer o partido na perspectiva histórica da luta pelo socialismo em nossa terra. O caminho para esta vitória é a defesa de um projeto de Nação, e o grande desafio está na capacidade de construirmos uma nova hegemonia na sociedade brasileira. Outra questão é como fortalecer de forma sinérgica os 3 vetores de acumulação de forças: a luta institucional, a luta de ideias e a luta de massas. O PCdoB continua firme e forte no campo do governo Dilma, resistindo e impulsionando-o no rumo das mudanças. O partido continua unido e o que explica isto é uma política justa e concreta. Num momento como esse, sobretudo, precisamos ter lado e, devemos impulsionar o governo no sentido das transformações sociais em nosso país”.
Nós estamos a pouco mais de um ano das eleições municipais de 2016, quais as prioridades que o Partido deve ter nessa altura do processo?
“Precisamos até outubro conquistar lideranças políticas e trazê-las para o Partido visando à disputa da luta eleitoral de 2016. É importante conversar com as várias forças políticas para construir alianças que possam fortalecer nosso projeto. Mas também precisamos realizar muitas plenárias nos bairros e municípios pra escutarmos mais os sentimentos e as necessidades dos setores da sociedade. Precisamos também promover seminários e debates para discutir programas concretos para as cidades. Temos que debater sobre as questões urbanas mais necessárias e urgentes das administrações municipais. É dessa maneira que vamos buscar os aliados, em torno da política, em torno de uma plataforma comum, de interesses em comum, visando conquistar cidades mais humanas, com mais inclusão e menos desigualdade”.