Com Gerardo, convenção reafirma luta pelo fim do bloqueio a Cuba

Terminou neste sábado (6) a 22ª Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba, realizada em Pernambuco. Como comemoração final, os quase 500 delegados de mais de 50 entidades de 18 estados do Brasil e de quatro países ouviram de Gerardo Hernández – um dos cinco heróis cubanos, recentemente libertado pelos EUA – sobre a importância da solidariedade brasileira. O encontro foi marcado por análises da conjuntura cubana e regional e dos desafios à frente.

Por Moara Crivelente*, de Recife para o Vermelho 

Gerardo Hernández - Cuba - Moara Crivelente

Os movimentos sociais representados na Convenção – que aconteceu em Olinda e em Recife (PE), entre quinta-feira (4) e sábado (6) – demonstraram firmeza e clareza sobre a necessidade de manter o empenho na solidariedade a Cuba pelo fim do bloqueio estadunidense, imposto em 1962, e pela devolução do território de Guantánamo ocupado pela base militar dos EUA, usurpado do povo cubano desde 1903. A declaração final do encontro enfatizou a unidade em torno da defesa da ilha revolucionária pelas entidades brasileiras representadas na 22ª Convenção, uma das maiores já realizadas. A próxima edição, em 2017, terá lugar em Minas Gerais, conforme acordado em reunião.

As entidades apresentaram um balanço das atividades realizadas em campanha pela libertação dos cinco heróis cubanos – detidos em 1998 nos EUA, alguns sentenciados a prisões perpétuas; os três últimos foram liberados em 17 de dezembro de 2014, no bojo do processo de reaproximação diplomática – e pelo fim do bloqueio a Cuba. Trata-se de uma grave ingerência estadunidense no processo revolucionário e uma violação dos princípios do Direito Internacional, que custou cerca de USD 117 bilhões (R$ 368 bilhões) aos cubanos, de acordo com o ex-ministro da Economia de Cuba (1995-2009), José Luis Rodríguez.

No último dia da Convenção, Gerardo comoveu alguns dos participantes que estiveram empenhados nas campanhas pela libertação dos cinco cubanos, agradecendo a solidariedade dos brasileiros e reafirmando a confiança dos patriotas cubanos na promessa de Fidel Castro sobre o seu retorno. Gerardo falou da sua vida após os 15 anos de cárcere ilegal nos EUA. "Não se confundam: se não fosse o trabalho abnegado de vocês, não haveria liberdade, porque ninguém se interessaria por cinco rapazes desconhecidos," disse. Veja um trecho da sua fala:

Além disso, uma mesa sobre "Cuba, a juventude e o socialismo" contou com a participação, entre outros, de Ângela Guimarães, da Direção Nacional da UJS – que falou dos desafios do Brasil atualmente e do papel dos jovens no enfrentamento, na demanda por mais conquistas sociais e na defesa da democracia (assista abaixo) – e do presidente da Organização Continental Latino-americana e Caribenha de Estudantes (Oclae), o cubano Ricardo Guardia Lugo, com uma avaliação do lugar central da juventude cubana no processo revolucionário, desde a sua concepção.

Para Ricardo Lugo, as condições da juventude atual em Cuba – solidária às juventudes que em diferentes países lutam por emprego e educação pública de qualidade, mas que tem esses direitos garantidos em casa – demandam justamente a tarefa de aprofundar e levar adiante o trabalho das gerações revolucionárias. “A juventude cubana é herdeira de uma importante história de luta e transformação,” disse, lembrando que os líderes revolucionários eram jovens quando escolheram esse caminho, passando adiante um “caráter rebelde, crítico e internacionalista.”

No mesmo sentido, Roberto Cesar Hamilton, Diretor para América Latina e Caribe do Instituto Cubano de Amizade com os Povos (Icap) indicou linhas gerais de prioridades na solidariedade internacional com Cuba hoje, destacando a importância de fortalecimento das relações entre os movimentos sociais na América Latina para esta agenda. Para isso, outra mesa importante levantou novamente o papel da mídia tanto na sustentada propaganda e guerra de informações contra o processo revolucionário – nas mídias tradicionais internacionais e nas emissoras de Rádio e TV que transmitem ilegalmente através das ondas cubanas – quanto também nos novos espaços possíveis para a solidariedade com o povo cubano, como é o caso da mídia alternativa e das redes sociais.

Como enfatizou no dia anterior a presidenta do Conselho Mundial da Paz e do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), Socorro Gomes, “é preciso ter claro que o imperialismo estadunidense não desviou o olhar da região e impõe novas formas de ameaças que precisam ser denunciadas e combatidas, como é o caso da Quarta Frota lançada aos mares do sul e as mais de 100 bases militares pelos diferentes países”. O destaque vai para a base militar em Guantánamo – assista um trecho da fala de Socorro – transformada em um centro de torturas dos EUA, onde prendem mais de 100 pessoas em contrariedade a inúmeros pontos do direito internacional humanitário, “à revelia da vontade do povo cubano”.

Uma nova data para ações a nível continental foi sugerida pelos participantes para 17 de dezembro, em comemoração pela libertação dos cinco cubanos, mas com o foco voltado para a exigência do fim do bloqueio, ainda travado principalmente pelos republicanos, maioria no Congresso estadunidense – a anulação da lei depende de um ato congressual. Enquanto isso, os movimentos sociais solidários ao povo cubano na sua luta por soberania e pelo fim da ingerência estadunidense seguirão empenhados na denúncia e nas campanhas contra as investidas imperialistas, como registrou a Convenção.