Internacionalismo cubano é uma lição política e moral

Piero Gleijeses se dedica, há mais de vinte anos, à pesquisa sobre a solidariedade internacionalista cubana na África e seu legado para o mapa político do continente. O resultado inicial foi lançado no início deste século, “Missões em conflito: Havana, Washington e África”, publicado em Cuba, em 2002.

Piero Gleijeses

Agora, o escritor italiano, professor e pesquisador da Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos, retorna com outra novidade, a tradução para o espanhol de “Visiones de la libertad: La Habana, Washington, Pretoria y la lucha por el sur de África”.

O livro, em dois volumes, publicado originalmente em 2013 pela editora da Universidade da Carolina do Norte, ganhou o prêmio Friedrich Katz em 2014 da Associação de História Americana, o louro mais importante desta organização.

Mas para Piero, no entanto, o melhor reconhecimento foi o de um leitor que disse: "quando você ler o livro, você terá orgulho de ser cubano e de ser revolucionário e de ser parte desse esforço internacionalista”. Isto foi escrito por Fernando Gonzalez, um dos cinco lutadores antiterroristas cubanos.

De onde vem o seu interesse em investigar as missões internacionalistas cubanas na África?

Em 1976, com a presença de tropas cubanas na Angola comecei a fazer perguntas: o que uma nação tão pequena fazia em um país do outro lado do mundo.

É um empreendimento arriscado, como entender isso no âmbito das relações internacionais, no momento caracterizado pela Guerra Fria. Devo dizer que, na minha juventude, na Itália, Cuba começou a ser uma referência. Então, a partir dos anos setenta, a América Latina tornou-se objeto de minhas investigações históricas e políticas. Em 1978 eu publiquei um ensaio sobre a intervenção americana na República Dominicana que ocorreu em 1965, em seguida, falei sobre a política dos EUA em relação a Guatemala.

Investigando o envolvimento de Cuba na Angola, percebi várias coisas. Primeiro de tudo que o internacionalismo cubano vinha mostrando sua face desde o início dos anos sessenta em outros países africanos. Foi necessário, então, mostrar essas e outras verdades. A coisa mais difícil era ter acesso as fontes. No caso de Cuba, eu consegui, não sem muito trabalho, graças à confiança das autoridades, e ao fato de ter tido desde o início um parceiro importante, Jorge Risquet Valdés.

Qual foi o ponto de partida para Visões de liberdade?

Houve um aspecto que me levou a realizar estes estudos: os meus ensaios sobre Guatemala e República Dominicana contam a história dos movimentos revolucionários frustrados; na África era diferente: era uma contribuição de Cuba para a vitória na luta contra o colonialismo e o racismo.

Como lidou com as fontes documentais para as últimas pesquisas?

Eu consegui documentos cubanos, americanos, soviéticos e, para minha sorte, os sul-africanos. O importante, em qualquer caso, é apresentar provas, evidências. As entrevistas são úteis, mas o documento é insubstituível. Uma vez eu disse para Risquet, “eu acredito na palavra dos cubanos, mas não era o mesmo se as palavras estiverem apoiadas por documentos”. Cuba colocou à minha disposição 14 mil páginas.

Que conclusões gostaria que o leitor chegasse ao ler seu trabalho?

Há um outro exemplo na era moderna, em que um país pequeno, subdesenvolvido mudou o curso da história em uma região distante? O internacionalismo dos cubanos é uma lição política e moral totalmente eficaz.

Seguirá tendo Cuba como campo para suas novas atividades intelectuais?

E de que outra forma seria? Em Cuba tenho cultivado afetos. Minha esposa, Setsuko Ono, deixou seus traços artísticos na ilha. Espero ter a oportunidade de pesquisar e escrever um ensaio de um ponto de vista holístico sobre a política externa da Revolução Cubana.