Porto Alegre: atrasos em obras de mobilidade urbana geram estorvo 

 Em Porto Alegre cada vez mais o direito à cidade torna-se uma pauta consonante com o direito à mobilidade urbana. Garantir o acesso aos serviços públicos como saúde e educação, bem como o lazer e a cultura, o acesso aos locais de trabalho são necessidades fundamentais dos trabalhadores urbanos, pois no dia-a-dia a população precisa se deslocar à escola, ao centro de saúde, ao cinema, ao teatro, ao local de trabalho etc.

O debate sobre a mobilidade urbana versa sobre a garantia das condições necessárias à utilização dos serviços, do direito de em Porto Alegre residir e ela transformá-la, como também sobrepor os obstáculos a essa utilização. Dito isto, é nítido que Porto Alegre tem se tornado uma lugar inviável para sua população. Para além do debate sobre o alto custo do transporte público que ganhou enorme relevância nos últimos anos, o trânsito também tem se tornado um estorvo para todos. O projeto dos centros de bairro, muito discutido em décadas anteriores como um modelo alternativo de desenvolvimento urbano, não foi suficiente para que boa parte dos serviços públicos não se concentrassem na região central de Porto Alegre.
Isto está diretamente relacionado a falta de planejamento urbano a longo prazo e também a forçada gentrificação urbana que a cidade tem vivenciado, onde as áreas mais nobres projetadas a partir da especulação imobiliária têm cada vez mais colocado os grandes empreendimentos comerciais e também de serviços nas áreas centrais ou próximas ao centro. Um bom exemplo foi da ampliação do Hospital de Clínicas onde se privilegiou a facilidade de acesso dos médicos e profissionais de saúde que ali constituirão seus consultórios e clínicas médicas do que da população que muitas vezes precisa se deslocar pela cidade em busca do acesso à saúde.
Os grandes congestionamentos também são situações que dificultam a garantia de acesso a esses direitos essenciais. A população das periferias é dessa forma, mais uma vez prejudicada, já que normalmente são obrigadas a se deslocarem por grandes distâncias para terem seus direitos garantidos e poderem chegar a seus locais de trabalho. Perdem assim tempo, dinheiro e acesso à direitos. Mudar isso tem esbarrado muitas vezes nos interesses econômicos dos grupos sociais que controlam o desenvolvimento dos centros urbanos. As alterações urbanísticas que poderiam compor um novo ambiente urbano que garantisse direitos e a livre fruição humana são oprimidas nos planos que as grandes empreiteiras e construtoras estabelecem para seu crescimento.
Mas o que tem chamado a atenção é que a atual gestão municipal do Prefeito Fortunati/Melo não conseguiu até então apresentar uma solução para o problema da mobilidade urbana. Primeiro o Plano Diretor da cidade que teve forte incidência da especulação imobiliária ao qual esta gestão está comprometida; segundo porque o planejamento viário de Porto Alegre está prejudicado pelos atrasos das obras viárias. A cidade se transformou em 2012 num enorme canteiro de obras, na promessa de que num curto prazo uma enorme revolução urbana ocorreria com os Projetos Viários a partir do legado da Copa do Mundo de 2014. A Copa passou e as obras permaneceram.
Já tramita na Câmara de Vereadores o Plano de Mobilidade Urbana que não foi minimamente discutido com a cidade, o que prova a incapacidade da Prefeitura em promover uma gestão democrática sobre o tema da mobilidade. Uma rápida analisada no portal das obras de mobilidade da Prefeitura de Porto Alegre já denuncia que o problema está na gestão. Das catorze obras previstas 13 estão atrasadas ou inacabadas. Algumas inclusive foram inauguradas sem a finalização como o viaduto e estação de transporte coletivo do Complexo da Rodoviária. Outras estão paralisadas, sem previsão de finalização, por impasses judiciais como a duplicação da Avenida Voluntários da Pátria o que só demonstra que o projeto inicial foi incapaz de prever os gargalos que enfrentariam para a sua concretização. Isso é prova da incompetência da Prefeitura.
Os corredores de ônibus das Avenidas Protásio Alves, Bento Gonçalves, João Pessoa que compõem a chamada "revolução urbana" com a implantação dos Portais da Cidade, que depois mudaram de nome para BRTs não avançam. Aliás, falando em BRT, até hoje a prefeitura não apresentou qual o projeto que será implantado nos corredores da cidade. Segundo o portal da Prefeitura, o projeto ainda está em elaboração. Mas se estavam previstos para 2014, como ainda estão em elaboração?
Um modelo alternativo de mobilidade urbana passa necessariamente por um projeto alternativo de gestão pública. A inoperância das obras de mobilidade de Porto Alegre tem um culpado: o próprio prefeito que foi o fiador perante a população de que a cidade seria transformada a partir da Copa do Mundo de 2014.
Fazer maquiagens, usar de artimanhas publicitárias não funcionará mais uma vez. A cidade de Porto Alegre precisa de uma mudança radical. O direito à cidade passa necessariamente por percebermos os sinais que a sua população emite, seus reclames, suas vontades. Para tal, resgatar o protagonismo do povo para novas soluções é tarefa daqueles que acreditam que Porto Alegre pior não pode ficar.